Em 2012, em um palanque montado na praça central do município de Ponta das Pedras, no Pará, o deputado Wladimir Costa, na época filiado ao PMDB, afirmou que a população brasileira não merecia mais ser representada por políticos “suspeitos de corrupção”, “investigados” e “fichas-sujas”. Cinco anos depois, durante a sessão em que era decidido se as investigações de corrupção envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB) deveriam continuar, sua atitude mudou completamente. Ao votar pelo arquivamento da denúncia, ele disparou contra os institutos de pesquisa que apontam para a forte rejeição do presidente: “Abaixo o Ibope, que é ridículo e mentiroso. Abaixo o Datafolha. Temer é um homem preparado, honesto e transparente”, bradou o parlamentar, agora no partido Solidariedade.
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Segurança pública é prioridade na pauta de votação dos deputadosVoto que vale mais do que mil palavrasPartidos retomam debate sobre o parlamentarismo no Brasil Após vitória na Câmara, Temer quer retomar viagens pelo paísMoro foi 'irretocável' sobre Lula, diz presidente do TRFNa campanha de 2012, quando apoiou candidatos a prefeito em seu estado, o parlamentar elogiou a então presidente Dilma Rousseff (PT) pela construção de casas populares no Pará. Cinco anos depois, se tornou ferrenho crítico da petista e, enrolado na bandeira do Pará, protagonizou um dos momentos mais bizarros da votação que abriu o processo de impeachment de Dilma ao estourar um lança-confetes no meio do Plenário.
Aos 53 anos, o paraense está em seu quarto mandato na Câmara e foi o sexto deputado mais votado entre os 17 da bancada do Pará: 141.213 votos.
O (in)fiel de Cunha
No ano passado, o excêntrico parlamentar surpreendeu todos durante a votação do afastamento do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) no Conselho de Ética da Câmara. Por quatro meses, Wladimir atuou como principal defensor de Cunha, que era julgado por quebra de decoro ao mentir sobre ter dinheiro em contas no exterior.
“Se tentam aqui condenar o Eduardo por ser usufrutuário, ou coisa parecida, de um truste será preciso mudar a legislação. Porque nada prova que isso é crime. Não sei se ele mentiu na CPI. Não se pode consolidar seu comportamento como mentira”, afirmou Wlad. Ele protagonizou bate-bocas e xingamentos contra o grupo que queria a cassação de Cunha.
No entanto, no dia da votação, em junho de 2016, pegou todos de surpresa – até o próprio Eduardo Cunha, que se mostrava muito confiante em sua absolvição. Sério, sem a expansividade que lhe é comum, Wladimir lembrou da amizade por 13 anos com Cunha, mas votou pela cassação: “O deputado terá oportunidade de se defender e outros colegas terão oportunidade de votar com ele. Não quero frustrar meu partido e acompanho o relator”. Por 11 votos a 9, o conselho recomendou a cassação de Cunha, que continua preso até hoje em Curitiba.
Ausências e denúncias
Apesar das performances marcantes em votações importantes, Wlad não é um parlamentar assíduo nas sessões ordinárias da Câmara. Nas últimas três legislaturas ele ficou entre os mais faltosos, segundo levantamento do site Congresso em Foco. Na atual legislatura ele faltou a 70% das 174 sessões deliberativas entre o início de 2015 e o segundo semestre do ano passado. A maioria das faltas foi justificada como licença médica. Outras 24 não têm justificativa.
O parlamentar é alvo de quatro ações por crimes contra a honra, como calúnia e difamação.
“Temerofobia”
Desde que a denúncia elaborada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer chegou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Wladimir se destacou como principal defensor do presidente. Até criou uma espécie de diagnóstico médico para classificar os parlamentares da oposição.
“Muitos que fazem papel de oposição estão com o problema de ‘Temerofobia’. Esse problema ataca só deputados de baixa qualidade moral. O Temer homofóbico (sic) é movido a ódio e possui aversão a políticos honestos e éticos como o presidente da República”, afirmou Wladimir, apontando o dedo para outros parlamentares. Quando chamou o relator da denúncia na comissão, deputado Sérgio Zveiter, de “burro” e “desqualificado”, o clima azedou de vez e houve confusão generalizada.
Em outro discurso inflamado na CCJ, sobrou até para artistas que fizeram campanha na internet pedindo para que os deputados permitissem as investigações contra Temer. “Esses artistas são da quadrilha que roubou a Lei Rouanet. Ali está o Luan Santana, que ganhou R$ 5 milhões.
A defesa ferrenha de Temer – que o ajudou a liberar R$ 6,7 milhões por meio de emendas parlamentares – tem custado caro para Wladimir nas redes sociais, em que passou a receber mensagens de todo o país com críticas à sua atuação. Mas o deputado não parece estar muito preocupado com os ataques de eleitores. Após se encontrar com Temer horas depois de a denúncia ser arquivada, ele postou nas redes sociais um desabafo: “Falem bem, falem mal, mas falem de mim. Quem não é visto, não é lembrado. Os comentários só me rendem visibilidade nacional e até internacional”.
Desde quinta-feira, o deputado retornou ao seu estado. Segundo sua assessoria de imprensa, a demanda por entrevistas e gravações tem sido “exorbitante” e conversar com Wladimir sem agendar entrevista “se tornou impossível”. O parlamentar não atendeu às ligações da reportagem.
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