Jornal Estado de Minas

Sem Luciano Huck, nomes conhecidos na política retornam com força


A decisão tomada pelo apresentador de TV Luciano Huck de não concorrer à presidência da República faz com que a bússola política nacional volte a apontar para candidaturas de nomes mais tradicionais, já testados eleitoralmente e, que não representam a renovação no cenário público.

Além dos atuais líderes nas pesquisas eleitorais, colocados em polos extremos da disputa — Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro —, abre-se uma brecha para uma candidatura de centro, que, no momento, poderia ser representada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

A situação repete-se nas expectativas de renovação do Congresso, que não deve fugir muito do percentual verificado em anos anteriores, na casa dos 45%.

No caso dos governos estaduais, a expectativa de mudanças é ainda menor, à exceção do Rio, um estado que se encontra em situação conflagrada com todos os governadores eleitos desde 1998, todos os presidentes da Assembleia Legislativa Estadual (Alerj) e cinco dos seis desembargadores do Tribunal de Contas Estadual presos.

Lá, o Partido Novo lançou o nome do ex-técnico da seleção brasileira Bernardinho ao governo estadual. Este já adiantou que poderá ter o ex-secretário de segurança pública José Mariano Beltrame como vice.

Alckmin ganhou fôlego após a pacificação do PSDB (leia mais na página 3). Já Meirelles avisou, durante evento em São Paulo, que tem até março para decidir se concorrerá ou não à presidência da República. Pesquisas mostravam que Huck tinha uma aprovação de 60% — na prática, uma avaliação positiva, o que não significa intenção de voto.

Nessa segunda-feira (27), o apresentador publicou artigo na Folha de S. Paulo dizendo que chegou a ser seduzido pelo canto das sereias, mas que desistiu. Colocou-se como alguém disposto a ajudar no debate, mas não para ser candidato neste instante.

“O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país (...) Mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional”, afirmou ele, no artigo.

Durante debate promovido pela revista Veja, em São Paulo, Huck afirmou que “nunca chegou a ser candidato de fato e disse que seria uma insanidade promover uma ruptura tão grande na sua carreira como apresentador e com sua família”.

Ele é casado com a apresentadora Angélica e tem três filhos. Para o também apresentador de televisão João Soares, Huck errou ao desistir da candidatura.
“Ele é inteligente, preparado. Até qual idade vai ficar apresentando programas que distribuem prêmios?”

Huck tornara-se a moda da vez, embora o prefeito de São Paulo João Doria já tenha flertado com esse adjetivo de novo na política. Mas como os próprios tucanos admitem, ele queimou a largada. Munido de pesquisas internas que mostram o derretimento de sua imagem perante a população, resolveu recolher os flaps e admite, agora, concorrer ao governo de São Paulo. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa conversou diversas vezes com o PSB e a Rede, até sinalizou simpatia com a possibilidade de ter como vice Marina Silva mas, até o momento, não bateu o martelo quanto a nada.

Experiência complexa


Na opinião do cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf, Huck conseguiu distinguir a pré-campanha da campanha, quando as críticas e os ataques tenderão a se tornar ainda mais duros.

Maluf afirma que, mesmo sendo um nome acima da média, que frequenta a academia e tem um certo embasamento intelectual, a vida de Huck poderia ser fácil em um determinado momento, mas governar seria uma experiência complexa. “Se é possível sonhar com uma candidatura sem um partido relativamente forte para apoiar, é impossível governar sem legendas estruturadas ao seu lado”, afirmou Rui Tavares.

O professor de ciência política do Insper Carlos Melo é mais cético quanto às palavras de Huck, ao lembrar que ele próprio escreveu que não seria candidato, mas que permaneceria disposto a ajudar no debate. “Na prática, significa dizer: estou aqui, qualquer coisa me chamem”, disse Melo.

Ele afirmou, contudo, que, embora  haja a dificuldade de encontrar uma opção de candidatura outsider, esse espaço permanece aberto.
“A grande questão é saber qual é embate dessa eleição: é entre um candidato reformista e outro conservador? É entre esquerda e direita? É entre o representante do sistema e um que esteja fora dele?”, questionou Melo. “Sem isso, não há como definir qual o perfil desse outsider”, concluiu.
.