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Estado de Minas

Primeira mulher na PGR, Raquel Dodge toma posse hoje no olho do furacão

Nova procuradora-geral da República assume cargo num momento delicado em que nomes do primeiro escalão do poder estão sob graves suspeitas


postado em 18/09/2017 06:00 / atualizado em 18/09/2017 07:29

Raquel Dodge será a primeira mulher procuradora-geral da República(foto: Fátima Meira/FUTURA PRESS/ESTADAO CONTEUDO)
Raquel Dodge será a primeira mulher procuradora-geral da República (foto: Fátima Meira/FUTURA PRESS/ESTADAO CONTEUDO)

Primeira mulher a chefiar o Ministério Público Federal (MPF), Raquel Elias Ferreira Dodge, de 57 anos, assume o cargo hoje com uma extensa e polêmica fila de casos de corrupção envolvendo os principais personagens do cenário político nacional. A cerimônia está marcada para as 10h30 no auditório do MPF, em Brasília. 

Caberá a ela decidir os próximos passos em inquéritos e delações que colocam sob suspeita membros dos poderes Executivo, Legislativo e até do Judiciário. A grande dúvida é sobre como Dodge se portará em relação aos casos da operação Lava-Jato. Se ela seguirá o ritmo de seu sucessor Rodrigo Janot, que denunciou centenas de políticos, ou se terá uma postura menos agressiva no combate à corrupção.


O ex-procurador-geral – que deixou o cargo oficialmente ontem – ficou marcado por uma postura enérgica no combate à corrupção. Em quatro anos na chefia do MPF, Janot desagradou a políticos de praticamente todas as legendas e enfrentou brigas duras até mesmo com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os primeiros desafios da nova procuradora-geral estará a análise das delações da empreiteira OAS. As informações prestadas pelos executivos da empresa em acordo de colaboração narram repasses por meio de caixa 2  para campanhas de vários partidos e envolvem os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, caciques do PSDB, como os senadores Aécio Neves e José Serra, e aliados próximos ao presidente da Republica Michel Temer (PMDB).

Caso as delações dos empreiteiros sejam homologadas pelo ministro-relator da Lava-Jato no Supremo,, Edson Fachin, caberá à nova procuradoria-geral da República, chefiada por Dodge, apontar se serão abertos novos inquéritos. A atuação da nova procuradora em seu primeiro desafio pode apontar como será o tratamento dela sobre as próximas investigações de casos de corrupção.

Durante debates entre candidatos à chefia do MPF, Dodge defendeu a continuidade e ampliação da Operação Lava-Jato. Prometeu também maior celeridade na condução dos processos. Dentro do órgão, ela é tida como alguém que fez oposição moderada a Janot. Em abril, uma proposta apresentada por Dodge ao Conselho Superior do Ministério Público para restringir o trânsito de procuradores no MPF gerou embate com o grupo de Janot, que via a proposta como obstáculo para a Lava-Jato.

Atualmente, procuradores de quaisquer unidades podem ser realocados para outras coordenadorias ou equipes exclusivas de determinadas investigações. A maioria dos que integram a força-tarefa da Lava-Jato, por exemplo, foi cedida por outros estados. Dodge argumentou que isso provocava desfalque em procuradorias nas unidades da Federação e sugeriu limitar a 10% o número de procuradores que podem ser cedidos a outros estados. Janot criticou a medida e pediu vista, mas o Conselho aprovou a proposta de Dodge, que passará a valer a partir de janeiro de 2018, mas sem afetar grupos de investigações já formados.

Futuro de Temer nas mãos


A nova procuradora-geral decidirá também sobre o futuro dos principais integrantes do Palácio do Planalto e do próprio presidente Michel Temer, que já foi denunciado duas vezes por Rodrigo Janot. Ministros como Eliseu Padilha (PMDB), da Casa Civil, e Moreira Franco (PMDB), da Secretaria-Geral da Presidência, além do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), foram citados por vários delatores da Lava-Jato como beneficiários de propinas. Padilha e Moreira Franco foram denunciados ao lado de Temer, acusados de organização criminosa.

Dodge estará à frente do MPF durante todo o desenrolar da segunda denúncia apresentada por Janot na semana passada, em que a PGR acusou o presidente também de obstrução de Justiça. Ela pouco poderá influenciar o andamento da denúncia, uma vez que o teor das acusações será analisado pelo Câmara dos Deputados e pelo STF, mas poderá ser chamada a se posicionar sobre questões polêmicas das delações dos executivos da JBS.

Na quarta-feira, por exemplo, a nova procuradora-geral poderá atuar no caso, quando o STF retoma o julgamento do pedido da defesa de Temer para que a denúncia não seja enviada à Câmara.

Um outro caso envolvendo Temer, em que o presidente é investigado por influenciar a edição de um decreto para o setor portuário em troca de propina, será analisado por Dodge e a nova equipe do MPF. Caberá à nova procuradora avaliar as provas apresentadas pela Polícia Federal para decidir se Temer enfrentará uma terceira denúncia.

Além dos casos polêmicos envolvendo caciques políticos, Raquel vai lidar também com interesses corporativos, os altos salários e benefícios da carreira no MPF, que, apesar da crise econômica pela qual passa o país, incluiu em sua proposta de orçamento para 2018 um aumento de 16,7% para os procuradores. O índice foi considerado muito acima das expectativas de inflação e foi barrado pelo Supremo.

Segunda colocada


Raquel Dodge foi indicada para a chefia do MPF por Temer mesmo tendo ficado em segundo lugar na lista tríplice elaborada por procuradores de todo o país. Desde 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio da Silva passou nomear o primeiro colocado da lista para assumir o cargo, todos os mais votados tinham sido indicados pela presidência da República.

Era uma forma de o Planalto evitar a interferência na escolha dos procuradores. Em primeiro lugar na lista composta por Dodge, ficou o vice-procurador-geral da República Nicolao Dino, considerado mais alinhado a Janot e por isso muito criticado no meio político.

Em agosto, Dodge foi alvo de críticas após se reunir com Temer no Palácio do Jaburu, à noite e fora da agenda oficial do presidente. Um cinegrafista flagrou ela entrando na residência oficial do peemedebista às 22h. A reunião causou mal-estar dentro do do próprio MPF e no Planalto.

As assessorias do presidente e de Dodge informaram que o encontro fora da agenda foi para discutir detalhes sobre a cerimônia de posse. Questionada sobre o motivo de o encontro não ter constado na agenda oficial, a assessoria do Palácio do Planalto explicou que, quando Temer combinou a reunião com a então futura procuradora-geral, ele já estava no Jaburu. Diferentemente dos seus antecessores, Raquel Dodge não tomará posse no Palácio do Planalto.

Quem é

Raquel Elias Ferreira Dodge, de 56 anos, nasceu em Morrinhos, Goiás. Se formou em direito pela Universidade de Brasília (UnB) e fez mestrado na área pela Universidade Harvard (EUA). Em 1985, entrou para o Ministério Público, onde fez carreira na área criminal. É casada com Bradley Dodge, norte-americano que mora no Brasil e foi professor da Escola das Nações, instituição de ensino para filhos de diplomatas. Eles têm dois filhos, Eduardo e Sofia, que moram nos EUA.

 

 


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