Brasília e São Paulo - A suspensão do prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara teve o apoio maciço dos deputados que, há um ano e três meses, autorizaram o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência. Dos 263 votos contra o andamento do processo contra o peemedebista nesta quarta-feira, 2, 80,2% foram de parlamentares que apoiaram o impeachment.
Leia Mais
Temer garantiu apoio de 2/3 da baseCentrão cobra punição a 'infiéis' da baseDeputado que tatuou Temer no ombro direito, agora pede nudeRuas ficam esvaziadas durante a votação de denúncia contra Temer'Repugnante', diz Marina Silva sobre rejeição da denúncia contra TemerO placar contra o peemedebista, de 227 votos, foi maior do que Dilma conseguiu arregimentar para tentar barrar o seu impeachment. Dos favoráveis à denúncia, 101 votaram contra o afastamento da petista no ano passado.
Houve ainda um pequeno grupo, de 23 deputados, que foi governista nas duas votações: favorável tanto a Dilma - contra o impeachment - quanto a Temer. O deputado Zeca Cavalcanti (PTB-PE) foi um deles.
"Não mudei de lado", disse Cavalcanti. "Não me arrependo de ter votado contra o impeachment. O meu voto sobre a denúncia foi pelo momento que o País passa, pois não acho que uma nova troca de governo, com uma interinidade, vá ajudar.
Outro que votou contra o impeachment e agora contra a denúncia foi o ministro dos Esportes, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), exonerado na quarta para engrossar os votos pró-Temer na Câmara. Na época do processo contra Dilma, Picciani era líder do PMDB e um dos principais defensores da então presidente no partido.
Discursos
O tema do impeachment esteve presente em grande parte dos discursos de deputados que justificavam seus votos. A maioria pedindo "coerência" ao cobrar voto pelo andamento da denúncia contra o presidente.
"Nem Dilma, nem Temer e nem (Rodrigo) Maia (presidente da Câmara). São denúncias graves. Não dá para esconder o sol com a peneira", afirmou Pompeo de Mattos (PDT-RS), a favor do impeachment e a favor da denúncia.
"Esta casa retirou uma presidente sem crime e agora barra uma investigação em que tem impressões digitais do crime", afirmou o petista Luiz Sérgio (RJ), ao microfone.
A comparação entre as duas votações na Câmara no período também explicitou a divisão dos dois principais partidos que faziam oposição a Dilma. Enquanto PSDB e DEM foram unânimes na votação do impeachment, ficaram rachados na análise sobre Temer.
No PSDB, 22 dos 47 votaram pela suspensão do prosseguimento da denúncia, enquanto 21 foram contra.
O PMDB, partido de Temer votou a favor dele de forma massiva tanto no ano passado quanto agora. Na época do impeachment, apenas 10% dos peemedebistas da Câmara apoiaram Dilma - assim, a bancada abriu caminho para que o então vice-presidente assumisse o comando do Palácio do Planalto. Na quarta-feira, 84% dos integrantes do partido ajudaram o presidente a derrubar a ameaça de prosseguimento da denúncia por corrupção passiva.
Oposição
O PT votou de forma fechada, nas duas ocasiões: 100% de votos a favor de Dilma e zero votos pró-Temer. Esse mesmo comportamento foi exibido pelos parlamentares do PC do B e do PSOL.
Na sessão de ontem, nenhum partido deu 100% de seus votos a Temer - as exceções foram os nanicos PSL e o PEN, cujas bancadas só têm três integrantes. .