No espectro político dos seus clientes, eles estão agora em lados opostos. Desde os tempos da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PCU-SP) e agora em um dos mais rumorosos casos da Lava-Jato eles estão juntos. O advogado de Michel Temer advoga para o advogado de Luiz Inácio Lula da Silva. Antônio Claudio Mariz de Oliveira, defensor do presidente, está fazendo a defesa de Roberto Teixeira, um dos defensores do ex-presidente, no inquérito do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).
Tanto o renomado criminalista quanto Teixeira evitaram falar sobre o assunto. “Nada a declarar. Só quero lembrar o seguinte, o Mariz é meu colega de turma, somos da turma de 1969 da PUC. Fomos formados juntos. Aliás, ele e a esposa dele. Ele é casado com uma colega de turma. A relação é muito grande de longa data”, disse.
Mariz e Teixeira estão afinados em outro grupo: a dos juristas críticos ao que chamam de abusos da Lava Jato às garantias individuais e ao direito de defesa.
O escritório Teixeira, Martins & Advogados, do amigo e compadre de Lula, é um centro de defesa do ex-presidente e combate ao juiz federal Sérgio Moro - que na semana passada condenou o petista a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). A sentença foi tachada de “perseguição política” pelos advogados de Lula.
Mariz, por sua vez, é um crítico contundente da atuação do Ministério Público Federal. Na defesa do amigo Temer - denunciado por corrupção passiva com base na delação dos acionistas do Grupo J&F -, o advogado tem acusado a Procuradoria-Geral da República de “extrapolar” suas prerrogativas.
Na quinta-feira passada, o advogado do presidente usou a sustentação na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara para apontar uma “cultura punitiva” no País. Fez ali um ataque indireto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e um apelo a políticos contra “o avanço indevido do Ministério Público”. “Pau que mata Chico mata Francisco. Pau que mata Michel mata Lula.”
Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ex-secretário da Justiça e de Segurança em São Paulo, o criminalista foi um dos protagonistas de um evento no restaurante A Figueira Rubaiyat, nos Jardins, que reuniu também os advogados de Lula, Dilma Rousseff e Aécio Neves.
O jantar foi convocado como ato em desagravo aos defensores do ex-presidente petista. Mariz puxou a fila das críticas a Moro, sem citar o titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba. “Esse homem, que deve ter suas qualidades, tem defeitos como magistrado incompatíveis com a magistratura. Falta-lhe algo que se chama imparcialidade.”
Denúncia
Moro ainda não decidiu se aceita ou não a denúncia da Procuradoria da República. Teixeira foi acusado formalmente, com o ex-presidente, os empreiteiros Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, da OAS, entre outros denunciados. Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema na Petrobrás.
A força-tarefa em Curitiba reuniu elementos que considera provas de que Schahin, Odebrecht e OAS pagaram R$ 1,02 milhão em reformas do sítio, em contrapartida a contratos da estatal. Lula nega ser o dono do imóvel, registrado em nome de dois sócios dos filhos do petista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Fabio Leite e Ricardo Brandt, enviado especial)