São Paulo, 19/11/2017, 19 - Diante do temor da repercussão eleitoral da Operação Lava Jato nas disputas de 2018, partidos políticos pretendem buscar no mundo corporativo o que consideram uma vacina ética: o compliance. Pelo menos duas grande legendas, o PMDB e o PSDB, planejam implementar mecanismos de transparência e cumprimento de normas similares aos adotados por grandes empresas. Especialistas dizem, porém, que a medida, além de inócua, é uma jogada de marketing das legendas.
Quase quatro anos após o início da Lava Jato, a grande maioria dos partidos ignora internamente as prisões, denúncias e suspeitas envolvendo filiados nas investigações, processos da operação e outros inquéritos derivados da operação.
Um dos partidos mais atingidos, o PMDB está agora sondando consultorias e quer apresentar no seu próximo congresso uma proposta de registros e controles contábeis, recebimento de doações e criação de um novo (e mais rigoroso) código de ética. A legenda, contudo, quer passar uma borracha no passado, uma vez que as medidas não teriam efeito retroativo.
Uma das entidades consultadas foi a Associação Brasileira de Integridade, Ética e Compliance (Abraecom). A Abraecom é uma entidade certificadora, diferentemente das empresas de consultoria que simplesmente implementam o programa de integridade, disse ao Estado o advogado societário Rodrigo Brandão Fontoura, secretário geral da associação.
Ele explica que as medidas não implicariam uma caças às bruxas, já que passariam a valer a partir de sua implementação. Começamos a ser procurados pelos partidos em 2017. A grande maioria dos partidos está desacreditada. Eles querem retomar essa credibilidade perante a sociedade, afirmou.
Há, porém, um elemento que pode causar questionamentos sobre conflito de interesse: o presidente da Abraecom é o jurista Américo Lacombe, que integra o Comitê de Ética Pública da Presidência da República.
Entendo que há conflito de interesse.
Para Sylvia, não há como certificar se um partido está agindo de forma correta. O certificado é inócuo. Será que o partido tem mesmo vontade de seguir normas ou quer vender publicidade?, questiona.
Tempo. O dirigente da Abraecom rebate. Em março próximo encerra o mandato dele (Lacombe) na comissão de ética pública. Como o processo de implementação de compliance em qualquer partido demora quatro meses, com certeza a Abraecom não terá nada assinado até dezembro.
De acordo com Geert Aalberts, sócio da empresa britânica Control Risks, que atua há 40 anos na área de compliance no meio empresarial, a implantação de um projeto eficiente de controle de contas em uma empresa demora entre seis meses e um ano, pois implica treinamento de funcionários e a criação de uma cultura interna.
No PSDB, o senador Tasso Jeiressati (CE) também pretende implementar uma política de compliance se for eleito presidente do partido. A medida, porém, dividiu a legenda. Aliados do senador Aécio Neves (MG) temem que Tasso use a ideia para fazer uma auditoria interna como retaliação pela disputa interna pelo comando do partido. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo).