A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira antecipou as análises de cenários dos partidos para as eleições de 2018.
Esquerda e direita, embora em plena articulação de bastidores, se esquivam de apontar saídas seguras para o próximo pleito de 2018.
As controvérsias que envolvem os atuais líderes da pesquisa – o próprio Lula e deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) – podem abrir caminho para nomes novos, que ainda poderão surgir na complicada disputa à Presidência.
A possibilidade de Lula não participar da corrida dá fôlego aos outros partidos, que começam a costurar nomes que possam ter força para, mas gera dúvidas no PT. O desafio do partido, se o principal representante, de fato, se tornar inelegível, é encontrar um nome para entrar na disputa.
O discurso da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), é que não há plano B, mas isso deve ser desconstruído ao longo dos próximos meses, acredita o coordenador de análise política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal.
Caso o PT pretenda se manter entre as opções, ele precisa de tempo hábil para construir um candidato alternativo a tempo de conquistar apoios. “Se Lula sair da disputa, o PT terá que fazer o que já devia ter começado há algum tempo: pensar em uma alternativa. Mas dificilmente fará isso de forma pública”, pondera Vidal.
Nesse cenário, entra o nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, muito cotado por analistas e parlamentares, mas ainda uma dúvida no partido. Na capital paulista, Haddad foi eleito em 2012, mas ficou de fora do segundo turno em 2016.
Petistas citam ainda o ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, e Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul. Outro nome que tem sido citado nos bastidores para representar a esquerda, embora de forma mais tímida, é Jaques Wagner, que foi governador da Bahia e ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff.
“O PT não tem um candidato a nível nacional que seja trabalhável. Dificilmente Lula conseguirá passar para esses candidatos os votos que seriam para ele. Seria uma participação simbólica”, pontuou Vidal. “No fundo, a campanha vai ser em torno Lula sendo transferidor de votos. O PT indicará um candidato com boa condição de desempenho, mas que talvez não chegue nem ao segundo turno. Ele conseguiu eleger Dilma no auge do sucesso, mas, da segunda vez, já foi difícil”, avaliou o advogado Murillo de Aragão, cientista político da Arko Advice Pesquisas.
A outra opção do PT, caso Lula não possa se candidatar e o partido não queira um novo nome, é apoiar outro candidato da esquerda, como Ciro Gomes, opção mais forte do PDT, e montar uma coalizão de centro-esquerda. Mas o mais provável é que o PT busque um nome próprio, acredita Aragão. “É um partido muito hegemônico. Dificilmente aceitaria apoiar um candidato de fora, salvo uma crise”, comentou o especialista. Na avaliação de Vidal, se Lula não perder os direitos políticos, dificilmente Ciro será candidato, porque isso dividiria os votos da esquerda. “Provavelmente, ele seria candidato a vice ou algo assim. É difícil disputarem a mesma base de votos, porque seria ruim para os dois.”
Vidal lembra que a eleição do ano que vem será de “renovação”. “Qualquer figura política associada ao atual governo dificilmente terá chances de se reeleger, seja deputado, governador ou presidente. Isso abre espaço para os partidos que não estão colados a este governo, sobretudo os mais novos”, disse Vidal.
O deputado Major Olímpio (SD-SP) também se diz descrente de vencedores que sejam conhecidos, na atual conjuntura. “Acho muito precoce qualquer discussão sobre 2018. Talvez quem vá disputar, ganhe a eleição por W.O. Acho que os brancos e nulos é que terão maioria”, disse. O deputado apostou em novos nomes, como Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e, quem sabe, o apresentador Luciano Hulk. “Seja quem for, terá uma chance enorme. O pior cenário são os atuais. Seria o ruim contra o pior”, declarou o deputado.
Nesse núcleo de “renovação”, também entram candidatos de centro-direita, como João Doria, atual prefeito de São Paulo e um dos nomes mais cotados para disputar a presidência pelo PSDB em 2018. O tucano, no entanto, é uma opção muito mais viável caso Lula não seja impedido de ser candidato, avalia Vidal. Ele é visto como uma figura “anti-Lula”, mas não como um candidato individualmente forte, a não ser que tenha amplo apoio do PMDB e do DEM. “Ele teria chances, porque assim teria uma força partidária boa. Essa é a equação: candidato forte com estrutura forte”, disse Aragão.
