Michel Temer conseguiu reverter, em pouco mais de dois meses, uma situação de crise aguda - momento em que sua renúncia chegou a ser cogitada - para uma expectativa de vitória, nesta semana, quando a denúncia por corrupção passiva apresentada contra ele poderá ser votada na Câmara. O presidente recebeu mais de 160 deputados e senadores, acelerou emendas parlamentares, lançou “pacotes de bondades”, manteve como aliado Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu eventual sucessor, e se beneficiou das “ruas vazias”.
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'Voto na estabilidade do país', diz deputado Fábio Ramalho sobre denúncia contra TemerTemer deixa São Paulo retorna para BrasíliaCâmara veta público nas galerias para votação da denúncia contra TemerOposição traça estratégia para abrir processo e investigar TemerSemana decisiva para Temer, que está nas mãos dos deputadosAntes de reunião com aliados, Temer sobrevoará comunidades do RioDesde 17 de maio, quando veio à tona o conteúdo da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, o presidente recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto 133 deputados federais e 30 senadores. Após a denúncia chegar à Câmara em 29 de junho, Temer iniciou uma verdadeira “blitze política” para receber deputados e convencê-los a votar contra a abertura de investigação no Supremo Tribunal Federal. Em um único dia, o presidente recebeu 30 parlamentares.
Nas conversas, além de rebater as acusações de Janot - para quem o presidente era o beneficiário da mala com R$ 500 mil com a qual foi filmado seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) -, Temer apresentou sua versão dos fatos. O presidente também usou o argumento de que, se nem mesmo ele está seguro contra o avanço da Operação Lava Jato, imagine como ficaria o destino dos parlamentares que também são alvo de investigações.
O Planalto pressionou os partidos aliados a fechar questão contra a denúncia e a trocar 15 integrantes na Comissão de Constituição e Justiça para derrotar o parecer do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e garantir um relatório favorável ao peemedebista, que foi assinado pelo deputado Paulo Abi-Alckel - da ala pró-governo do PSDB.
O peemedebista atendeu a interesses da base, como a liberação de R$ 4,1 bilhões em emendas parlamentares apenas em junho e julho - o equivalente a 97% do total liberado o ano inteiro -, e direcionou o foco do Executivo para projetos destinados às prefeituras, como o programa de regularização fundiária. A pouco mais de um ano das eleições de 2018, a oferta de recursos para obras em municípios tem como objetivo ajudar deputados e senadores a colher dividendos em suas bases eleitorais.
‘Lealdade’ - A mobilização de Temer conseguiu até mesmo conter a “solução Maia”, que passou a ser cotado para o Planalto e fez movimentos que foram vistos como uma tentativa para se cacifar para o cargo.
“Eu cumpri o meu papel de presidente da Câmara, não sendo o condutor nem a favor nem contra esse processo. Do ponto de vista pessoal, eu mantive a lealdade ao governo do qual eu e o meu partido fazemos parte”, disse Maia ao Estado.
Outro ponto que beneficiou Temer foi a falta de “gente na rua”, isto é, de protestos significativos pedindo por sua saída. Aliados do peemedebista admitem que ele não aguentaria a pressão de “um milhão de pessoas na Avenida Paulista”, em referência aos atos que culminaram no impeachment de Dilma Rousseff.
Com o cenário provável de vitória, a expectativa do governo é de que as reformas - mote da gestão Temer - voltem à pauta do Congresso. No entanto, uma nova denúncia contra o presidente, com a acusação de obstrução da Justiça e organização criminosa, deve ser apresentada por Janot, que vai deixar o comando do Ministério Público Federal no dia 17 de setembro. Novas delações também podem voltar a conturbar o ambiente político.
Na Câmara, a defesa de Temer atacou o “açodamento” do MPF e sustentou que não há provas de corrupção passiva. Questionou ainda a autenticidade do áudio gravado por Joesley.
Com aprovação de apenas 5%, segundo a mais recente pesquisa Ibope, o presidente aposta na intensa ação política para se manter no cargo. As informações são do jornal O Estado de S.
(Isadora Peron e Carla Araújo).