Curitiba, 13 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribui responsabilidade pelo apartamento vizinho do seu, no Edifício Green Hill, em São Bernardo do Campo, comprado em nome do sobrinho do pecuarista e amigo José Carlos Bumlai à dona Marisa Letícia, que morreu em fevereiro.
Assim como no processo do triplex do Guarujá, em que ele foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão, por ter recebido no imóvel propinas da OAS, Lula disse que a ex-primeira dama era quem cuidava do apartamento que era usado pelos seguranças da Presidência, quando ele ocupava o Planalto, e depois foi comprado por Glauco Costamarques Bumlai e passou a ser usado por sua família.
A acusação do Ministério Público Federal diz que o imóvel, no prédio onde Lula mora desde 1998, foi pago pela Odebrecht e colocado em nome de sobrinho de Bumlai. Os aluguéis não teriam sido pagos entre 2011 e 2015. Há um contrato de locação entregue à Lava Jato entre o sobrinho de Bumlai em nome de Dona Marisa.
Lula ficou irritado com as perguntas de Moro sobre a falta de entrega pela defesa do ex-presidente dos comprovantes de pagamento de aluguel do apartamento.
"Vou repetir para o senhor. Nunca houve qualquer denúncia que o apartamento não estava sendo pago, seu Glauco nunca levantou... seu Glauco nunca cobrou, seu Glauco nunca me telefonou. Nem ele, nem ninguém. Pois bem, estou dizendo para o senhor que tinha uma relação da dona Marisa no contrato do aluguel, que a dona Marisa cuidava de forma responsável das coisas da casa. Só fiquei sabendo agora quando Glauco prestou depoimento."
Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobras.
Moro abriu interrogatório questionando sobre o apartamento supostamente comprado com dinheiro da Odebrecht e registrado em nome do sobrinho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, Glauco Costamarques Bumlai.
Lula disse que não conhece o sobrinho de Bumlai e que não participou de negócio de compra do imóvel. É um apartamento vizinho ao do presidente em São Bernardo, que era usado pela segurança presidencial. O ex-presidente disse que imóvel era do sobrinho e que ele quis ficar com o apartamento e alugado por ele.
"Hoje é um apartamento que está lá a minha disposição. Se permitirem que eu seja candidato em 2018, ele terá uma função política muito forte."
Lula disse que de 2007 a 2010 quem pagava era "a segurança da Presidência". Questionado pelo procurador da República Antonio Carlos Welter se ele nunca cogitou comprar o apartamento, o ex-presidente respondeu: "Nunca cogitei comprar o apartamento porque a dona Marisa não queria morar mais lá (no edifício em São Bernardo)". Ele explicou que a ex-primeira-dama tinha planos de morar em São Paulo.
Moro quis saber se ele pediu a Bumlai ou ao advogado Roberto Teixeira que comprassem o apartamento.
"Acho que foi uma lógica sequencial que vinha acontecendo desde 1998.
Segundo ele, chegou à Segurança da Presidência da República que o apartamento seria vendido, quando o antigo proprietário morreu, e houve a recusa da União. E que ele não soube que o imóvel foi comprado pelo sobrinho de Bumlai.
O ex-presidente diz ter tomado conhecimento de que o imóvel estava em nome de Glauco Costamarques Bumlai quando "foi feito o contrato com a dona Marisa".
"Eu abri em 1975 uma conta conjunta com a dona Marisa para deixar ela administrar as questões da casa. Penso que fiquei próximo de 30 anos sem assinar um cheque na minha vida, porque a dona Marisa, primeiro, era muito séria no trato de dinheiro, era muito econômica, nunca tive medo de deixar um cartão de crédito com ela porque eu tinha a consciência que a dona Marisa não gastaria nada que não fosse essencial", afirmou Lula.
"Dona Marisa ficou responsável por fazer o contrato e acertar aluguel, condomínio, IPTU e outras coisas da casa. Era tudo ela que fazia."
Segundo ele, "na cabeça dele" o aluguel estava sendo pago regularmente.
Confissão
Na semana passada, o ex-ministro Antonio Palocci, também réu nesse processo - e condenado a 12 anos de prisão -, rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de 'pacto de sangue' com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula.
Além do ex-presidente e de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, também respondem ao processo o próprio ex-ministro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula - que será interrogado na quarta-feira, 20 -, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.
Palocci disse que dona Marisa era quem cuidava da escolha do terreno do Instituto junto com Bumlai e o advogado e compadre da família Roberto Teixeira - também réu nesse processo.
Lula negou que dona Marisa era quem cuidava da escolha do terreno do Instituto. (Ricardo Brandt, Julia Affonso, Luiz Vassallo, Elisa Clavery, Francisco Carlos de Assis e Ricardo Galhardo, enviados especiais).