Brasília – Uma batalha jurídica deve definir como será a votação na sessão do Senado que vai decidir o futuro do senador Aécio Neves, na próxima terça-feira. Isso se a Mesa Diretoria insistir na ideia de votação secreta. Na sexta-feira, o juiz federal Marcio Luiz Coelho de Freitas, da Seção Judiciária do Distrito Federal, concedeu, liminar determinando que o Senado deverá realizar votação aberta e nominal na sessão. A decisão é uma resposta à ação popular proposta pelo presidente da União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), Eduardo Luiz Rocha Cubas, que denunciou a possibilidade de o Senado “esconder-se por trás do voto secreto” para decidir o destino do parlamentar tucano. Outro embate jurídico pode vir da oposição. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) já adiantou que se a votação for secreta, ele entrará com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal exigindo voto aberto.
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Liminar obriga Senado a fazer votação nominal na sessão sobre AécioSenadores veem ameaça a Aécio em voto abertoJustiça obriga Senado a adotar votação aberta no caso AécioCongresso terá semana com foco em denúncia contra Temer e retorno de AécioLava-Jato altera cenário eleitoral, principalmente entre caciques dos partidosPré-candidatura à Presidência e apoio a Temer provocam rachas no PSDBAécio foi afastado do mandato parlamentar por determinação da Primeira Turma do Supremo. Com base nas delações de executivos da J&F, o senador é acusado pela PGR de ter cometido os crimes de obstrução de Justiça e corrupção passiva. Aécio, porém, nega as acusações e se diz “vítima de armação”. O STF decidiu que medidas cautelares que afetem o exercício do mandato de parlamentares devem passar pela Câmara e pelo Senado.
A liminar se soma à defesa feita por integrantes da Mesa Diretora da Casa para que os senadores exponham abertamente se Aécio deve ou não retomar as funções parlamentares.
“Tenho que efetivamente a adoção de votação sigilosa configuraria ato lesivo à moralidade administrativa, razão pela qual defiro a liminar para determinar que o Senado se abstenha de adotar sigilo nas votações referentes à apreciação das medidas cautelares aplicadas ao senador Aécio Neves”, registra o juiz Marcio Luiz Coelho de Freitas, em sua decisão.
Na peça, o magistrado argumenta que a Emenda Constitucional nº 35/2001 excluiu da Constituição Federal qualquer referência à votação sigilosa para definir eventuais sanções impostas a deputados e senadores, o que, segundo Freitas, deixa clara a opção do Constituinte pela publicidade do pleito. Na decisão, o juiz ainda lembra que, nos casos do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e do pedido de prisão do ex-senador Delcídio do Amaral – situações análogas a de Aécio – o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou não ser possível a realização de votação fechada.
“Revela-se que, por se tratar da discussão acerca da eficácia de uma medida cautelar criminal, a adoção de um procedimento público para decisão é reflexo até mesmo do sistema acusatório que foi implicitamente adotado pela nossa Constituição, já que decisões sigilosas são próprias do regime inquisitorial”, ressalta o juiz, que também observa que o voto secreto pode “mascarar revanchismos políticos ou até mesmo questões pessoas”.
MANDADO Outra frente de batalha deve ser no STF. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vai entrar com mandado de segurança pela votação aberta. “Para mim e o meu partido, não há dúvidas, a votação tem que ser aberta e, caso o contrário, o Senado insista de fazer voto secreto, eu ingressarei de imediato com mandado de segurança no Supremo para que a votação se processe como está na Constituição”.
A última vez que o Senado votou uma punição do STF contra um parlamentar foi no caso da prisão do ex-senador Delcídio do Amaral, em novembro de 2015. Na época, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), usou o argumento de que seguiria o regimento do Casa e definiu que a votação seria secreta. Mas, minutos depois, submeteu a decisão ao plenário, que optou pelo voto aberto. O líder do PMDB, Raimundo Lira (PB), disse que o partido não vai participar de manobras para que a votação seja fechada – o que poderia favorecer Aécio.