O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, preso nesta quinta-feira, 27, recolheu imposto de renda sobre a propina de R$ 3 milhões que recebeu da empreiteira Odebrecht para tentar despistar a Lava Jato. A estratégia, segundo os investigadores, era dar um caráter formal a uma suposta consultoria prestada por ele e pelo publicitário André Gustavo Vieira, apontado como seu operador financeiro.
Inicialmente, segundo a Operação Cobra, fase 42 da Lava-Jato, Bendine exigiu R$ 17 milhões da Odebrecht. Nessa época, o executivo ocupava a presidência do Banco do Brasil e a Odebrecht Agro tinha interesse em rolar uma dívida com o banco. Marcelo Odebrecht, porém, decidiu não ceder à pressão de Bendine.
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Eles contaram que em 6 de fevereiro de 2015, antes de sua nomeação na Petrobras, Bendine reiterou o pedido, por meio do operador.
Naquela ocasião, a Lava-Jato já estava em pleno vapor, alcançando as diretorias estratégicas da Petrobras. Bendine, então, avisou que de uma forma ou outra poderia prejudicar a Odebrecht.
"A partir daí a Odebrecht avaliou que realmente poderia ser prejudicada e optou por pagar a propina", informou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.
O dinheiro foi pago pelo Setor de Operações Estruturadas, o famoso departamento de propinas da Odebrecht que abasteceu centenas de políticos e gestores públicos.
Intimidado, Marcelo Odebrecht - que seria preso quatro meses depois, em junho de 2015, na Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava-Jato - decidiu pagar os R$ 3 milhões, em três parcelas de R$ 1 milhão cada.
As investigações confirmaram encontros e reuniões de Bendine em São Paulo para tratar da propina.
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) homologar a delação premiada do empreiteiro e do executivo Fernando Reis, o ex-presidente da Petrobras resolveu, então, pagar imposto de renda sobre o montante embolsado. Alegou ter realizado consultoria.
"Após a colaboração de Odebrecht ter sido publicizada pelo Supremo Tribunal Federal, o operador financeiro André Gustavo Vieira, em conluio com Bendine, resolveu recolher impostos sobre a suposta consultoria que havia sido prestada em 2015", destacou o procurador Athayde Costa. "Dessa consultoria não houve contrato, nem justificativa do motivo da redução de 17 milhões para 3 milhões realmente pagos. Além disso, não fazia qualquer sentido qualquer recolhimento de impostos em 2017."
O procurador disse que o Ministério Público Federal considera o recolhimento dos impostos por parte de Bendine como tentativa de ocultar e dissimular a origem criminosa de valores para ludibriar a Justiça.
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