A três dias de entregar o cargo de procurador-geral da República, Rodrigo Janot deve apresentar nesta quinta-feira uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) ao Supremo Tribunal Federal (STF) – acusando-o de integrar o “quadrilhão do PMDB”.
A denúncia vai ser baseada em inquérito aberto pelo STF para investigar o peemedebista por corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa, e em elementos da delação do corretor Lúcio Funaro.
Na sexta-feira passada, Janot denunciou políticos do PMDB pela formação de organização criminosa. São alvos da denúncia os senadores Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além dos ex-senadores José Sarney e Sérgio Machado – acusados de controlar nomeações de diretorias da Petrobras em troca de propina que chegou a R$ 864 milhões, além de terem causado um prejuízo de R$ 5,5 bilhões à estatal e de R$ 113 milhões à Transpetro.
Outra vertente do procurador-geral é a bancada do PMDB na Câmara: os deputados são acusados de terem recebido pelo menos R$ 350 milhões no esquema de corrupção da Petrobras. O alvo direto nesse caso também é Michel Temer, apontado como o líder da bancada, formada por seus principais aliados.
De acordo com aliados do presidente, assim que a denúncia for apresentada ao STF, Michel Temer fará um pronunciamento político. A ideia é repetir a tese de que Lúcio Funaro mente e não merece credibilidade, assim como as gravações dos empresários da JBS.
Janot também deve ser alvo, em razão da divulgação de uma foto em que ele aparece sentado à mesa em um bar de Brasília ao lado do advogado Pierpaolo Bottini, que atua para a JBS.
Derrotas
No campo jurídico, Temer sofreu nessa quarta-feira (13) duas derrotas no STF: a Corte rejeitou declarar como suspeito o procurador-geral Rodrigo Janot e adiou para a semana que vem a suspensão de uma eventual segunda denúncia.
Com isso, a Justiça deixou aberta uma janela para que Janot denuncie Temer novamente antes do fim de seu mandato na PGR. Temer participa da solenidade de posse da nova procuradora-geral, Raquel Dogde, na manhã de segunda-feira (18), antes de viajar para os Estados Unidos.
Assessores de Temer dizem acreditar que Janot tentará vincular as declarações de Funaro a de outros delatores para acusar Temer de atuar, de forma contínua, em uma organização criminosa. Assim, conseguiria justificar a denúncia, porque os fatos relatados pelo corretor são anteriores à data em que o peemedebista assumiu a Presidência.
Temer repetirá, com essa estratégia, o que fez por ocasião da primeira denúncia contra ele. No fim de junho, ele afirmou que a acusação era uma "ilação" da Procuradoria e mirou no ex-procurador da República Marcelo Miller, que auxiliava Janot e teve um pedido de prisão negado pelo Supremo, dizendo que recebera "milhões" para sair do Ministério Público e trabalhar na defesa do frigorífico JBS.
O presidente chegou a insinuar que o dinheiro não fosse unicamente para Miller e que poderia ter beneficiado Janot, embora tenha negado essa intenção.
A primeira denúncia em que o presidente foi acusado de corrupção passiva foi rejeitada pela Câmara dos Deputados no início de agosto com mais de 120 votos de margem. (Com agência)