O PSDB mineiro admite a possibilidade de não lançar um candidato próprio ao governo de Minas Gerais nas eleições de 2018 – e descarta de vez uma eventual candidatura do senador Antonio Anastasia ao Palácio Tiradentes. “São quatro posições na chapa majoritária: governador, vice e dois senadores. O PSDB sempre teve grandeza para construir parcerias”, afirmou o deputado federal Marcus Pestana em entrevista ao Estado de Minas. O parlamentar sonha com um palanque que reúna as principais lideranças e partidos do centro, tais como o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), o deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB), o ex-secretário da Fazenda no governo Anastasia Fuad Noman, o PSD, além de destacar o nome do ex-presidente da Assembleia Legislativa Dinis Pinheiro (PP). “Temos que exercitar agora a arte da política, que é criar convergência dentro da divergência. E não podemos subestimar a força do governador Fernando Pimentel e do PT”, disse.
Depois de 12 anos governando Minas Gerais, o PSDB perdeu as eleições no primeiro turno em 2014. Qual a estratégia para voltar ao Palácio Tiradentes em 2018?
Toda eleição coloca uma escolha: mudança ou continuidade. E é próprio da democracia a alternância do poder.
Esse discurso do senhor remete à polarização PSDB e PT, em que uma má administração petista garantiria a volta do PSDB. O PSDB trabalha com a possibilidade de ser surpreendido por uma terceira via, como aconteceu em Belo Horizonte nas eleições de 2016 com Alexandre Kalil?
Acho que você tem razão que a polarização PT e PSDB, que foi eixo ordenador do sistema político brasileiro desde 1994, tem um certo esgotamento. Mas não necessariamente o nosso candidato será do PSDB. Temos uma aliança ampla que sempre sustentou esse projeto. O PSDB nunca foi exclusivista, tem os seus parceiros, como o PP, PPS, Democratas, PTB e setores muito amplos do PSB.
O PSDB admite então não lançar um candidato a governador?
São quatro posições na chapa majoritária: governador, vice e dois senadores. O PSDB sempre teve grandeza para construir parcerias. Nosso nome natural que conseguiria unificar amplas forças e que tem aprovação grande é o ex-governador Antonio Anastasia, mas definitivamente ele não é candidato. Nós não podemos abrir mão do Anastasia no Senado.
Qual candidato teria o apoio do PSDB?
Meu candidato é o Dinis Pinheiro (ex-presidente da Assembleia Legislativa, hoje filiado ao PP), dentro de uma ampla aliança. Ele tem capacidade de decisão, é muito firme e deixou um legado na Assembleia. Mas a discussão está muito embrionária ainda, temos outros nomes. Política não é uma atividade solitária, você precisa de um bom programa, um bom candidato e apoio político. Gostaria muito de ver em um mesmo palanque Marcio Lacerda (ex-prefeito de BH), Rodrigo Pacheco (deputado federal), Fuad Noman (ex-secretário da Fazenda no governo Anastasia), o PSD de Marcos Montes e Alexandre da Silveira. E dentro do PSDB ainda temos nomes como Paulo Abi-Ackel, Eduardo Barbosa e Bonifácio de Andrada. Temos que exercitar agora a arte da política, que é criar convergência dentro da divergência.
Qual o papel do senador Aécio Neves nesse contexto? Ele pode ser candidato em 2018?
O Aécio foi o maior governador de Minas desde JK e tem uma herança administrativa marcante. Ele vive um momento difícil, é inegável, vai exercer o seu amplo direito de defesa perante o Judiciário e está convencido de que vai provar sua inocência. Certamente, a partir do ano que vem vai dialogar com a população, mostrar as suas razões. Hoje o Brasil vive a maior e mais turbulenta crise das últimas décadas, então é muito cedo para dizer qual vai ser a inserção do Aécio Neves nas eleições de 2018.
O senador Aécio Neves ainda é um bom cabo eleitoral para os candidatos em Minas? Ou o melhor para 2018 será evitar padrinhos políticos, sejam eles quais forem?
