A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara adiou por cinco sessões a votação da admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 412/2009 que dá autonomia funcional, administrativa e orçamentária à Polícia Federal. O requerimento votado na sessão desta terça-feira, foi apresentado pelo PT.
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Raquel Dodge encaminha à CCJ nota contra PEC que dá autonomia à PFRaquel Dodge se manifesta contra proposta de autonomia da Polícia FederalPor 4 a 2, CCJ da Alerj vota pela soltura de Picciani, Melo e AlbertassiO relator da proposta, deputado João Campos (PRB-GO), explicou que a PEC dará à PF a possibilidade de estabelecer suas diretrizes administrativas, fazer sua própria proposta orçamentária, tomar decisões internas sobre abertura de concursos e promoção de diretores.
De acordo com o relator, embora a PEC mantenha a PF subordinada ao Ministério da Justiça, ela abre espaço para que a instituição escolha sua direção. Se aprovada pelo Congresso, ainda será necessária a aprovação de uma lei complementar regulamentando o alcance dessa autonomia. "Vamos dar um caráter perene a autonomia da Polícia Federal no Brasil", sustentou.
A discussão da matéria foi acompanhada por manifestantes e representantes de entidades ligadas à Polícia Federal, como a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal.
A primeira se manifestou contra a PEC, já a segunda a favor. Como já foi encerrada a fase de debates, em cinco sessões o tema vai direto a votação.
Parlamentares se dividiram no plenário sobre a permissão para o prosseguimento da tramitação da PEC na Câmara.
"Essa PEC não merece apoio, não merece acolhida, senão vai incrustar na Constituição um desenho de estado de exceção que não podemos tolerar", defendeu o deputado Wadih Damous (PT-RJ).
A bancada do PT apresentou sua manifestação por escrito contra a PEC. Valmir Prascidelli (PT-SP) disse que a proposta transformaria a Polícia Federal em "poder paralelo para impor uma lógica contrária aos preceitos do Estado democrático de direito" e chamou a PEC de "esdrúxula".
"Em que pese a pressão corporativa, nós precisamos ter a maturidade necessária de compreender o que significará isso para o Estado democrático de direito", afirmou.
Paulo Teixeira (PT-SP) atacou a independência para uma instituição armada, afirmou que a PEC criaria um novo "poder" e disse que a PF precisa permanecer sob controle político da sociedade sob o risco de desestabilizar o sistema democrático.
"Esta instituição Polícia Federal e uma das suas categoria (delegados federais) usa do biombo do combate à corrupção para seu fortalecimento institucional e corporativo. Isso não podemos admitir", discursou.
O petista disse que suas críticas não se alinhavam às manifestações do Ministério Público, que segundo ele também atuava de forma corporativista, mas insistiu que não se pode dar poder à PF sob pena de perder o controle sobre a corporação. "Não podemos dar esse poder exacerbado", pregou.
Deputados da base aliada disseram que só quem tem medo da autonomia da PF quem está sob investigação.
Já o deputado Alexandre Leite (DEM-SP) citou a aprovação da lei que deu autonomia financeira à Advocacia-Geral da União (AGU) como exemplo a ser seguido. "Por que para AGU foi admitido a discussão de independência e para a PF nós tratamos com indiferença? Não vejo problema em discutir a admissibilidade", afirmou.
Da base governista, o deputado Marcos Rogério (DEM-RO) votou a favor da admissibilidade para aprofundar o debate, mas criticou o mérito da proposta.
O deputado condenou o argumento de quem diz que os contrários à PEC são contra a Operação Lava-Jato e afirmou que PF já é uma instituição autônoma para investigar. "Não é honesto dizer que quem é contra a PEC é contra o poder de investigação da PF", declarou.
Rogério enfatizou que o empoderamento de órgãos num momento de fragilidade institucional pode levar o País a uma crise maior no futuro. "É uma proposta que carece de debate maior, precisamos adotar a máxima cautela quanto a esse tema", emendou.
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