São Paulo e Brasília, 28 - O ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa confessou, em delação premiada, ter intermediado repasse de R$ 4 milhões, a pedido de Blairo Maggi e do ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes ao deputado federal Carlos Bezerra, em 2008, com o fim de comprar apoio do PMDB nas eleições municipais. À época, segundo Barbosa, o partido teria declarado apoio ao adversário do aliado de Blairo.
As revelações do ex-governador foram classificadas de "monstruosa delação" pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que na última sexta-feira, 25, autorizou abertura de inquérito contra um grupo de políticos de Mato Grosso, entre eles Blairo Maggi, a quem a Procuradoria atribui o papel de "liderança" de organização criminosa que se instalou na administração pública estadual.
Segundo o delator, em 2008, "antes da campanha para a prefeitura de Cuiabá", o então governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, e o candidato a prefeito Mauro Mendes o teriam procurado para pedir que "intercedesse" pelo apoio do PMDB.
Silval diz ter se reunido com "Carlos Bezerra, que hoje é deputado federal, pedindo para que o PMDB apoiasse Mauro Mendes, tendo Carlos Bezerra dito que apoiaria somente se Blairo e Mauro Mendes entregassem R$ 4 milhões de reais para o PMDB".
O ex-governador do Mato Grosso afirma ter ouvido de Blairo que "arrumaria tal montante".
O delator narra ainda que o então Secretário de Fazenda de Mato Grosso Eder Moraes foi designado a conseguir os valores para pagar Bezerra e que apresentou ao chefe da pasta o operador financeiro Júnior Mendonça, que teria conseguido R$ 3,3 milhões - "parte em cheque, parte em dinheiro".
Silval alega ainda que o operador não tinha os outros R$ 700 mil e relatou ter procurado os empresários "Tergivan e Fernando Garuchi, que eram sócios de uma factoring em Cuiabá" e pedido o montante prometendo também "pagar logo em seguida".
O empréstimo teria sido concedido, mas, em 2009, após as eleições, segundo o ex-governador, "tal dívida não havia sido quitada pelo governo perante Junior Mendonça", que fazia cobranças.
O delator explica que o secretário da Fazenda Eder Moraes "iria pagar Junior Mendonça através de um pagamento de um precatório da empresa Hidrapar, sendo que a pessoa responsável pela empresa em efetuar o retorno seria Alex Tocantins e seu irmão, sendo Alex a pessoa que combinou com Eder o retorno".
Defesas
Em nota à imprensa, Blairo Maggi afirmou: "Deixo claro, desde já, que causa estranheza e indignação que acordos de colaboração unilaterais coloquem em dúvida a credibilidade e a imagem de figuras públicas que tenham exercido com retidão cargos na administração pública. Mesmo assim, diante dos questionamentos, vimos a público prestar os seguintes esclarecimentos:
1. Nunca houve ação, minha ou por mim autorizada, para agir de forma ilícita dentro das ações de Governo ou para obstruir a justiça. Jamais vou aceitar qualquer ação para que haja 'mudanças de versões' em depoimentos de investigados. Tenho total interesse na apuração da verdade. Qualquer afirmação contrária a isso é mentirosa, leviana e criminosa.
2. Também não houve pagamentos feitos ou autorizados por mim, ao então secretário Eder Moraes, para acobertar qualquer ato.
3. Repudio ainda a afirmação de que comandei ou organizei esquemas criminosos em Mato Grosso. Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas.
4. Sempre respeitei o papel constitucional das Instituições e como governador, pautei a relação harmônica entre os poderes sobre os pilares do respeito à coisa pública e à ética institucional.
5. Por fim, entendo ser lamentável os ataques à minha reputação, mas recebo com tranquilidade a notícia da abertura de inquérito, pois será o momento oportuno para apresentação de defesa e, assim, restabelecer a verdade, pois definitivamente acredito na Justiça."
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado federal Carlos Bezerra, mas não obteve retorno. O ex-prefeito Mauro Mendes e o ex-secretário Eder Moraes não foram localizados.
(Luiz Vassallo, Fábio Serapião, Breno Pires, Rafael Moraes Moura e Fausto Macedo).