Brasília, 10 - Irritado com o racha do PSDB, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, disse que seu partido vive um momento de "histeria" e erra ao defender a saída do governo comandado pelo presidente Michel Temer, correndo o risco de perder a eleição de 2018. Em tom de ironia, o tucano afirmou que "tem gente tingindo o cabelo de preto" para votar contra a reforma da Previdência ao se referir aos chamados "cabeças pretas", que defendem o desembarque dos tucanos.
"Desse jeito, vamos entregar a Presidência para o Lula, em 2018", previu Aloysio, em uma alusão à tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de voltar ao poder. "Engana-se quem pensa que será carregado nos braços do povo por ter desembarcado do governo. O PSDB será julgado por suas ações concretas em benefício do País. Mas como fazer o discurso da razão com o partido em pé de guerra?"
Alvo de petição enviada ao Supremo Tribunal Federal pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que alegou ser "fato incontroverso" o recebimento de R$ 500 mil da Odebrecht para financiar sua campanha ao Senado, em 2010, o ministro admitiu constrangimento com a acusação.
"Eu quero que esse inquérito seja concluído logo. Quero ser investigado porque nada tenho a esconder. É um incômodo ser ministro com esse troço em cima de mim", argumentou ele, sem esconder a contrariedade com a expressão "incontroverso", usada por Raquel.
Senador licenciado, Aloysio decidiu se candidatar à reeleição, em 2018. À reportagem, disse que a defesa feita por ele da permanência do PSDB no governo Temer não tem qualquer relação com sua manutenção no cargo nem com foro privilegiado.
Casa Dividida
Aloysio apoia o governador de Goiás, Marconi Perillo, para a presidência do PSDB, contra o senador Tasso Jereissati (CE), destituído nesta quinta do comando provisório do partido pelo colega Aécio Neves (MG), alvejado pela Lava Jato. Tasso sempre pregou a saída da equipe de Temer.
"Perillo tem mais condições de promover a unidade do partido. Sigo os mandamentos de Mateus 12:25: A casa dividida contra si mesmo será destruída", provocou o chanceler.
Amigo de Alberto Goldman, novo presidente interino do PSDB, Aloysio disse que o ex-governador de São Paulo "é isento e não pertence a nenhuma facção". Na sua avaliação, não houve nenhum "golpe" de Aécio porque tudo foi decidido dentro de normas estatutárias. A convenção do PSDB que escolherá a nova direção do partido está marcada para 9 de dezembro. "Isso (a saída de Tasso) tinha de ser feito para garantir uma disputa equilibrada", observou.
Limites
A briga do PSDB em praça pública, no diagnóstico do chanceler, já passou dos limites e cada vez mais prejudica o tucanato. "A chance de vitória do PSDB, em 2018, é ser o fator de agregação do centro político, formado também pelo PMDB e pelo DEM, com base em uma plataforma que está em andamento.
Ao ser questionado sobre o comentário do senador José Serra (PSDB-SP), para quem "só com psicanálise" alguém entende o PSDB, o ministro abriu um sorriso. "É preciso ver se a gente não enlouquece o psicanalista antes", provocou. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Vera Rosa e Lu Aiko Otta).