Jornal Estado de Minas

País ainda vive incertezas da crise política um ano depois do impeachment


Um ano depois de 61 senadores votarem sim e confirmarem o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), o país ainda vive momentos de incertezas.

A expectativa de a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar, no início do próximo mês, uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer e o Congresso cada vez mais voltado para o toma lá dá cá fazem com que a recuperação da economia seja oscilante e espalha a sensação de eternidade à crise política.

Na opinião de especialistas, o país só conseguirá virar essa página nas eleições de 2018.
 

Para o professor de ciência política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Geraldo Tadeu Monteiro, a crise que estava no colo da então presidente Dilma passou para Michel Temer — junto, ele herdou também a impopularidade.

“Vivemos um período de crise persistente, uma crise de representatividade que vem das manifestações de 2013. Isso só vai amainar quando tivermos um novo governo eleito com a legitimidade do voto.” Monteiro ressalta, entretanto, que a experiência de Temer como parlamentar faz com que ele tenha um melhor controle da base governista e, com isso, consegue aprovar reformas estruturantes.

O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas afirma que é um ano de paradoxos, já que, segundo ele, existe uma grande diferença entre a pessoa física Michel Temer e o governo.

“Com menos de 10% de popularidade e suspeitas graves de corrupção, ele age como se nada acontecesse, mostrando que não está à altura do cargo. Ele se comporta como um apostador. Por outro lado, o governo Temer é surpreendente. Combate a inflação, conduz mudanças estruturais e traz de volta um pouco de otimismo sobre a economia. Talvez venha a ser, no futuro, o presidente que mais fez reformas em tão pouco tempo.”

Mesmo diante de uma chance mínima de conseguir a principal bandeira — a reforma da Previdência —, Michel Temer aprovou, no último ano, um teto para os gastos públicos, a lei da terceirização e a reforma trabalhista, o que acalmou, de certa forma, o mercado financeiro.

Segundo Alex Agostini, analista da Austin Rating, é possível perceber melhorias no período, de acordo com a política de gestão em investimento e o crescimento a longo prazo.
“Os indicadores são positivos em consideração à recessão que tivemos, que foi muito profunda. Há uma herança do deficit fiscal e um contingente de desempregados elevado. Neste ano, porém, os números esboçaram uma reação, e a inflação e os juros, que estavam em dois dígitos, caíram”, destaca.

Crise


Opositor dos governos petistas há décadas e um dos votos favoráveis ao impeachment, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) defende que o certo teria sido o então vice-presidente perder o cargo também.

“Ele utilizou-se do esquema de pedaladas. Cabia um impeachment completo e, naquele momento, teríamos uma eleição direta e, certamente, hoje não estaríamos vivendo a crise política interminável que estamos”, comenta.

Para o senador, a população que foi às ruas não queria o Temer. “Não se justifica a substituição da presidente por um vice com a manutenção de um sistema de governar que é visivelmente promíscuo, esse sistema de balcão de negócios.”

Agora na situação de oposição, o senador Humberto Costa (PT-PE) reconhece que o país estava em uma grave crise quando Dilma saiu, mas culpa a “sabotagem” do Congresso.

“O que fizeram conduziu o país para a dificuldade econômica. Mas, hoje, as coisas só pioraram.
Tudo aquilo que foi prometido não aconteceu e esse governo afunda o país cada dia mais, criando um clima de apatia. As pessoas estão apáticas porque viram que apostaram em uma saída errada”, acredita.

Inimigos lado a lado


Um evento do PCdoB na Câmara dos Deputados reuniu, nessa quarta-feira (30), uma lista de convidados que, há um ano, na véspera da aprovação definitiva do impeachment da então presidente, Dilma Rousseff, jamais ficariam lado a lado.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) sentou próxima ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Presidente da República em exercício, Maia ensaiou o discurso para o nascimento de uma nova legenda, distante da direita e da esquerda.

“Precisamos entender que o centro é onde os que pensam diferente têm capacidade de diálogo”, disse. Gleisi, hoje presidente do PT, lembrou do “aniversário” de impeachment de Dilma e rebateu Maia. “”Nós podemos dialogar sim. Mas temos que ter lado”, afirmou..