Jornal Estado de Minas

Funaro diz em depoimento que presidente e ex-ministros do PMDB sabiam de propina

Brasília - O corretor Lúcio Funaro disse em audiência na Justiça Federal em Brasília ontem que o presidente Michel Temer tinha consciência do esquema na Caixa Econômica Federal que era operado pelo ex-vice-presidente de Fundos e Loterias do órgão Fabio Cleto. Ao falar sobre o caso, Funaro foi perguntado pela Procuradoria da República sobre quem dentro do PMDB sabia do esquema de Cleto: “Geddel (Vieira Lima) com certeza, Lúcio (Vieira Lima) com certeza, Henrique (Eduardo Alves), Michel Temer, Moreira Franco”, elencou Funaro.


Funaro prestou depoimento na 10ª Vara Federal em Brasília na Operação Sépsis, que investiga desvios a partir de contratos da Caixa. Cleto afirmou em depoimento na mesma audiência que Cunha e Funaro intermediavam o repasse de propina para garantir a empresas a liberação de contratos com a Caixa. No depoimento, Cleto falou que sua indicação para a Caixa foi patrocinada por Cunha, que levou seu nome a Henrique Eduardo Alves.

Funaro não deu mais detalhes à menção que fez ao nome de Temer e do ministro Moreira Franco. O corretor detalha, no entanto, relação próxima com Eduardo Cunha - que assiste o depoimento presente na audiência da 10ª Vara. Os dois são réus, assim como Cleto, Henrique Eduardo Alves e o delator Alexandre Margotto. Cleto afirmou que mantinha Funaro ou Cunha informados sobre as empresas que tentavam operações com o FI-FGTS. Os dois a partir daí procuravam as empresas para negociar pagamento de propina e davam sinal a Cleto sobre como ele deveria votar naquela operação.
“Aprovada, algum tempo depois eles me comunicavam o porcentual que supostamente tinham conseguido e me pagavam um porcentual disso, pré-aprovado”, afirmou Cleto. Procurado, o Palácio do Planalto não havia se manifestado até a publicação da reportagem.

780 ENCONTROS COM CUNHA

Além de implicar Michel Temer em seu depoimento, Lúcio Funaro afirmou no depoimento que se encontrou “no mínimo” 780 vezes com o ex-deputado Eduardo Cunha, ao detalhar os negócios que mantinha com o peemedebista. “Uma relação que durou 15 anos e eu encontrei pelo menos uma vez por semana com o deputado Eduardo Cunha, disse Funaro ao juiz Vallisney de Oliveira, fazendo a conta de cabeça. Cunha foi “centenas” de vezes no escritório de Funaro, disse o delator. Segundo ele, o peemedebista tinha liberdade para entrar no escritório e sentar na cadeira do corretor para receber “quem quiser”.

O corretor confirmou a divisão de dinheiro de propina com Cunha. Ele mencionou, por exemplo, que tinha uma sala em seu escritório para guardar dinheiro. O corretor também afirmou que o peemedebista gastava “na própria política” o dinheiro que arrecadava.
Segundo ele, “tem político que guarda para si” e outros que usam o valor para angariar apoio na política. “Eduardo Cunha usou 100% na própria política, sou convicto de que tudo o que ele tem e arrecadou gastou na própria política”, disse Funaro.

Antes de Funaro, o também delator Alexandre Margotto prestou depoimento e disse ter visto um funcionário supostamente ligado a Cunha ir buscar dinheiro vivo no escritório do corretor. Funaro afirmou: “Eu tinha uma sala no escritório à parte, que era sala onde ficava o dinheiro”. Ele falou que chegou a ter R$ 5 milhões em espécie. “O Alexandre (Margotto) trabalhou lá até 2013. Em 2013 foi quando Cunha se candidatou a líder do PMDB da Câmara. Foi uma época que o Cunha precisou de dinheiro. Ele (Margotto) pode ter visto o Altair (emissário de Cunha) pegando dinheiro, sim”, disse Funaro.

Funaro e Cunha ficaram frente a frente.
Funaro implicou diretamente o peemedebista na sua delação. Os dois, que estão presos, participaram de audiência na 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, na Operação Sépsis, que investiga desvios em contratos do FI-FGTS, administrado pela Caixa. Funaro afirmou que conhecia também o ex-ministro Henrique Eduardo Alves - outro réu na ação oriunda da operação Sépsis. Ele disse que esteve “várias vezes” com Henrique Alves e menciona um encontro deles na casa do empresário Joesley Batista, no qual também estavam presentes Cunha e o ex-diretor da J&F Ricardo Saud.

 

 

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