São Paulo, 25 - O empreiteiro Marcelo Odebrecht apresentou à Operação Lava-Jato uma troca de e-mails entre ele e executivos do grupo sobre uma doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula vinculada à planilha de propinas "italiano" - codinome usado pelos empresários para o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/Casa Civil - Governos Lula e Dilma). Além das mensagens, o empreiteiro entregou também à Polícia Federal quatro cópias de recibos de R$ 1 milhão, cada, referentes à doação.
Segundo Marcelo, os e-mails foram entregues em agosto deste ano, pois não haviam sido localizados na época em que fechou seu acordo e apresentou os anexos. As mensagens foram anexadas aos processos da Lava-Jato na quinta-feira, 21.
A primeira mensagem foi enviada por Marcelo Odebrecht em 26 de novembro de 2013, às 12h32, para os executivos Alexandrino Alencar e Hilberto Silva - chefe do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas da empreiteira. Todos são delatores da Lava-Jato.
"Italiano disse que o Japonês vai lhe procurar para um apoio formal ao inst de 4m (nao sabe se todo este ano, ou 2 este ano e 2 do outro). Vai sair de um saldo que o amigo de meu pai ainda tem comigo de 14 (coordenar com HS no que tange ao Credito) mas com MP no que tange ao discurso pois será formal", afirmou Marcelo.
À PF, Marcelo apresentou "cópia dos recibos das quatro parcelas da doação ao Instituto Lula, cada uma no valor de R$ 1 milhão".
"As cópias desses recibos foram extraídas do computador de Fernando Migliaccio, juntamente com os impressos dos e-mails, o que corrobora que os valores foram efetivamente descontados da planilha italiano, senão não haveria razão para estar de posse dele", relatou.
Após o primeiro e-mail de Marcelo, o chefe do departamento de propinas da empresa respondeu. Às 8h38 de 27 de novembro de 2013, Hilberto Silva escreveu. "Entendi que Alexandrino vai me procurar para operacionalizarmos e ele me atualizar para que eu atualize nossa posição."
Alexandrino retornou 20 minutos depois. "Sim, mas antes preciso me alinhar com o Japonês."
Às 9h23, Hilberto reclamou. "Ok, mas não me deixe desatualizado. Estou tentando controlar esta conta que está uma suruba."
Marcelo Odebrecht entregou à PF ainda uma e-mail enviado por ele somente a Hilberto Silva. Às 12h28, o empreiteiro disse. "Do saldo de 15M do amigo acertar com B: 500 + 500 para as próximas semanas."
O executivo também explicou à PF esta mensagem. Segundo Odebrecht, "15M" corresponde ao saldo da conta "amigo" naquela data.
"A palavra 'amigo' se refere ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; que 'B11' é a letra inicial de Branislav, assessor de Palocci, e àquele o colaborador se referiu; que '500 500' se referem aos valores de quinhentos mil mais quinhentos mil, total de R$ 1 milhão que foi debitado na planilha italiano, lançado como Programa B 6 (Dez 2013) 1.000", declarou Marcelo.
O empreiteiro afirmou que o pagamento foi combinado Branislak Kontic e "Hilberto ou Fernando Miggliacio".
"Essa mensagem para Hilberto ocorreu às 12:28 horas; que quatro minutos depois o colaborador encaminhou o email anteriormente mencionado tratando da doação ao Instituto Lula, no qual já passou a considerar abatido R$ 1 milhão, ficando o saldo de R$ 14 milhões na conta 'amigo'; que os valores doados ao Instituto Lula, total de R$ 4 milhões, foram lançados na planilha italiano como 'Doação Instituto 2014 4.000', após o qual remanesceu o saldo de R$ 10 milhões", registrou Marcelo Odebrecht.
(Julia Affonso, Luiz Vassallo e Ricardo Brandt)