Sem citar o nome do agora ex-procurador-Geral da República Rodrigo Janot que o denunciou duas vezes, o presidente Michel Temer fez um discurso protocolar na cerimônia de posse de Raquel Dogde como chefe do Ministério Público e voltou a criticar o abuso de autoridade.
Mesmo após travar um embate público com Janot, Temer fez um afago institucional a PGR e afirmou que todos os antecessores de Raquel no cargo ajudaram a fortalecer a instituição. Segundo Temer, a PGR é enaltecida "a medida em que vossa excelência, ao lado de todos os seus anteriores, fizeram pelo Ministério Público e pelo Brasil".
Em sua fala de pouco mais de cinco minutos nesta segunda-feira, 18, Temer enalteceu ainda o fato de Raquel Dodge ser a primeira mulher a assumir o cargo e disse que o Ministério Publico, apesar de não estar definido como um Poder, tem um papel relevante para o Estado. "Não há dúvida de que o MP tem igualmente todas as características de um Poder de estado", afirmou.
Alvo de duas denúncias e um inquérito apresentados na gestão de Janot, o presidente chamou a atenção para a participação feminina no comando de órgãos ligados ao Judiciário - além de Raquel no Ministério Público Federal, Cármen Lúcia no Supremo Tribunal Federal (STF) e Laurita Vaz no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele citou ainda a presença e participação da Advogada-Geral da União, Grace Mendonça.
O presidente disse ainda que é uma "honra extraordinária" dar posse à "Dra. Raquel no cargo e que os atributos do trabalho desenvolvido por ela são reconhecidos por todos". O presidente, que pediu que a posse fosse antecipada para poder embarcar para os Estados Unidos, afirmou ainda que foi um gesto de "delicadeza pessoal e institucional" a alteração do horário para lhe permitir participar dos dois compromissos.
Saindo da PGR, Temer foi direto para a base aérea onde embarca para os Estados Unidos, onde participa da Assembleia-Geral da ONU.
Ausência
Janot não participou da solenidade hoje. Na sexta-feira, em seu último dia útil como procurador-geral, ele se despediu do cargo em uma cerimônia interna com apenas membros da Procuradoria e servidores. Janot fez um balanço da gestão e ganhou de presente um arco e flecha, enviado pela tribo Xokó, de Sergipe.
O presente foi uma alusão à frase "enquanto houver bambu, lá vai flecha", dita por ele na reta final de seu mandato logo após apresentar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva.