Rio, 28 - O deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB) classificou como "sem jurisprudência, ilegal e absurda" a transferência de seu pai, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), para um presídio federal em Mato Grosso do Sul, determinada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal. O ex-governador está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, na zona norte da capital fluminense.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o deputado reconheceu que não cabia ao pai criticar o juiz na audiência, mas defendeu o direito de o ex-governador falar o que pensa e negou supostas ameaças de Cabral ao magistrado. "Ele (Cabral) tem direito a falar nas audiências, falar o que pensa, falar como se sente."
Na última vez em que depôs na 7.ª Vara, Cabral afirmou saber que a família de Bretas tinha uma loja de bijuterias no mercado popular do Saara, no Rio. O ex-governador declarou também que o juiz federal estaria encontrando nele "projeção pessoal", submetendo-o a um "calvário" na Justiça.
A reportagem procurou Bretas, para que comentasse as afirmações de Marco Antônio Cabral, mas ele disse que não iria se manifestar.
O que achou da decisão do juiz Marcelo Bretas que determinou a transferência de seu pai?
Uma decisão sem jurisprudência no nosso ordenamento jurídico, ilegal e absurda. Eu tenho a convicção de que os tribunais superiores, de forma independente e imparcial, vão revogar essa decisão. A informação citada como privilegiada saiu no próprio Estadão, em entrevista concedida pelo juiz do caso, que a família dele tem negócios no ramo de bijuterias.
A defesa do seu pai fez nesta sexta-feira (ontem) um pedido de desculpas para Bretas.
Acho que meu pai pode falar nas audiências, é garantido por lei. Senão, não teria sentido ter uma audiência para ouvir o réu.
Com a transferência, como fica a situação da sua família?
Fica péssima, não faço a menor ideia, eu não quero nem pensar nisso porque não aguentaremos. Nós vemos a imagem do nosso pai preso todo dia na TV.
No pedido de transferência, Bretas também menciona uma ação de improbidade administrativa contra o senhor que apura as suas visitas a seu pai...
Olha, eu já dei entrada na minha defesa junto à vara competente. Sou um deputado assíduo, tenho 12% de faltas. Jamais faltei a sessão da Câmara para visitar o meu pai. As visitas foram feitas de forma regular, não houve nenhum abuso da minha parte, muito menos do meu pai, que está preso sem nenhuma regalia.
Como avalia o tratamento que estão dando a seu pai?
Na cadeia, é idêntico aos outros presos que lá estão.
E no Judiciário?
Eu apenas acho que ele deve ter direito à defesa, como qualquer outro réu. Ele tem direito a falar nas audiências, falar o que pensa, falar como ele se sente e responder às perguntas do juiz e do Ministério Público. O juiz Sérgio Moro dá o direito aos réus falarem, basta ver as audiências em Curitiba, como são feitas.
Esse direito não está sendo respeitado pelo juiz Bretas?
Acho que na última audiência o juiz pode ter achado o comportamento do meu pai desrespeitoso ou coisa parecida.
Qual seria a pena justa para o seu pai?
Primeiro, não tem embasamento jurídico penal para meu pai estar preso preventivamente. Basta ler o artigo que trata sobre prisão preventiva. É claro que ele não preenche nenhum requisito para estar preso preventivamente, e isso já dura um ano. Para a nossa família, é uma dor muito grande. Há uma clara tentativa de inviabilizar a defesa, fatiando o caso em diversas denúncias, muitas tratam dos mesmos temas.
Quais crimes o seu pai teria cometido e por quais ele estaria sendo injustiçado, na sua opinião? Na última audiência, ele admitiu o caixa 2.
Meu pai foi um homem público que realizou muito. Se fosse escrever tudo o que foi feito em políticas públicas, escreveria um livro. Foi o político que mais ganhou eleições na história do Estado. É natural que tudo que envolva o nome dele tenha uma grande repercussão. Se ele cometeu ou não crimes, isso tem que ser julgado de forma imparcial.
Ele pareceu abalado e exaltado na última audiência.
Ele está se sentindo injustiçado, pois são muitas decisões arbitrárias e discrepantes.
Como a sua família lida com esta situação?
A família está unida, somos irmãos muito unidos, sempre fomos e agora mais ainda. Meus irmãos menores sofrem mais. A prisão domiciliar da mãe deles é a mais dura do Brasil. Enquanto megaempresários estão em liberdade ou com uma prisão domiciliar branda, por ela ser mulher do Cabral não tem acesso, em seu apartamento, à internet, a telefone, a nada. Logo, as crianças também não. O escritório de advocacia dela nem existe mais, e ela não tem como atrapalhar em nada as investigações. É uma covardia, só não é maior do que tê-la colocado encarcerada e fazer com que duas crianças, uma delas com menos de 12 anos, ficassem sem o convívio dos pais. O juiz ignorou a lei ao encarcerá-la e agora impõe a prisão domiciliar mais dura do Brasil, volto a dizer, porque é mulher do Cabral, só por isso.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Constança Rezende).