Jornal Estado de Minas

JBS cita políticos de Minas em anexos de delações

Edson Fachin deu mais 60 dias para a JBS complementar delações - Foto: Lula Marques/AGPT
Brasília – Advogados da JBS entregaram à Procuradoria Geral da República novos levantamentos, relatórios detalhados e gravações de conversas com políticos, que serão anexados ao acordo de delação premiada da empresa. Essas informações complementares vão embasar as investigações que estão em andamento e podem provocar a abertura de outras apurações, porque em alguns casos surgiram novos nomes. Os documentos estão em sigilo, mas foram revelados pelo Jornal Nacional, ontem à noite, que diz ter tido acesso às gravações. Em uma delas, o ministro da Indústria e Comércio, Marcos Pereira, fala abertamente sobre um esquema de corrupção. Políticos mineiros do PMDB, incluindo o vice-governador Antônio Andrade (PMDB), teriam sido gravados. Além dele, também foram gravados pela JBS negociando vantagens, segundo os delatores, o ex-deputado federal e hoje deputado estadual em Minas João Magalhães (PMDB), e os deputados federais Leonardo Quintão (PMDB), Mauro Lopes (PMDB), Newton Cardoso Junior (PMDB) e Saraiva Felipe (PMDB).

Na delação, o empresário Joesley Batista, dono da JBS, disse que pagou R$ 6 milhões em propina ao ministro Marcos Pereira. Nos novos documentos, a JBS também detalhou parte do pagamento de R$ 30 milhões feitos a políticos que apoiaram a candidatura do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara.

Os delatores da JBS contam que antes mesmo de ser reeleito deputado em 2014, Cunha procurou Joesley e disse que gostaria de concorrer à presidência da Câmara. Ele pediu o apoio de Joesley.
O empresário daria R$ 30 milhões e o executivo da J&F Ricardo Saud, também delator, faria contato com alguns parlamentares e líderes que já tivessem recebido recursos da empresa, principalmente das bancadas de Minas e Rio de Janeiro.

Joesley concordou e Saud disse ter feito contato com mais de 200 deputados entre novembro de 2014 e janeiro de 2015. Cunha foi eleito no mês seguinte, fevereiro de 2015. De acordo com os delatores, Cunha “com certeza” destinou recursos ao deputado federal Carlos Bezerra, ao ex-deputado e atual prefeito de Angra dos Reis (RJ), Fernando Jordão; ao deputado federal Geraldo Pereira; ao ex-deputado e atual vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Junior, e ao deputado federal Marcelo Castro.

Os delatores da JBS entregaram provas que reforçam as acusações que fizeram sobre os pagamentos ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). E também sobre os repasses para contas no exterior que, de acordo com depoimento de Joesley, ficaram à disposição dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.



Os delatores também disseram que a JBS fez pagamentos ao ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine. A JBS descobriu em seus arquivos registros de pagamentos de R$ 200 mil por mês ao ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, enquanto ele estava no cargo. Rossi foi ministro de Lula e Dilma.

A JBS também entregou longo memorial sobre os contratos que assinou com o BNDES.

Como o ministro Edson Fachin acabou dando mais 60 dias de prazo, a JBS planeja manter os levantamentos que já estavam em andamento – reunir ainda mais provas ao longo dos próximos meses – e entregar mais material em novembro. Os investigadores querem usar essas informações para entender detalhadamente como operava cada organização criminosa apontada na delação da J&F.

Defesa

O senador Aécio Neves disse que as acusações contra ele são absurdas e que nunca ofereceu contrapartida para as doações de campanha. Afirmou ainda que todas as doações foram declaradas à Justiça Eleitoral. As defesas de Eduardo Cunha, Aldemir Bendine e do ex-presidente Lula não quiseram se pronunciar.  O ministro Marcos Pereira, a ex-presidente Dilma e o ex-ministro Wagner Rossi não se manifestaram.

A defesa do João Magalhães não foi localizada. Procurada, a defesa do vice-governador Antônio Andrade não enviou resposta. O deputado Newton Cardoso Junior disse que recebeu a notícia com surpresa e que em nenhum momento negociou qualquer tipo de vantagem com a JBS. O deputado Mauro Lopes disse não ter conhecimento do assunto. E Saraiva Felipe afirmou que nunca recebeu nada para apoiar Eduardo Cunha.

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