Brasília – Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, disse que antes de se tornar um delator "tratou com vários políticos sobre como parar" a Operação Lava-ato. O depoimento, ao qual a reportagem teve acesso, foi prestado no feriado de 7 de Setembro, no procedimento de revisão do acordo de delação premiada firmado com a PGR.
Leia Mais
Joesley e Saud chegam à superintendência da Polícia Federal em BrasíliaDelação fica sob ameaça após Joesley se entregarJoesley e Saud estão na sede da PF de SP e podem ser levados ao IMLEnvolvidos na Lava-Jato compram imóveis em Portugal para obter visto, diz jornalCom 45 fases deflagradas, Operação Lava-Jato mostra que ainda está longe do fimJoesley tem novo pedido de prisão decretado em operação que prendeu seu irmãoDepois de Joesley, o irmão Wesley Batista é preso em São PauloJoesley Batista afirmou que os políticos com quem "mais falou sobre tudo o que acontecia com a empresa no âmbito da Operação Lava Jato durante os últimos três anos foram Ciro Nogueira, Eduardo Cunha e Michel Temer". Consta no termo de depoimento assinado pelo empresário que ele, "até decidir por colaborar, tratou com vários políticos sobre como parar a 'Operação'; que por isso ficou em paz consigo mesmo porque salvou a empresa com a colaboração depois de três anos de tentativa com políticos".
No dia seguinte ao depoimento, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Joesley, do executivo da J&F, Ricardo Saud e do ex-procurador da República Marcello Miller. No mesmo dia, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decretou a prisão dos dois primeiros.
Delação
No depoimento, Joesley disse que conheceu Miller no início de março deste ano, quando o então procurador da República foi até a sua casa apresentado por Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico do grupo J&F. O empresário disse que encontrou o ex-procurador pelo menos outras duas vezes no mesmo mês, na sede da JBS. Miller ainda não havia sido exonerado do Ministério Público Federal naquele momento.
Joesley, no entanto, afirmou que "nunca recebeu orientação de Marcello Miller sobre elaboração dos anexos nem sobre a produção de uma prova específica". Apesar disso, disse que os contatos com Miller foram importantes para ele acreditar que deveria fazer o acordo de colaboração premiada.
Sobre um dos encontros com Miller em março, Joesley afirmou, segundo termo de depoimento assinado por ele próprio, "que conversou com Marcello Miller sobre colaboração premiada, como se faz, o procedimento, se funciona ou não; que Marcello Miller dava orientações abstratas sobre colaboração e crimes, tendo servido para entender o processo de colaboração premiada; que isso serviu para o depoente acreditar que a colaboração era o caminho correto, o melhor e talvez o único".
Em outro momento, o empresário disse não ter certeza se Miller esteve em contato com os anexos de Ricardo Saud. Joesley também afirmou "não houve nenhuma indução ou orientação de Marcello Miller a nenhum dos colaboradores".
O Planalto afirmou que "o depoimento do senhor Joesley Batista mostra que ele mente mais uma vez". A defesa de Cunha nega as acusações e afirma que prestará os devidos esclarecimentos oportunamente, quando convocado pelas autoridades. A assessoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI) foi contatada e não respondeu sobre as citações até a conclusão desta edição. A defesa do advogado Marcello Miller informou que só teve acesso ao pedido de prisão da PGR nesta segunda-feira e está preparando as medidas cabíveis..