São Paulo, 02 - Incentivado por correligionários descontentes com pouco espaço na Prefeitura, o vice-prefeito da capital, Bruno Covas, já avisou ao prefeito João Doria, ambos do PSDB, que pretende colocar seu nome na disputa pelo governo de São Paulo. No xadrez tucano, a disposição de Covas tem sido vista como uma forma de pressionar Doria a desistir do Planalto e aceitar entrar na corrida estadual, garantindo a cadeira de prefeito para o vice em abril do ano que vem.
Nesta quarta-feira (1º), Doria nomeou Covas para a Secretaria Municipal da Casa Civil, criada especialmente para acomodá-lo - até então, ele era o responsável pela coordenação das Prefeituras Regionais. O evento reuniu uma claque de apoiadores do vice-prefeito, que o aplaudiu e entoou um coro de 1,2, 3, é Covas outra vez.
Apesar de negarem publicamente, prefeito e vice vivem um desgaste na relação, agravado com a demissão do tucano Fabio Lepique do cargo de secretário adjunto das Prefeituras Regionais. A decisão foi tomada por Doria de forma unilateral e informada a Covas, que estava em Paris, por telefone.
Questionado no evento, o vice disse que nunca se colocou como pré-candidato às prévias do governo do Estado.
Durante o anúncio, o prefeito fez questão de passar a impressão de que Covas caiu para cima, ou seja, que a troca de pasta o prestigia e não o rebaixa, já que a partir de agora toda a articulação política da gestão caberá a ele, em uma espécie de preparação para 2018.
A dança de cadeiras, no entanto, reforçou a disposição de Covas de tentar se viabilizar para o governo como forma de assegurar o comando da capital em 2018 e, ao mesmo tempo, ampliar seu potencial eleitoral. Apoio não lhe falta. No último domingo, o vice elegeu 60% dos delegados municipais na convenção do PSDB paulistano.
A investida de Covas ainda favorece diretamente Alckmin, que, nos bastidores, trabalha para evitar a realização de prévias tanto no âmbito nacional como no estadual e para consolidar seu nome como candidato à sucessão do presidente Michel Temer. Ao menos um dos pré-candidatos tucanos ao comando do Estado já avisou que está disposto a abrir mão da disputa se Doria for o candidato: o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro.
A entrada oficial de Doria na disputa pelo governo seria uma forma de garantir e fortalecer a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Além disso, ainda ajudaria a unir o partido.
Convergência.
Ciente da movimentação de seu vice, Doria tem assumido nos últimos dias um discurso conciliador e partidário. Ao Estado, o prefeito afirmou que a convergência está cada vez mais próxima. Sempre vou atuar pela união do PSDB e por estar ao lado de Geraldo Alckmin. Nunca houve razão para afastamento e nunca haverá, disse.
Para aliados do governador, o ponto de convergência mencionado por Doria é a candidatura dele ao governo do Estado. Essa decisão agradaria não apenas a Alckmin, mas, por consequência, a Bruno Covas, que assumiria a Prefeitura, tendo caminho livre para tentar, em 2022, a reeleição. O neto do ex-governador Mário Covas tem 37 anos.
Outros nomes, porém, articulam no PSDB a candidatura ao governo paulista. O cientista político Luiz Felipe dÁvila afirmou que não vai tirar seu nome da disputa, independentemente de quem entrar na briga.
Em evento na capital paulista na terça (31) com empresários do setor supermercadista, dAvila disse ainda não acreditar que Doria se lance como candidato ao governo. O João sabe que a melhor coisa que ele pode fazer é ser um bom prefeito. Ele é como um carro que derrapou e agora vai ter de voltar para a pista, disse.
Serra.
O senador José Serra, apesar de não ter declarado publicamente interesse em voltar ao governo estadual, tem se reunido com prefeitos paulistas e aliados, como o ministro Gilberto Kassab, do PSD. No radar de Serra estaria novamente o Bandeirantes.
Secretário estadual da Saúde, David Uip, que já foi cotado ao posto de governador, avisou que se retirou de cena. Mas não para apoiar Doria. O médico considera Serra a melhor opção. Ter tido meu nome cogitado para ser candidato já foi uma honra para mim. Refleti muito e minha decisão de não tentar o cargo é definitiva.
O Estado de S. Paulo
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(Adriana Ferraz).