Devido à falta de chuvas, os poços tubulares e mananciais que abasteciam Ibiracatu, no Norte de Minas, secaram. A população está sendo atendida em intervalos de três ou quatro dias com a água “buscada” por caminhão-pipa a 50 quilômetros de distância, no município vizinho de São João da Ponte. O sol forte também dizimou plantações, o que elevou o desemprego. Não bastassem essas agruras, os 6.150 moradores de Ibiracatu enfrentam outra angústia: a falta de um prefeito com mandato definitivo. Também não sabem quando será a nova eleição na cidade, uma das 10 em Minas governadas interinamente pelo presidentes da câmara municipal.
“Quando assumi, achei que ficaria dois meses (no cargo). Mas já se passaram mais de seis meses e até hoje nada foi definido”, afirma. “Assumi interinamente, mas com o mesmo espírito como se fosse para quatro anos, administrando os recursos com muita responsabilidade”, pondera o petista.
Por outro lado, ele admite que a interinidade acaba dificultando o trabalho como gestor.
Por causa do agravamento do problema da seca e falta de renda no campo, o prefeito interino recebe diariamente uma legião de pessoas em busca de emprego e de auxílio da prefeitura. Ele é procurado não somente no gabinete na acanhada sede da prefeitura (instalada numa casa antiga), mas na rua mesmo, como testemunhou a reportagem do Estado de Minas na última quarta-feira.
O prefeito interino “atendeu” na rua em frente à prefeitura o agricultor José Neto, o seu Zezinho, de 85 anos, que percorreu a cavalo cinco quilômetros de seu sítio na região da Fazenda Buritis até a cidade para pedir socorro. “Só tenho água para mais alguns dias e não sei como fazer”, disse, explicando que nos últimos meses recorreu a uma cisterna de captação de água da chuva que recebeu de programa federal, mas o volume do reservatório está chegando ao fim. “São cinco anos de seca seguidos. O capim acabou. Nunca vivi uma situação dessa”, lamentou o agricultor.
PREOCUPAÇÃO COLETIVA Diante das incertezas, moradores afirmam que “a cidade parou”. “Parou a educação. Parou a saúde. Tá tudo parado na cidade. Quando chega alguém na prefeitura para cobrar as coisas, alegam que o prefeito não pode resolver porque é interino. A população sofre muito com isso”, lamenta a professora Eliane Pereira dos Santos, de 23.
“Esse negócio de prefeito ‘por enquanto’ é muito ruim. As pessoas vão lá na prefeitura em busca de ajuda e não conseguem nada”, emendou a aposentada Maria Gonçalves Pereira, de 66. O servente de pedreiro Adriano Rutheles Rodrigues Amorim reforça: “Está muito difícil.
Renê Ferreira Miranda, antigo comerciante de Ibiracatu, reconhece que o fato de o candidato mais votado na eleição de 2016 não ter sido empossado “atrapalhou o município”. Mas, acha que o prefeito interino deve continuar no cargo até o fim do mandato de quatro anos. “Não precisa ter mais eleição. Isso custa caro para o município”, opina. Renê tem a concordância do operador de máquina Denildo Antunes Guimarães: “É melhor deixar como está”.
José Amador afirma que a alegação de que “a cidade parou” é coisa espalhada pela oposição. Ele argumenta que mantém a prefeitura em funcionamento com o pagamento dos servidores em dia e que está indo atrás dos governos estadual e federal em busca de recursos para perfuração de poços tubulares e outras ações de combate à seca. Também garante que a educação “funciona perfeitamente” e nega a falta de medicamentos na unidade de saúde.
O prefeito interino disse que “nunca imaginaria” que um dia fosse assumir a chefia do Executivo. Mas gostou da função e admite que pretende concorrer à nova eleição de prefeito. Já Arley Ferreira Lima, que disputou e perdeu o pleito anulado de 2016, representando o grupo de Amador, atualmente, ocupa o cargo de secretário municipal de Planejamento e anunciou que não vai concorrer novamente, devendo declarar apoio ao nome do prefeito interino.
NOVO PARTIDO O ex-prefeito Orivaldo, que administrou a cidade por dois mandatos (2001/2008), venceu a eleição de 2016 com 2.410 votos (contra 1.979 votos de Arley).
Orivaldo se prepara enfrentar novo pleito na cidade. Ele disse que foi vítima de “golpe” da direção do PR e que agora não tem mais problemas porque se filiou ao PP. Argumenta ainda que recorreu à Justiça comum contra a rejeição de suas contas. Sustenta que as contas foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) por “falhas simples” e de “ordem técnica”, que foram sanadas, sem causar danos ao erário. E, nesse caso, caberia à Câmara Municipal a aprovação. “As contas foram reprovadas pelos vereadores por questão política, para inviabilizar minha candidatura novamente. Além disso, para a reprovação, seriam necessários os votos de dois terços dos vereadores, o que não ocorreu”, alega Orivaldo..