São Paulo - A votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) terminou com 44% da Câmara - 227 deputados - contrária ao arquivamento do processo. Se não foi o bastante para fazer do peemedebista réu numa ação por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF), o número é mais do que suficiente para derrubar propostas de emenda constitucional, como a da reforma da Previdência.
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Ele avalia que o resultado desta quarta-feira indica que Temer, salvo novo escândalo, tem capital político para derrubar uma nova denúncia a ser apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Garman considera, porém, que a reforma da Previdência, uma medida de alto custo político para os parlamentares, só tem condições de passar pelo Congresso numa versão mais enxuta do que a defendida pelo Executivo. "Talvez o que pode passar pelo Congresso será a adoção da idade mínima e da regra de transição", comentou.
O analista político da XP Investimentos, Richard Back, tem uma visão parecida e considera que o sucesso das reformas estará condicionado à habilidade de Temer em reconstruir a coalizão partidária que vinha dando sustentação a seu governo até meados de maio, antes de estourar a delação da JBS com acusações contra Temer. "O governo tem de virar a página, reconstruir a base e voltar à condição que tinha até maio", avaliou o analista político.
Ainda que a rejeição da denúncia mostre resistência do governo, o cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) Claudio Couto avaliou que o placar da votação sugere que a capacidade do Planalto em aprovar pautas mais polêmicas foi prejudicada pela crise política.
O analista nota que a contagem dos votos favoráveis ao peemedebista, de 263 parlamentares, ficou um pouco acima dos 257 votos (maioria simples) necessários para aprovar apenas leis complementares. "Pensando na reforma da Previdência, a obtenção de 308 votos (o necessário para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional) seria uma demonstração importante, de que o governo não apenas se salvou, mas que ainda tem força suficiente para aprovar coisas importantes", ponderou. "A votação de hoje mostrou que não". (Ricardo Leopoldo, correspondente; Eduardo Laguna e Marcelo Osakabe - ricardo.leopoldo@estadao.com; eduardo.laguna@estadao.com e marcelo.osakabe@estadao.com).