O senador Aécio Neves (PSDB) afirmou na tarde desta terça-feira que foi “injustiçado” ao ter sido afastado de suas atividades parlamentares. O tucano fez seu primeiro discurso no Senado após ter sido reconduzido ao mandato na última sexta-feira em decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. “Volto com espírito altivo e absoluta serenidade à essa Casa. Meu retorno se dá pela estrita observância à lei, pelos direitos assegurados e pelo que determina a Constituição”, disse.
Em sua fala, o tucano relembrou sua vida pública e momentos importantes de sua trajetória, inclusive à frente do governo de Minas por dois mandatos. "Inicio este pronunciamento dizendo que retorno à tribuna com um conjunto de sentimentos que podem parecer contraditórios, mas retratam a profundidade das marcas que o episódio de afastamento do mandato deixou, não apenas em mim, mas em minha família e em todos aqueles que acompanham meus mais de 30 anos de vida pública", discursou.
Assim como vinha fazendo nas últimas vezes em que se manifestou publicamente sobre a questão, Aécio disse que foi vítima de armação e dedicou duras críticas ao empresário Joesley Batista, da JBS, responsável por gravar ele e a irmã Andrea Neves, em negociação de R$ 2 milhões. Segundo o tucano, o valor seria conseguido com a negociação de um imóvel da família, e o montante usado para custear as despesas com advogados.
O senador mineiro foi denunciado ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no dia 2 deste mês, com base na delação dos empresários do Grupo J&F. O tucano é acusado de corrupção passiva pelo suposto recebimento de R$ 2 milhões em propina da JBS e por obstrução da Justiça por tentar impedir os avanços da Operação Lava-Jato.
Janot também pediu a abertura de um novo inquérito para investigar o crime de lavagem de dinheiro. No total, Aécio responde a nove inquéritos, além desse último pedido: cinco ligados às delações da Odebrecht, dois ligados aos delatores da JBS, e outros dois sobre o esquema de corrupção em Furnas e outro de suspeita de intervenção durante a CPI dos Correios, em 2005.
Trama ardilosa
Segundo Aécio Neves, ele foi vítima de armação, classificada por ele como “trama ardilosa”, feita por Joesley cuja “face delinquente” ainda era desconhecida da opinião pública. O tucano ainda reclamou de ter sido “condenado antecipadamente e massacrado pela opinião pública”.
Procurei, sim, esse cidadão cuja face delinquente o Brasil ainda não conhecia e, por meio de minha irmã, ofereci a ele a compra de um apartamento de propriedade de minha família e que já havia sido oferecido a pelo menos outros quatro empresários brasileiros.
Ele também voltou a dizer que errou. Não por ilícitos, mas por crer no delator. “Eu errei por me deixar envolver nessa trama ardilosa e por permitir que meus familiares servissem de massa de manobra (…). Errei também, mas por isso já me desculpei, por ter usado vocabulário em situação privada que não costumo usar”, afirmou.