Cada eleição tem sua própria história. Tivemos a candidatura do Pimenta (da Veiga, candidato do PSDB a governador em 2014) e chegou a hora em que a população quis mudar. Na eleição do João Leite (candidato do PSDB a prefeito em 2016) havia um momento de rejeição e intolerância ao ambiente político, e o Kalil (Alexandre, eleito prefeito de BH), com muita habilidade conseguiu capitalizar. Ele foi o grande outsider das eleições de 2016. O João Doria (prefeito de São Paulo) passou por uma preparação dentro do PSDB de São Paulo. Ele disputou prévias, foi apoiado pelo governador Geraldo Alckmin. O Kalil não, se colocou contra todos os políticos e conseguiu galvanizar esse sentimento que persiste até hoje.
Em 2018, a tendência não é que isso se repita?
Tenho 40 anos de militância e nunca vi nada semelhante a essa crise, que tem sua face econômica, política e ética.
E quem seria esse candidato do PSDB? Há três nomes ainda duelando para disputar o cargo, enquanto o Lula está em caravana pelo país, o Jair Bolsonaro está crescendo nas pequisas...
Pesquisas em novembro do ano anterior têm muito pouca relevância, 50% do eleitorado só define o voto nos últimos 30 dias, 25% nos últimos 15 dias. Pesquisa é um retrato estático de uma determinada realidade. É evidente que há uma polarização dos extremos, com o Lula retomando um discurso de 1989, o velho Lula raivoso com perspectiva extremada e discurso mais à esquerda, e o Bolsonaro com uma candidatura legítima, que organiza a extrema-direita e tem seguidores apaixonados. Mas o Lula ainda tem uma questão legal porque está sendo objeto de N processos e se ele for condenado, fica inabilitado pela Lei da Ficha Limpa. Sobre o Bolsonaro, acho que o pior inimigo dele é ele mesmo. Precisamos de alguém que pacifique o país, e você tem outras alternativas, como a Marina Silva, o Ciro Gomes, o Álvaro Dias. E tem os três candidatos do PSDB: o governador Geraldo Alckmin, que acho tem hoje a primazia pela sua experiência no governo de São Paulo, o João Dória, que é uma grande revelação que surgiu na política, e o Artur Virgílio, que durante mais de seis anos foi o nosso líder no Senado. Mas nesse quadro eu acho que o PSDB tem que se reinventar.
O que passa pela disputa pela presidência nacional do PSDB?
Acho que vamos ter disputa na convenção de 9 de dezembro (Tasso Jereissati e Marconi Perilo são candidatos a presidente nacional do PSDB) e eu propus logo depois um congresso nacional programático que envolva os mais de 5 mil vereadores, mais de 800 prefeitos, militância e sociedade civil numa discussão que pare de olhar para o passado. Deixemos o sistema judiciário cuidar da corrupção. A política tem que se envolver em uma missão de futuro, temos que resgatar a esperança no Brasil. Se permanecermos com dois ou três candidatos, que façamos prévias qualificadas. E o PSDB não tem um papel solitário, temos que discutir uma proposta com o DEM, PP, PPS... O centro tem que se unir, pois dispersando o eleitorado do centro você fortalece os extremos. Parece que o formato dessa eleição vai ser diferente de 1994 até agora, onde houve uma polarização PSDB e PT. A eleição do ano que vem vai ter uma configuração mais parecida com 1989, em que tinha Brizola, Lula, Mário Covas, Ulysses Guimãres, Aureliano Chaves, Caiado, Gabeira, Afif, Collor, Roberto Freire. O Lula foi para o segundo turno com 19% dos votos. O Brizola veio logo atrás. Então dispersou a votação em muitas candidaturas. Se a gente tiver Dória em outro partido, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, preenchendo esse espaço do centro, pode acontecer de todo mundo bater na trave com 17%, 15% dos votos.
Mas o que o PSDB estaria disposto a fazer para unir o centro?
Primeiro temos que ter uma decisão interna. Pode ser que haja um diálogo e todos optem por um nome sem necessidade de prévias. Mas se permanecer esse quadro de duas ou três candidaturas, acho salutar ter as prévias, o que vai galvanizar uma discussão nacional, será a primeira vez que isso acontecerá. Mas é claro que, se não for bem conduzido, deixará feridas abertas.
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