Desde o império, descendentes do patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, ocupam cargos importantes em todos os três poderes. Eles já foram ministro, governador e hoje são deputados, magistrados, procuradores, prefeitos e vereadores. No Parlamento, eles têm assento desde 1821. Semana passada, a linhagem, que começou em Santos, no interior de São Paulo, mas tem base política estabelecida em Minas Gerais, mais precisamente na região do Campo das Vertentes, voltou a ganhar os holofotes com a escolha de Bonifácio Andrada (PSDB-MG) para ser relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer apresentada pela Procuradoria-Geral da República. O deputado faz parte da quinta geração da linhagem do patriarca da independência, que também foi tutor de dom Pedro I.
Deputado mais velho da Casa – em termos de idade (87 anos) e de tempo no Parlamento –, está no décimo mandato consecutivo na Câmara, onde chegou pela primeira vez em 1979, Bonifácio foi incumbido pelo presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), de redigir um parecer contra ou a favor da aceitação da denúncia contra o presidente. Se seguir a mesma linha adotada na primeira denúncia contra Temer, o parlamentar deve apresentar um parecer pela rejeição da abertura de ação contra Temer por obstrução da justiça e organização criminosa. Também são alvos da denúncia os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
Na época da votação, ele rejeitou a abertura de processo contra o presidente só com o argumento de que estava a “a favor das instituições e do progresso do Brasil”. Desta vez, ele promete um relatório técnico, baseado no direito constitucional, administrativo e penal.
E essa realmente é extensa. O primeiro cargo eletivo exercido pelo deputado foi em 1954, quando ele se elegeu, aos 22 anos, vereador em Barbacena, base eleitoral da família, que já elegeu três prefeitos para o comando da cidade. Hoje no PSDB, ele começou sua carreira na UDN e passou também pela Arena e pelo PTB, antes de se filiar ao PSDB. Depois de vereador, foi deputado estadual por três mandatos antes de migrar para a Câmara.
Em 1989, chegou a ser candidato a vice-presidente da República em uma chapa encabeçada pelo hoje deputado federal Paulo Maluf (PSD). Além de formado em direito, ele é jurista, e proprietário e reitor licenciado da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), que tem unidades em 35 cidades mineiras.
“Herança”
Seus filhos também seguiram a trajetória da família e atuam em esferas importantes dos poderes da República. Dos oito filhos, um é prefeito de Barbacena, Antonio Carlos Doorgal de Andrada, mas já foi também deputado estadual e presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais. Outro é o deputado estadual Lafayette Andrada, que também já foi vereador.
Entre suas quatro décadas de atuação parlamentar, o projeto mais polêmico já apresentado pelo deputado, e que acabou não vingando devido à pressão da opinião pública, foi uma proposta de 2011 que proibia a divulgação ou publicação de qualquer “sindicância, procedimento investigatório, inquérito ou processo, ou qualquer ocorrência de natureza penal” relativos a ilícitos cometidos por candidatos durante o período da campanha. Também ganhou destaque sua detenção, em 2014, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana da capital, com uma arma sem registro.
Defesa
O presidente da República, Michel Temer, retornou a Brasília no início da tarde de ontem, e se reuniu com o ministro Moreira Franco, secretário-geral da Presidência, no Palácio do Jaburu. Junto ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), os dois são alvo, no mesmo processo, da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que começa a tramitar esta semana na Câmara. Em São Paulo, pela manhã, o presidente recebeu a visita de Gaudêncio Torquato, amigo há décadas, que atua como consultor de comunicação. A avaliação de auxiliares do presidente é de que “não há o que comemorar” sobre as novas gravações do delator Joesley Batista, em que ele diz que o ex-procurador-geral Rodrigo Janot tinha o PMDB como alvo. O Planalto diz que a delação de Joesley foi armada.
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