São Paulo, 07 - O ex-ministro Antonio Palocci alegou, ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira (6) ter aconselhado o ex-presidente Lula que recebesse o terreno onde seria sediado o Instituto Lula como doação formal, ou 'revestida de formalidade', porque, segundo ele, as relações delituosas entre o PT e a empreiteira já estavam 'monstruosas' e a suposta aquisição, de forma encoberta pela Odebrecht, poderia criar uma 'fratura exposta desnecessária'.
Palocci foi preso na Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato, em setembro de 2016, e condenado por Moro a 12 anos e 2 meses de prisão. Ele está tentando fechar acordo de delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal.
O ex-ministro resolveu confessar seus crimes em interrogatório no âmbito de processo relacionado à suposta compra, pela Odebrecht, do apartamento vizinho ao de Lula, em São Bernardo do Campo, e do terreno onde seria sediado o Instituto Lula. Segundo o Ministério Público Federal, os imóveis são formas de pagamento a Lula de vantagens indevidas.
Palocci afirmou ter conversado sobre a compra do imóvel com o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, que teria relatado que seu parente, Glaucos Costamarques, compraria o terreno da mesma forma que já estaria fazendo com o apartamento vizinho ao do ex-presidente, em São Bernardo. "Eu fiz perguntas : eu não tô entendendo o que estão fazendo. O instituto não vai ser feito para receber doações de empresas? Para pintar de cores melhores, doações licitas e ilícitas, confesso, não é para isso que está fazendo o instituto? Então por que vamos inaugurá-lo já com ilegalidade deste tamanho? Vão comprar agora em nome de vocês?"
O ex-ministro ainda diz ter se encontrado com Lula para questioná-lo sobre as aquisições. "Aí eu voltei ao presidente: presidente do que se trata esse apartamento? Aí ele explicou que a segurança tinha alugado e que ele gostou daquele apartamento e que era um andar com dois, como ele tem 5 filhos ficaria melhor e estava pensando em comprar o apartamento."
Em seguida, alegou ter voltado a falar com Bumlai sobre a compra do imóvel. "Aí eu voltei a falar com ele sobre o prédio do instituto e falei da minha conversa com Bumlai: 'Eu to preocupado e não gostaria de fazer desse jeito. Eu acho que Se o senhor está fazendo um instituto para receber doações e fazer sua atividade, não sei por que procurar agora um terreno e porque não esperar.
Nesta quarta-feira (6), espontaneamente, Palocci confessou ainda ter intermediado relações delituosas entre o Lula e o grupo Odebrecht. Segundo o ex-ministro a empreiteira ofereceu um pacote de propinas que envolve R$ 300 milhões, o terreno onde seria sediado o Instituto Lula e o sítio em Atibaia.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA
"Palocci muda depoimento em busca de delação O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.
Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.
Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.
Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como "pacto de sangue", esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.
Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP.
Cristiano Zanin Martins".