A outra opção do PSDB seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que, no entanto, pouco tem a ver com renovação. Ele disputou as eleições presidenciais de 2006 e perdeu, mas continua com nome forte dentro do partido, especialmente entre os integrantes mais antigos. “Hoje, ele é a opção mais viável do partido. Se o PT começar a discutir publicamente uma alternativa a Lula, o Doria não seria o candidato ideal. Já o Alckmin tem agido, está se movimentando para barrar a oposição interna”, argumentou Vidal. O deputado Major Olímpio destacou que as apostas do PSDB ou estão envolvidas em escândalos, ou sendo processadas. Doria está limpo, mas vai ter que lutar contra o próprio criador (Alckmin). “Para Lula, é questão de andamento do processo. Tem que ser preso. Bolsonaro tem 15% ou 25% do eleitorado. Não chega a 50% mais um dos votos. Marina Silva também não passa dos 20%”, pontuou.
Para os eleitores e aliados de Bolsonaro, a vitória é certa se Lula não for preso. Torcem, inclusive, para que o líder do PT só seja condenado após o pleito de 2018. A situação para o militar só se complicaria se outros entrarem na disputa. Para o deputado Capitão Augusto (PR-SP), que circula de farda pela Câmara, a sociedade não terá dúvidas em tirar o ex-presidente da República. “Com Lula, Bolsonaro vai para o segundo turno e ganha. Ele leva vantagem pela rejeição do oponente”, disse. O Delegado Éder Mauro (PSB-PA) lembrou que Bolsonaro já encostou em Lula na corrida presidencial. “Lula só tem os 30% da esquerda. Pelo Brasil, perdeu força. Ao contrário do Jair que está crescendo. A única coisa que precisamos é que todos os outros partidos venham a se unir a nós. Bolsonaro ainda não tem coligações”, disse.
DEM quer Rodrigo Maia como cabeça de chapa
Mesmo se o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) vier a ser presidente este ano, por ser o sucessor legal caso Michel Temer seja retirado da Presidência da República, ainda há dúvidas se ele teria capacidade de ser reeleito. “Ele estando no poder sempre tem o mínimo de chance, porque está com a caneta na mão, mas na atual conjuntura acho bem difícil que se reeleja. Ele não é conhecido por ter muitos votos”, disse Vidal. Maia é um deputado com recall eleitoral baixo, teve 53 mil votos em 2014. Além disso, a tendência é que, se ele chegar à Presidência da República, será com o apoio do PSDB e dos outros partidos da base governista atual. Sem esse mesmo pano de fundo, ele não teria chances em eleições diretas.
A melhor opção do DEM, nesse caso, seria apoiar o candidato tucano. O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), diz que ainda é cedo para o partido indicar um nome. “Primeiro temos que regularizar a situação dentro do país, a eleição de 2018 vem depois. Existem mil variáveis que precisam ser levadas em conta. Imaginar que o DEM tem um candidato agora é prematuro”, afirmou. Segundo ele, é “muito provável que o DEM, como já vem fazendo, se articule com vários partidos de centro como forma de encontrar uma candidatura”. Essas conversas já estão em andamento com PSB e PR, por exemplo. “Seguramente, o DEM haverá de montar articulações com partidos de centro para tentar encontrar um nome de consenso”, declarou Agripino.
Já o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), defende publicamente que o partido lance seu próprio candidato. “Não temos vocação para ser reboque de ninguém”, declarou. Além de Rodrigo Maia, ele cita entre as opções o senador Ronaldo Caiado (GO) e o atual prefeito de Salvador, ACM Neto. “Acredito que Lula não participará das eleições. Mas o DEM, em qualquer cenário, tem potencial. O partido se viabilizou como alternativa. A maior chance é que ele tenha mesmo um candidato, diferentemente dos anos anteriores. Queremos ser cabeça de chapa. Foi uma construção feita durante todos esses anos e agora estamos preparados para isso”, disse Efraim, que define Maia como uma “boa opção, coerente e que cresceu muito no comando da Câmara”. (AA e VB)
Esquerda e direita, embora em plena articulação de bastidores, se esquivam de apontar saídas seguras para o próximo pleito de 2018.
