Hoje é dia de um resgate de ideias, de recuperação de um exemplo. Há 20 anos, às 21h10 de uma noite de sábado, o Brasil perdeu Herbert de Souza, o Betinho, um sociólogo que dedicou a vida à defesa do interesse coletivo, à luta pela ética na política e contra a fome e a miséria.
O contexto da sociedade brasileira — com 14 milhões de desempregados, avanço da pobreza e redução nos gastos públicos com saúde, educação e segurança — faz pensar em como seriam os dias atuais sem essa ausência.
No mês passado, 20 instituições da sociedade civil apresentaram o relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. O documento analisa o desempenho do Brasil para o cumprimento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), mas trouxe alerta sobre o risco de o país voltar a constar no próximo Mapa da Fome.
Esse levantamento — feito pela instituição da ONU que lida com a agricultura e a alimentação, a FAO — indica em quais nações mais de 5% da população ingerem diariamente menos calorias que o recomendado. O combate à fome era bandeira de Betinho.
Só em 2014, o Brasil desapareceu do Mapa da Fome. Pela primeira vez, 3% dos brasileiros tinham que lidar com a falta de condições para satisfazer a necessidade vital por comida, e, assim, o mapa do país deixou de ganhar, no levantamento da FAO, a cor avermelhada.
Apesar do aumento da pobreza e da degradação das condições sociais, o Bolsa Família atende hoje 800 mil famílias a menos em comparação com 2013.
Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) argumenta que o aumento da pobreza e da miséria no Brasil, presente no relatório, é consequência da irresponsabilidade fiscal do governo Dilma Rousseff (PT) e de uma condução desastrosa da política econômica.
“Assumimos o governo com as contas deficitárias. Mesmo assim, reajustamos o benefício médio do Bolsa Família em 12,5%, o que não era feito havia dois anos, e isso teve forte impacto na vida da parcela mais vulnerável da população”, explica o ministro da pasta, Osmar Terra (PMDB).
Um parceiro nas mobilizações da década de 1990 manifesta saudade do sociólogo e entende que hoje a presença dele teria muito a contribuir na luta contra a ameaça do retrocesso.
“Os indicadores sociais estão sendo perdidos rapidamente, e, com persuasão e persistência, tenho certeza de que Betinho conseguiria mobilização em defesa dos ganhos que a sociedade brasileira conquistou”, avalia Luiz Pinguelli Rosa, diretor de relações institucionais do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A inspiração que ficou dos 61 anos de vida do defensor da cidadania será tema, às 12h, do evento Celebrar Betinho, na UFRJ. Haverá um debate com a participação de professores do Coppe e do filósofo e teólogo Leonardo Boff.
Está prevista também a apresentação do hotsite www.celebrarbetinho.org.br. Por fim, haverá o lançamento do Prêmio Betinho Imagens da Cidadania, iniciativa que selecionará 10 vídeos feitos sob inspiração de princípios da democracia: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.
“Os indicadores sociais estão sendo perdidos rapidamente, e, com persuasão e persistência, tenho certeza de que Betinho conseguiria mobilização em defesa dos ganhos que a sociedade brasileira conquistou”, disse Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe