Brasília, 08 - Às vésperas da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, as movimentações políticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), intrigam o Palácio do Planalto. Desde setembro, quando o deputado acusou uma ofensiva do PMDB e do governo para "atropelar" o crescimento do DEM e participou de jantares com colegas da oposição, a escalada de atritos entre antigos aliados expôs o desgaste no relacionamento.
Em conversas reservadas, Temer tem dito que não entende o que Maia quer. Mesmo assim, na tentativa de evitar novos problemas, o presidente pediu a auxiliares e a dirigentes do PMDB que "joguem água na fervura". A prioridade é evitar mais uma crise no momento em que a Câmara vai decidir o futuro de Temer e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), também denunciados pela Procuradoria-Geral da República.
Quem participou do jantar com Maia na terça-feira, na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), disse que ele não quer se associar à impopularidade de Temer e pretende se descolar aos poucos, por uma questão de sobrevivência política. O presidente tem apenas 3% de aprovação, segundo pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Primeiro na linha de sucessão da Presidência da República e no quinto mandato consecutivo, Maia jura que será candidato à reeleição e a uma nova temporada no comando da Câmara. Até a cúpula do DEM, no entanto, admite que, dependendo do cenário, ele pode disputar o Planalto, em 2018.
Voo alto -
"Rodrigo é um grande articulador e tem condições de dar voos mais altos. Pode compor qualquer chapa majoritária no ano que vem", afirmou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). Embora Maia tenha se reunido algumas vezes com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o DEM assegura que não o convidou para ser candidato à Presidência.
"Quero ver quem vai ficar descolado do governo no ano que vem, quando o Brasil estará retomando o crescimento.
Maia não esconde a irritação com o que chama de "fogo amigo" palaciano e recentemente escancarou a contrariedade com ações de Padilha e Moreira. "Nem na cadeira de presidente eu sento quando o Michel está fora. Não faço isso de jeito nenhum", contou o deputado, que já assumiu várias vezes o lugar de Temer, em razão das viagens do peemedebista. "Há muitas intrigas e espero que eles sejam mais respeitosos comigo", emendou o presidente da Câmara, sempre se referindo ao governo como "eles".
No encontro que teve Kátia como anfitriã - o segundo em menos de duas semanas -, Maia também fez reparos à atuação de Temer. Diante de senadores críticos ao governo, como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jorge Viana (PT-AC), apontou erros do Planalto na relação com os aliados e disse ter avisado o presidente, quando a Câmara barrou a primeira denúncia contra ele, em 2 de agosto, que era preciso "reconstruir" o governo, com uma nova cara e uma agenda de desenvolvimento para o País, se não quisesse enfrentar mais turbulências.
Na avaliação de Maia, como nada disso foi feito, o ambiente político de hoje é mais adverso a Temer. Embora calculando que o presidente terá votos para impedir o prosseguimento da segunda denúncia - desta vez por organização criminosa e obstrução da Justiça -, o deputado prevê que a vida do governo não será fácil. Em quase todos os partidos há aliados rebeldes e o PSDB continua cada vez mais dividido.
Temperatura -
O diagnóstico também está sendo traçado pelo presidente da Câmara em reuniões mantidas com empresários, que vira e mexe o procuram para medir a temperatura da crise.
O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, saiu em defesa de Maia e disse que ele mantém uma "conduta exemplar". Questionado sobre os rumores de que o presidente da Câmara estaria interessado na cadeira de Temer, Imbassahy encerrou o assunto.
"Não identifico qualquer 'fogo amigo', até porque jamais alguém faria um comentário contra o Rodrigo na minha presença. Todos sabem da relação de confiança e amizade que temos", disse o ministro, que é filiado ao PSDB.
'Facada nas costas'. As críticas de Maia na direção do governo e do PMDB ganharam corpo depois que o partido de Temer pulou na frente do DEM para filiar parlamentares dissidentes do PSB. Na lista estava o senador Fernando Bezerra Coelho (PE). Furioso, Maia falou em "facada nas costas" e não poupou o Planalto.
"A gente espera que o PMDB, entendendo tudo que o DEM fez pelo governo até agora, tire os pés da nossa porta", reagiu ele, em 20 de setembro.
O Estado de S. Paulo.
(Vera Rosa).