Em discurso emocionado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que viveu nessa segunda-feira "um dos dias mais tensos" do cargo, ao anunciar que pode rever o acordo de delação dos executivos da J&F. Ao falar sobre o cargo, ele afirmou que o momento da decisão é "solitário".
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Janot manda investigar omissões na delação da JBS e acordo pode ser anuladoEm gravação, delatores da JBS falam em 'virar amigos de Janot'Janot era informado antes de acordo, dizem delatoresCármen Lúcia quer apuração 'imediata' de citações ao STF feitas em áudio de delatoresMaia volta a parabenizar Janot por abertura de investigação sobre delação da JBSPresidente da CPMI apresenta requerimento para convidar Janot e irmãos BatistaRevisão de delação da JBS favorece Temer na CâmaraMarcelo Miller diz que não cometeu crime ou ato de improbidadeSegundo ele, os dois mandatos como PGR colocaram em seu caminho "desafios quase sobre-humanos", em uma referência à Lava Jato. "Eu não tinha a menor ideia de que todo esse tsunami iria acontecer ao final da minha carreira.
Nunca tive uma atuação forte na área penal, todo mundo sabe que essa não é a minha área e o desafio final foi esse", disse Janot, na sua última sessão como presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal.
Após seis meses do início de seu mandato como procurador-geral, a Lava Jato teve início e perdurou durante os outros três anos e meio.
Sem mencionar diretamente a JBS, Rodrigo Janot falou sobre a decisão de ontem. Após meses de críticas por ter firmado um acordo polêmico de colaboração com Joesley Batista, Janot foi obrigado a anunciar que pode rever a delação, depois de descobrir novos áudios do delator. "Ontem foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período.
Alguém disse para mim: 'você realmente é um homem de muita coragem'. Eu pensei: será que sou um homem de coragem mesmo? Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma. Na verdade, o que eu tenho é medo e o medo nos faz alerta."
O medo, disse Janot, é de "errar muito" e de "decepcionar" o Ministério Público. "Todas as questões que enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo de errar, de me omitir, de decepcionar a minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios", disse.
Ele afirmou que tem vivido uma "montanha-russa", pois surpresas têm aparecido no meio do caminho.
Dividindo o mesmo plenário de Janot nesta manhã estava a conselheira Raquel Dodge, que irá assumir o comando da PGR a partir de 18 de setembro. Janot disse à sua futura sucessora que está "tentando deixar a casa da melhor forma arrumada" e aconselhou em tom emocionado: "Nos momentos difíceis, não desanime; converse".
Pouco antes, Raquel elogiou o antecessor e disse que Janot deixa "um legado que honra a história do Ministério Público na construção de uma instituição forte". Os dois são conhecidos desafetos dentro do Ministério Público Federal.
Ao citar um personagem de Fernando Pessoa, Janot falou: "Ele afirmava: 'Cumpri contra o destino o meu dever. Inultilmente? Não, porque o cumpri'. Acho que esse é o compromisso do MP, o compromisso com nossa sociedade, ser Ministério Público de forma reta. De cumprir, ainda que seja contra o destino, nosso dever."
O procurador agradeceu sua equipe e disse que foi "muito difícil mesmo" enfrentar algumas situações: "E isso foi possível porque contei com o empenho pessoal de toda minha equipe que se entregou de corpo e alma. Sozinho nessa cadeira não se faz nada."
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