Jornal Estado de Minas

Homem da mala da JBS deixou rastro em Minas Gerais

Preso desde domingo com Joesley Batista por ter omitido informações aos investigadores da Lava-Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da JBS Ricardo Saud já esteve envolvido em denúncias de fraudes no período em que ocupou cargos públicos em Minas Gerais.

Mineiro de Uberaba, o executivo que ficou conhecido como “o homem da mala” esteve na Casemg (Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais) e na Secretaria de Agricultura, onde não passou despercebido.

No primeiro dia de dezembro de 1999, Saud foi derrubado do cargo que ocupava, junto com toda a diretoria da Casemg, por causa de um pagamento irregular do 14º salário antecipado a funcionários do órgão. A antecipação do 14º salário foi creditada na conta de 288 empregados.

Na ocasião, após denúncia do Estado de Minas, o então governador Itamar Franco ficou irritadíssimo e demitiu o presidente da empresa e mais dois diretores, além de Ricardo Saud. A demissão foi anunciada pelo secretário de Agricultura à época, Raul Belém, após reunião com Itamar.

Saud era diretor técnico operacional da Casemg. Na época, houve denúncias de que ele teria apresentado um diploma falso para ocupar o cargo. O homem da mala só conseguiu graduação em 2008 em agronegócios, pela Universidade de Uberaba (Uniube), com a qual manteve vínculos bastante estreitos. Saud foi chefe de gabinete e aliado de primeira hora do reitor da Uniube, Marcelo Palmério.



O ex-diretor da JBS – que ontem foi denunciado pelo Ministério Público Federal por obstrução da Justiça e organização criminosa – era aliado do ex-ministro Anderson Adauto, que, após ter sido absolvido no mensalão, foi condenado por improbidade administrativa por uso irregular de dinheiro público na Prefeitura de Uberaba.

Foi no mandato dele na administração da cidade que Ricardo Saud atuou como secretário de Desenvolvimento. Saud tinha influência sobre partidos políticos de Uberaba e quase saiu candidato a prefeito em 2008, após romper com Adauto. Na época, acabou coordenando a campanha do ex-deputado Fahim Sawan, preso ontem também sob acusação de desvio de verbas públicas.

Já em Brasília, no Ministério da Agricultura, ocupando cargo por indicação do reitor Marcelo Palmério, Saud foi um dos pivôs do escândalo que derrubou o ministro da Agricultura Wagner Rossi em 2011 e, mais uma vez, perdeu o cargo. Envolvido em suspeitas de corrupção, Rossi deixou o cargo depois que o Correio Braziliense denunciou que ele e o filho, o deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), usavam o jatinho da empresa de agronegócios Ouro Fino para viagens particulares.

Saud foi sócio de uma subsidiária da Ouro Fino e teria atuado, quando secretário de Desenvolvimento Econômico em Uberaba, para doar um terreno para a empresa instalar uma unidade industrial.

Em 2014, Ricardo Saud já era chamado de “homem da mala” ou “homem do rodízio” da JBS/Friboi por ser o intermediador dos repasses de dinheiro da gigante das carnes para políticos. Na campanha daquele ano, a Justiça Eleitoral contabilizou R$ 253 milhões somente em doações oficiais.

Foi Saud quem entregou as malas de R$ 500 mil ao ex-deputado e ex-assessor do presidente Michel Temer Rocha Loures.

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