As controvérsias que envolvem os atuais líderes da pesquisa – o próprio Lula e deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) – podem abrir caminho para nomes novos, que ainda poderão surgir na complicada disputa à Presidência.
A possibilidade de Lula não participar da corrida dá fôlego aos outros partidos, que começam a costurar nomes que possam ter força para, mas gera dúvidas no PT. O desafio do partido, se o principal representante, de fato, se tornar inelegível, é encontrar um nome para entrar na disputa.
O discurso da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), é que não há plano B, mas isso deve ser desconstruído ao longo dos próximos meses, acredita o coordenador de análise política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal.
Caso o PT pretenda se manter entre as opções, ele precisa de tempo hábil para construir um candidato alternativo a tempo de conquistar apoios. “Se Lula sair da disputa, o PT terá que fazer o que já devia ter começado há algum tempo: pensar em uma alternativa. Mas dificilmente fará isso de forma pública”, pondera Vidal.
Nesse cenário, entra o nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, muito cotado por analistas e parlamentares, mas ainda uma dúvida no partido. Na capital paulista, Haddad foi eleito em 2012, mas ficou de fora do segundo turno em 2016.
Petistas citam ainda o ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, e Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul. Outro nome que tem sido citado nos bastidores para representar a esquerda, embora de forma mais tímida, é Jaques Wagner, que foi governador da Bahia e ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff.
“O PT não tem um candidato a nível nacional que seja trabalhável. Dificilmente Lula conseguirá passar para esses candidatos os votos que seriam para ele. Seria uma participação simbólica”, pontuou Vidal. “No fundo, a campanha vai ser em torno Lula sendo transferidor de votos. O PT indicará um candidato com boa condição de desempenho, mas que talvez não chegue nem ao segundo turno. Ele conseguiu eleger Dilma no auge do sucesso, mas, da segunda vez, já foi difícil”, avaliou o advogado Murillo de Aragão, cientista político da Arko Advice Pesquisas.
A outra opção do PT, caso Lula não possa se candidatar e o partido não queira um novo nome, é apoiar outro candidato da esquerda, como Ciro Gomes, opção mais forte do PDT, e montar uma coalizão de centro-esquerda. Mas o mais provável é que o PT busque um nome próprio, acredita Aragão. “É um partido muito hegemônico. Dificilmente aceitaria apoiar um candidato de fora, salvo uma crise”, comentou o especialista. Na avaliação de Vidal, se Lula não perder os direitos políticos, dificilmente Ciro será candidato, porque isso dividiria os votos da esquerda. “Provavelmente, ele seria candidato a vice ou algo assim. É difícil disputarem a mesma base de votos, porque seria ruim para os dois.”
Renovação
Vidal lembra que a eleição do ano que vem será de “renovação”. “Qualquer figura política associada ao atual governo dificilmente terá chances de se reeleger, seja deputado, governador ou presidente. Isso abre espaço para os partidos que não estão colados a este governo, sobretudo os mais novos”, disse Vidal.
O deputado Major Olímpio (SD-SP) também se diz descrente de vencedores que sejam conhecidos, na atual conjuntura. “Acho muito precoce qualquer discussão sobre 2018. Talvez quem vá disputar, ganhe a eleição por W.O. Acho que os brancos e nulos é que terão maioria”, disse. O deputado apostou em novos nomes, como Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e, quem sabe, o apresentador Luciano Hulk. “Seja quem for, terá uma chance enorme. O pior cenário são os atuais. Seria o ruim contra o pior”, declarou o deputado.
Nesse núcleo de “renovação”, também entram candidatos de centro-direita, como João Doria, atual prefeito de São Paulo e um dos nomes mais cotados para disputar a presidência pelo PSDB em 2018. O tucano, no entanto, é uma opção muito mais viável caso Lula não seja impedido de ser candidato, avalia Vidal. Ele é visto como uma figura “anti-Lula”, mas não como um candidato individualmente forte, a não ser que tenha amplo apoio do PMDB e do DEM. “Ele teria chances, porque assim teria uma força partidária boa. Essa é a equação: candidato forte com estrutura forte”, disse Aragão.
