O corretor Lúcio Bolonha Funaro assinou um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) no qual vai detalhar sua atuação como operador financeiro do PMDB da Câmara dos Deputados. O grupo político é liderado pelo presidente Michel Temer e tem como principais integrantes os atuais e ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves.
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Sou presidente do PMDB, não falo sobre outros partidos, diz JucáLideranças do PMDB e do Centrão cobram que PSDB entregue ministériosEm delação, Funaro relata encontros com TemerPGR encaminha delação de Funaro para homologação de Fachin no STFPlanalto minimiza 'últimas flechas' de PGRAs revelações de Funaro serão utilizadas nas denúncias contra Temer que Rodrigo Janot deve oferecer antes de deixar a Procuradoria. Denunciado por corrupção passiva, o presidente é investigado ainda em inquéritos que apuram os crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa. Nos dois casos, o corretor deve contribuir com informações.
Os temas dos anexos entregues por Funaro foram aceitos por Janot e a partir desta semana ele inicia uma rodada de depoimentos aos procuradores da Lava-Jato. Para facilitar a logística, o corretor novamente deixou o Complexo Penitenciário da Papuda e está na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Funaro chegou na PF na segunda-feira. Passou a tarde conversando com a equipe do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela negociação. Por volta das 18h, recebeu a visita do delegado Marlon Cajado, responsável pela investigação da operação Patmos, desdobramento da delação da JBS.
Após uma conversa, os dois saíram em uma viatura da PF com destino à Procuradoria-Geral da República onde foi realizada uma última conversa na qual o conteúdo do acordo foi fechado.
Entretanto, Funaro e PGR modificaram algumas cláusulas da minuta do acordo o que arrastou a assinatura para esta terça-feira. Na tarde de hoje, Funaro chegou a ir para a Justiça Federal de Brasília onde teria uma audiência da ação penal da Operação Sepsis, na qual foi preso em 1º de julho de 2016.
No local, Funaro e seu advogado, Bruno Espiñeira, informaram ao juiz Vallisney de Souza Oliveira o compromisso agendado para assinatura do acordo na PGR. Por volta das 13h25 o corretor deixou o prédio da Justiça e seguiu para PGR em uma viatura da Polícia Federal onde assinou a colaboração premiada.
Temas
Funaro promete explicar aos investigadores como o PMDB da Câmara atuava em órgãos públicos sob o controle de seus integrantes. O corretor foi alvo de duas operações, a Sépsis e a Cui Bono?. A primeira apura sua atuação no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Fi-FGTS, e a segunda mira sua influência na vice-presidência de pessoas jurídica das Caixa durante a gestão de Geddel Vieira Lima.
Estão na mira dessas duas investigações grandes grupos econômicos como a holding J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e as empresas da família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas.
Só do Grupo J&F, segundo planilha entregue por Joesley Batista em sua delação, Funaro recebeu cerca de R$ 170 milhões nos últimos 12 anos. À Lava-Jato, o corretor irá explicar quais políticos participaram dos esquemas que resultaram nesses pagamentos e qual a participação do presidente Michel Temer.
Outro tema a ser abordado será a veracidade das afirmações de Joesley a Temer em conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu. Batista disse que continuou efetuando pagamentos ao operador mesmo após sua prisão para evitar que ele partisse para uma delação - um deles para sua irmã Roberta foi interceptado em ação controlada da PF.
"O Lúcio Funaro é o operador financeiro do Eduardo do esquema PMDB da Câmara.
O empresário contou aos procuradores que conheceu Funaro em 2011, atendendo a um pedido do empresário Paulo Sergio Formigoni de Oliveira. O operador financeiro, disse Joesley, teria informado que atuava em conjunto com o ex-deputado Eduardo Cunha com o "respaldo político" do então vice-presidente, Michel Temer.
"Ele Funaro sempre dizia 'eu falo em nome do Eduardo e Eduardo é da turma do Michel'", afirmou Joesley.
Agricultura
Joesley também narrou em sua delação pagamentos por negócios relacionados ao Ministério de Agricultura. O primeiro pagamento na Agricultura ocorreu quando houve a liberação para a exportação de despojos animais. De acordo com Joesley, a JBS nem havia pleiteado a medida, mas foi cobrada em R$ 2 milhões por Funaro.
"E teve um que eu pedi que era sobre vermífugos. Isso era muito importante para o Brasil, tanto que depois até mudou a norma nos Estados Unidos. Esse eu paguei R$ 5 milhões. Eu tinha um helicóptero lá e entrou como meio de pagamento", acrescentou.
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