Primeira mulher a chefiar o Ministério Público Federal (MPF), Raquel Elias Ferreira Dodge, de 57 anos, assume o cargo hoje com uma extensa e polêmica fila de casos de corrupção envolvendo os principais personagens do cenário político nacional. A cerimônia está marcada para as 10h30 no auditório do MPF, em Brasília.
Caberá a ela decidir os próximos passos em inquéritos e delações que colocam sob suspeita membros dos poderes Executivo, Legislativo e até do Judiciário. A grande dúvida é sobre como Dodge se portará em relação aos casos da operação Lava-Jato. Se ela seguirá o ritmo de seu sucessor Rodrigo Janot, que denunciou centenas de políticos, ou se terá uma postura menos agressiva no combate à corrupção.
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Supremo prevê relação menos tensa com DodgeRaquel Dodge se encontra com Cármen Lúcia e a convida para posse na segunda-feiraRaquel Dodge indica mais nove de sua equipe e reforços da Lava JatoDelação de Eduardo Cunha está à espera de DodgePelella diz que está à disposição de Raquel para 'qualquer esclarecimento'Raquel exonera procurador que falou em 'tendência' em investigar equipe de JanotRaquel Dodge toma posse na PGR prometendo combater corrupção e Temer se diz honradoPolíticos dizem esperar da nova PGR mais sobriedade e menos ativismoEntre os primeiros desafios da nova procuradora-geral estará a análise das delações da empreiteira OAS. As informações prestadas pelos executivos da empresa em acordo de colaboração narram repasses por meio de caixa 2 para campanhas de vários partidos e envolvem os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, caciques do PSDB, como os senadores Aécio Neves e José Serra, e aliados próximos ao presidente da Republica Michel Temer (PMDB).
Caso as delações dos empreiteiros sejam homologadas pelo ministro-relator da Lava-Jato no Supremo,, Edson Fachin, caberá à nova procuradoria-geral da República, chefiada por Dodge, apontar se serão abertos novos inquéritos. A atuação da nova procuradora em seu primeiro desafio pode apontar como será o tratamento dela sobre as próximas investigações de casos de corrupção.
Durante debates entre candidatos à chefia do MPF, Dodge defendeu a continuidade e ampliação da Operação Lava-Jato. Prometeu também maior celeridade na condução dos processos.
Atualmente, procuradores de quaisquer unidades podem ser realocados para outras coordenadorias ou equipes exclusivas de determinadas investigações. A maioria dos que integram a força-tarefa da Lava-Jato, por exemplo, foi cedida por outros estados. Dodge argumentou que isso provocava desfalque em procuradorias nas unidades da Federação e sugeriu limitar a 10% o número de procuradores que podem ser cedidos a outros estados. Janot criticou a medida e pediu vista, mas o Conselho aprovou a proposta de Dodge, que passará a valer a partir de janeiro de 2018, mas sem afetar grupos de investigações já formados.
Futuro de Temer nas mãos
A nova procuradora-geral decidirá também sobre o futuro dos principais integrantes do Palácio do Planalto e do próprio presidente Michel Temer, que já foi denunciado duas vezes por Rodrigo Janot. Ministros como Eliseu Padilha (PMDB), da Casa Civil, e Moreira Franco (PMDB), da Secretaria-Geral da Presidência, além do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), foram citados por vários delatores da Lava-Jato como beneficiários de propinas. Padilha e Moreira Franco foram denunciados ao lado de Temer, acusados de organização criminosa.
Dodge estará à frente do MPF durante todo o desenrolar da segunda denúncia apresentada por Janot na semana passada, em que a PGR acusou o presidente também de obstrução de Justiça.
Na quarta-feira, por exemplo, a nova procuradora-geral poderá atuar no caso, quando o STF retoma o julgamento do pedido da defesa de Temer para que a denúncia não seja enviada à Câmara.
Um outro caso envolvendo Temer, em que o presidente é investigado por influenciar a edição de um decreto para o setor portuário em troca de propina, será analisado por Dodge e a nova equipe do MPF. Caberá à nova procuradora avaliar as provas apresentadas pela Polícia Federal para decidir se Temer enfrentará uma terceira denúncia.
Além dos casos polêmicos envolvendo caciques políticos, Raquel vai lidar também com interesses corporativos, os altos salários e benefícios da carreira no MPF, que, apesar da crise econômica pela qual passa o país, incluiu em sua proposta de orçamento para 2018 um aumento de 16,7% para os procuradores. O índice foi considerado muito acima das expectativas de inflação e foi barrado pelo Supremo.
Segunda colocada
Raquel Dodge foi indicada para a chefia do MPF por Temer mesmo tendo ficado em segundo lugar na lista tríplice elaborada por procuradores de todo o país. Desde 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio da Silva passou nomear o primeiro colocado da lista para assumir o cargo, todos os mais votados tinham sido indicados pela presidência da República.
Era uma forma de o Planalto evitar a interferência na escolha dos procuradores. Em primeiro lugar na lista composta por Dodge, ficou o vice-procurador-geral da República Nicolao Dino, considerado mais alinhado a Janot e por isso muito criticado no meio político.
Em agosto, Dodge foi alvo de críticas após se reunir com Temer no Palácio do Jaburu, à noite e fora da agenda oficial do presidente. Um cinegrafista flagrou ela entrando na residência oficial do peemedebista às 22h.
As assessorias do presidente e de Dodge informaram que o encontro fora da agenda foi para discutir detalhes sobre a cerimônia de posse. Questionada sobre o motivo de o encontro não ter constado na agenda oficial, a assessoria do Palácio do Planalto explicou que, quando Temer combinou a reunião com a então futura procuradora-geral, ele já estava no Jaburu. Diferentemente dos seus antecessores, Raquel Dodge não tomará posse no Palácio do Planalto.
Quem é
Raquel Elias Ferreira Dodge, de 56 anos, nasceu em Morrinhos, Goiás. Se formou em direito pela Universidade de Brasília (UnB) e fez mestrado na área pela Universidade Harvard (EUA). Em 1985, entrou para o Ministério Público, onde fez carreira na área criminal. É casada com Bradley Dodge, norte-americano que mora no Brasil e foi professor da Escola das Nações, instituição de ensino para filhos de diplomatas. Eles têm dois filhos, Eduardo e Sofia, que moram nos EUA.
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