A outra opção do PSDB seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que, no entanto, pouco tem a ver com renovação. Ele disputou as eleições presidenciais de 2006 e perdeu, mas continua com nome forte dentro do partido, especialmente entre os integrantes mais antigos. “Hoje, ele é a opção mais viável do partido. Se o PT começar a discutir publicamente uma alternativa a Lula, o Doria não seria o candidato ideal. Já o Alckmin tem agido, está se movimentando para barrar a oposição interna”, argumentou Vidal. O deputado Major Olímpio destacou que as apostas do PSDB ou estão envolvidas em escândalos, ou sendo processadas. Doria está limpo, mas vai ter que lutar contra o próprio criador (Alckmin). “Para Lula, é questão de andamento do processo. Tem que ser preso. Bolsonaro tem 15% ou 25% do eleitorado. Não chega a 50% mais um dos votos. Marina Silva também não passa dos 20%”, pontuou.
Para os eleitores e aliados de Bolsonaro, a vitória é certa se Lula não for preso. Torcem, inclusive, para que o líder do PT só seja condenado após o pleito de 2018. A situação para o militar só se complicaria se outros entrarem na disputa. Para o deputado Capitão Augusto (PR-SP), que circula de farda pela Câmara, a sociedade não terá dúvidas em tirar o ex-presidente da República. “Com Lula, Bolsonaro vai para o segundo turno e ganha. Ele leva vantagem pela rejeição do oponente”, disse. O Delegado Éder Mauro (PSB-PA) lembrou que Bolsonaro já encostou em Lula na corrida presidencial. “Lula só tem os 30% da esquerda. Pelo Brasil, perdeu força. Ao contrário do Jair que está crescendo. A única coisa que precisamos é que todos os outros partidos venham a se unir a nós. Bolsonaro ainda não tem coligações”, disse.
DEM quer Rodrigo Maia como cabeça de chapa
Mesmo se o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) vier a ser presidente este ano, por ser o sucessor legal caso Michel Temer seja retirado da Presidência da República, ainda há dúvidas se ele teria capacidade de ser reeleito. “Ele estando no poder sempre tem o mínimo de chance, porque está com a caneta na mão, mas na atual conjuntura acho bem difícil que se reeleja. Ele não é conhecido por ter muitos votos”, disse Vidal. Maia é um deputado com recall eleitoral baixo, teve 53 mil votos em 2014. Além disso, a tendência é que, se ele chegar à Presidência da República, será com o apoio do PSDB e dos outros partidos da base governista atual. Sem esse mesmo pano de fundo, ele não teria chances em eleições diretas.
A melhor opção do DEM, nesse caso, seria apoiar o candidato tucano. O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), diz que ainda é cedo para o partido indicar um nome. “Primeiro temos que regularizar a situação dentro do país, a eleição de 2018 vem depois. Existem mil variáveis que precisam ser levadas em conta. Imaginar que o DEM tem um candidato agora é prematuro”, afirmou. Segundo ele, é “muito provável que o DEM, como já vem fazendo, se articule com vários partidos de centro como forma de encontrar uma candidatura”. Essas conversas já estão em andamento com PSB e PR, por exemplo. “Seguramente, o DEM haverá de montar articulações com partidos de centro para tentar encontrar um nome de consenso”, declarou Agripino.
Já o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), defende publicamente que o partido lance seu próprio candidato. “Não temos vocação para ser reboque de ninguém”, declarou. Além de Rodrigo Maia, ele cita entre as opções o senador Ronaldo Caiado (GO) e o atual prefeito de Salvador, ACM Neto. “Acredito que Lula não participará das eleições. Mas o DEM, em qualquer cenário, tem potencial. O partido se viabilizou como alternativa. A maior chance é que ele tenha mesmo um candidato, diferentemente dos anos anteriores. Queremos ser cabeça de chapa. Foi uma construção feita durante todos esses anos e agora estamos preparados para isso”, disse Efraim, que define Maia como uma “boa opção, coerente e que cresceu muito no comando da Câmara”. (AA e VB)