A pouco menos de um ano da disputa nas urnas em 2018, partidos, candidatos e marqueteiros ainda afinam o discurso que utilizarão para tentar conquistar o eleitorado. Se a munição ainda está sendo escolhida, a arma, no entanto, está cada vez mais calibrada: as redes sociais. Com a limitação de gastos de campanha, especialistas em marketing eleitoral consideram que o uso da internet será decisivo. E sai na frente quem tem uma maior amplitude de seguidores.
Entre as suas diversas aplicações, o Raid.Cloud analisa o risco de um perfil ser falso, a forma que utiliza as redes sociais e quantos e-mails e telefones são vinculados à conta. Empresas de telefonia, por exemplo, costumam utilizar o software para prevenir fraudes em ligações internacionais
Cruzando dados como quantidade de seguidores, tuitadas, postagens e o engajamento obtido (compartilhamento e comentários, por exemplo), a aplicação montou um ranking sobre influência, exposição da vida pessoal e força emocional dos candidatos. Detalhe: foram analisadas apenas as postagens públicas (principalmente no Facebook, que permite a publicação de textos apenas para os “amigos”) dos presidenciáveis. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), tem conta apenas no Twitter. O uso maléfico das redes por atores mal-intencionados ainda são um desafio para eleitores e candidatos.
No quesito influência nas redes sociais, entre os 11 nomes analisados pelo software, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sai na frente (veja arte). Em uma escala de zero a 100 entre todos os usuários do Twitter e do Facebook, o petista atingiu 64, seguido pela ex-senadora Marina Silva (59) e o deputado federal Jair Bolsonaro (58). O outsider João Amoedo, do Partido Novo, é o menos de influente nas redes, com 44.
Já na análise da exposição da vida pessoal nas redes sociais, a ex-ministra do Meio Ambiente é a que mais publica textos e imagens, com 7, seguida por João Amoedo, com 6. Os números obtidos, no entanto, são bem abaixo da média da população, que costuma ficar na faixa de 25%, no caso brasileiro. Ou seja, nossos presidenciáveis não gostam muito de expor a família e amigos nas postagens públicas.
Em relação ao intervalo emocional dos candidatos, um índice que mede a capacidade de o usuário responder e tratar de temas mais variados possíveis nas redes sociais, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, o eventual substituto de Lula na chapa petista em caso de impedimento do ex-presidente de concorrer por causa das condenaçõ es na Operação Lava-Jato, aparece em primeiro, seguido por Bolsonaro. Lula é o último.
‘PIADINHAS’ Na avaliação do vice-presidente de Marketing e Estratégia da WeDo Technologies, Bernardo Lucas, a análise das contas dos postulantes ao Planalto é importante porque mostra para a sociedade que tudo o que se publica em redes sociais está disponível para análise de humanos e da inteligência artificial. “As ferramentas hoje em dia traçam um perfil da personalidade da pessoa, a forma como o usuário reage a uma postagem. Tudo pode ser classificado”, afirma Lucas. “No cotidiano da população, isso pode trazer problemas, como a restrição de crédito ou dificuldade de recolocação profissional, por exemplo, caso o usuário fique muito fora do padrão de uma empresa em pretenda trabalhar.” “Rede social faz parte de uma estraté ;gia e sai na frente quem sabe usá-la”, completa.
Para o especialista em marketing político Marcelo Vitorino, a rede social é uma vitrine da vida real. “Tem que se perguntar se o discurso é um grande motivador de votos. O Ciro Gomes, por exemplo, fala sem filtros. O caminho para a transparência é ser autêntico. Se você é como o José Serra, não adianta fazer piadinhas”, analisa. Vitorino avalia que o político não está acostumado a ouvir a verdade. “É importante que ele saiba que o mundo não é como as pessoas próximas a ele dizem que é”, alerta. Segundo ele, a rede social deve funcionar como um termômetro, porém, é preciso não confundir um problema de pequenas proporções com uma crise que pode determinar o resulta do da eleição porque a resposta na internet é muito rápida.
O sociólogo Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília, afirma que os candidatos precisarão avaliar o pensamento do eleitorado para colher os frutos na campanha. “É importante que se aprenda a utilizar essas ferramentas tecnológicas para fazer filtragens. Para isso é preciso uma equipe de especializada em tecnologia. Existem muitas saídas, é mais barato do que rádio ou TV.”
*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca