Brasília, 17 - Um dia depois de ter enviado uma carta aos parlamentares dizendo-se vítima de uma conspiração para lhe tirar a cadeira presidencial, o presidente Michel Temer tenta dar ares de normalidade e participa na manhã desta terça-feira, 17, de cerimônia de imposição de insígnias da Ordem do Mérito Médico.
O evento é alusivo ao Dia do Médico, comemorado nesta quarta-feira, 18. Na cerimônia, Temer entregará medalha de Ordem do Mérito Médico a 12 profissionais que, segundo o ministério da Saúde, "no decorrer do exercício da profissão, se destacaram no setor público e/ou privado de saúde ou prestaram serviços notáveis ao Brasil".
O presidente chegou ao Palácio do Planalto por volta das 9h15, mas, até o momento, a agenda de Temer prevê além da cerimônia uma reunião, às 15h, com os ministros Gilberto Kassab (Ciências, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e Sarney Filho (Meio Ambiente).
Hoje, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados começa a discutir hoje o parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) contrário à aceitação da segunda denúncia criminal feita por Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco por obstrução de Justiça e organização criminosa no caso J&F.
Carta
A discussão na CCJ acontece em meio a mais uma crise deflagrada, desta vez, entre o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para tentar derrubar também essa denúncia, Temer encaminhou nesta segunda-feira, 16, uma carta aos congressistas afirmando que "tem sido vítima de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz". "Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram. E são incontestáveis", diz o presidente, citando Janot, Joesley, o ex-procurador Marcelo Miller e o advogado Willer Tomaz. "Tudo combinado, tudo ajustado, tudo acertado, com o objetivo de: livrar-se de qualquer penalidade e derrubar o presidente da República", afirma Temer.
Embora afirme que a carta é também um "desabafo", com críticas dirigidas a Janot e aos delatores Joesley Batista e Lúcio Funaro, a acusação de conspiração ocorre em meio a uma crise com Maia, que é o substituto do presidente em caso de afastamento.
A divulgação dos vídeos da delação de Funaro, disponibilizados no portal da Câmara no fim de setembro, levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado do presidente, Eduardo Carnelós. De acordo com interlocutores do Planalto, a carta de Temer, na prática, tem como alvo também o Supremo Tribunal Federal, responsável por enviar para a Câmara os áudios da delação de Funaro, que estariam sob sigilo.
(Carla Araújo).