São Paulo, 15 - Pela terceira vez em uma semana, o prefeito da capital, João Doria (PSDB), participa de um evento fora do Estado. Nesta quarta-feira, 16 de agosto, o tucano viaja ao Rio Grande do Norte para receber o título de cidadão natalense. Mas, desta vez, diferentemente do que ocorreu em Salvador, quando Doria foi alvo de uma ovada em frente à sede do Legislativo, a homenagem não vai ocorrer na Câmara Municipal da cidade, mas no Teatro Riachuelo, do empresário e amigo Flávio Rocha, que também será festejado pelos parlamentares com a medalha Padre Miguelinho. Localizada dentro do Shopping Midway Mall, a casa é privada e receberá apenas convidados.
São 1.490 lugares no teatro - o plenário da Câmara comporta 120 pessoas. Para entrar no teatro, será preciso apresentar o convite na porta. Segundo o cerimonial da Câmara Municipal de Natal, todos os segmentos da sociedade foram contemplados com entradas, como políticos, empresários, representantes do Poder Judiciário e de movimentos sociais.
A cota destinada a cada um desses grupos não foi informada e alguns grupos contrários à homenagem, como as Frentes Brasil Popular e Brasil sem Medo e o Movimento de População em Situação de Rua, convocaram protestos para uma hora antes do evento, marcado às 10h. A promessa é de um ato pacífico, sem ovos, e com apresentações de grafiteiros, em referência à batalha de Doria contra grafites sem autorização e pichações pela capital paulista.
O decreto legislativo que permitirá a homenagem ao prefeito paulistano é de autoria do vereador e presidente afastado da Câmara, Raniere Barbosa (PDT) - ele é suspeito de participar de um esquema que desviou R$ 22 milhões da Secretaria de Serviços Urbanos de Natal, e nega qualquer irregularidade. O projeto foi apresentado no dia 16 de maio e aprovado dez dias depois.
Em sua justificativa, o parlamentar afirma que Doria merece a homenagem porque foi incluído, em 2016, na lista dos cem líderes de maior reputação no Brasil, de acordo com a empresa Merco.
"Homenagear João Doria é homenagear alguém que não respeita qualquer noção básica de direitos civis e humanos. Alguém que tem tratado a população de rua de São Paulo como lixo, e não como gente. E que não tem serviços prestados a nossa cidade. Definitivamente, não merece a homenagem", disse a vereadora Natália Bonavides (PT-RN), esperada no protesto.
Já o presidente da Câmara em exercício, Ney Lopes Júnior (PSD), nega que a decisão de homenagear Doria seja política. "O que existe são adversários políticos querendo politizar a cerimônia", afirmou. Ele lembra que o título de cidadão natalense também será entregue ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em data ainda não certada.
Lopes Júnior nega ainda que a mudança para o teatro tenha acontecido após as manifestações contra o tucano em Salvador. "De forma alguma. A decisão de ser no teatro se deu porque o número de convidados era muito grande. O agraciado Flávio Rocha ofereceu o teatro para que a solenidade fosse lá. A Câmara não está tendo nenhum gasto", afirmou.
Manifesto
Um manifesto que circula nas redes sociais pede a revogação do título de cidadão natalense ao prefeito do João Doria. Sem autoria identificada, o texto repudia a decisão da Câmara de Vereadores e questiona "qual fato da biografia do Sr. João Doria o aproximou da sociedade natalense".
Se uma das justificativas da Câmara Municipal para entregar o título é o período em que Doria ocupou a presidência da Embratur, o mesmo argumento é usado pelo manifesto para criticar a decisão. "A maior aproximação do Sr. João Doria com o Nordeste ocorreu quando esse teve a oportunidade de atuar como presidente da Embratur e que, no exercício dessa função pública, nunca se dedicou à proposição de uma política consistente para o desenvolvimento turístico do Nordeste, sendo, inclusive, criticado por entender que a valorização midiática da seca, e não as características culturais do povo nordestino", diz o texto.
Embora o Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do Rio Grande do Norte (Sindipetro-RN) afirme não ter nenhum protagonismo na autoria do texto, funcionários e até diretores têm compartilhado e incentivado sua assinatura. O diretor de Comunicação, Márcio Dias, concorda com a iniciativa. "Não existe nenhuma ofensa ao prefeito, mas o título de cidadão deve ser entregue a alguém que tenha prestado relevante serviços àquela cidade, o que não condiz com a realidade. Não sei nem se Doria já esteve aqui em Natal", disse.
Filiada ao PT, a dona de casa Rejane Soares, de 54 anos, disse que tomou conhecimento do manifesto pelo Facebook, e deu sua assinatura. "Nós temos pessoas aqui no Estado que merecem esse título, que fazem muito mais pela capital, e nem são reconhecidas", disse. Como o manifesto não é assinado, o Estado não conseguiu entrar em contato com a organização do texto para saber o número de assinaturas já coletadas. Doria não comentou.
(Adriana Ferraz e Elisa Clavery).