Jornal Estado de Minas

Possíveis opções para 2018, Meirelles e Alckmin têm arestas a aparar com aliados


O centro precisará marchar unido nas eleições de 2018 para evitar que a corrida eleitoral seja dominada e decidida pelos extremos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PSC). A pulverização de candidaturas não ajuda em um cenário de descrença na política tradicional e de financiamentos espartanos de campanha, avaliam estrategistas alinhados ao governo. A fórmula parece simples. Mas, até o momento, as duas opções que se apresentam mais viáveis – o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD) – têm uma série de arestas a aparar interna e externamente se quiserem sonhar com o Palácio do Planalto.

Nem mesmo a sinalização de que a economia começa a retomar o crescimento, projetando um Produto Interno Bruto (PIB) de 3% para o ano que vem, é suficiente para amenizar os obstáculos, que começam com o próprio modelo de financiamento de campanha. Sem arrecadação privada e com a conhecida falta de disposição do brasileiro de doar como pessoa física, os partidos precisarão custear as campanhas com base no fundo eleitoral. “Se o PSDB partir para a radicalização e não se alinhar ao Planalto, não terá dinheiro para bancar a corrida”, previu um interlocutor do presidente Michel Temer.

Temer vai buscar até o último momento manter coesa a atual coalizão governista, que inclui PR-PP-PSD-PMDB-DEM-PRB-PSC, e construir uma candidatura única nesse grupo de partidos. Embora deseje ardorosamente que os tucanos estejam nesse projeto, o presidente sabe que a parceria precisa ser construída a partir do reatamento das relações com o próprio Alckmin, estremecidas desde a apresentação da primeira denúncia contra o peemedebista, em maio deste ano. Por isso, a análise do fundo eleitoral é crucial: quanto maior a coligação, mais dinheiro disponível para garantir uma candidatura presidencial e nomes fortes nos estados.

Com os sinais ainda hostis enviados pelo PSDB, Temer autorizou Henrique Meirelles a se aventurar.
Embora seja o nome enxergado pelo mercado como o grande fiador do rearranjo da economia, o ministro da Fazenda tem fantasmas difíceis de exorcizar no atual momento. A falta de traquejo político alia-se ao desconhecimento que tem perante o eleitorado, com 2% de intenção de voto.

Além disso, o cargo que ele exerce pode ter um bônus e um ônus ao mesmo tempo. Pode dizer que arrumou a casa e garantiu a volta do crescimento. Mas também será acusado de ser o médico que aplicou remédios amargos, como a reforma trabalhista, o congelamento dos gastos públicos por 20 anos e, ao que parece a cada vez menos provável reforma da Previdência. “Não é fácil, óbvio. Mas Meirelles vai dizer que o Brasil não pode mais errar. Que ele ajudou a arrumar a rota e vai continuar fazendo com que o país caminhe na direção certa”, aposta o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino.

Meirelles, contudo, pode ser obrigado a lutar com inimigos internos.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, partido ao qual o ministro é filiado, é colega de Esplanada – comanda o Ministério de Ciência e Tecnologia –, mas sonha com uma dobradinha com o PSDB, ao menos em São Paulo. Caso o senador José Serra decida concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, Kassab poderá se apresentar como seu vice, o que o aproximaria de Alckmin no plano nacional.

JOGO PARADO

A vida do governador paulista tampouco é simples. O tucano, conhecido na vida política como alguém avesso a movimentos bruscos – na linguagem do futsal seria aquele que joga parado –, foi obrigado a se movimentar e assumir o comando do PSDB para evitar que o partido se esfacelasse na disputa entre o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o senador Tasso Jereissatti (CE). O primeiro grande desafio que terá de enfrentar é equilibrar as diversas tendências na escolha dos cargos da Executiva Nacional e do Diretório Nacional, que serão definidos na convenção do partido, marcada para o próximo sábado (9).

Outra questão que dificultará a vida do pré-candidato tucano é como ele vai se relacionar com o PMDB, legenda que está desgastada pela denúncia contra nomes importantes do partido, mas que sempre é fiador de qualquer candidato que sonha assumir o Planalto. “O PMDB tem uma imagem de fisiologismo muito arraigada, algo que, atualmente, provoca repulsa no eleitorado. Quanto mais próximo o PSDB estiver, maior o carimbo de fisiologismo. É um equilíbrio que Alckmin precisará encontrar”, adianta Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.

Candidata pela 3ª vez


A ex-ministra Marina Silva (Rede) anunciou ontem que será pela terceira vez candidata à Presidência da República. A declaração surge em meio às movimentações de alguns deputados do partido para deixar a legenda, que pode acabar perdendo metade de sua atual bancada na Câmara, de quatro deputados.
Na reunião chamada Elo Nacional da Rede, em Brasília, representantes do partido nos estados entregaram a Marina os resultados das conferências estaduais que aconteceram nos últimos dois fins de semana, que pediam que ela colocasse seu nome como pré-candidata da legenda. “Obviamente que não estaríamos aqui para dizer um não. O compromisso, o senso de responsabilidade, sem querer ser a dona da verdade, me convoca para este momento”, disse Marina.

 

 

Disputa ideológica


 

Não são apenas as candidaturas de centro que geram dúvidas. O fôlego dos nomes colocados à esquerda e à direita também deixam espaço para questionamentos. “Lula vem se consolidando, mas não creio que ele conseguirá ser candidato. E a outra opção colocada, Ciro Gomes, começa a perder consistência ao criticar legendas do próprio campo ideológico”, afirma o professor de economia do Ibmec-MG Adriano Gianturco.

Bolsonaro é uma candidatura que há muito deixou de ser folclórica. No início, muitos políticos e analistas achavam que o deputado fluminense teria um teto de crescimento. Mas esse limite já foi superado diversas vezes e hoje ele é visto como um nome que faz um discurso bastante convincente para parcelas importantes da sociedade, sobretudo aqueles insatisfeitos com o atual momento do país. “Se o centro não conseguir definir um nome, a eleição ficará entre Lula e Bolsonaro, com resultados imprevisíveis”, disse um estrategista político do PMDB.

O PMDB, por enquanto, também não definiu para que lado vai. A pessoas próximas, o presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR), avisou que a legenda vai esperar até o último momento para definir o destino.

Alguns peemedebistas acreditam que a opção preferencial é por Geraldo Alckmin, nome considerado mais consistente política e eleitoralmente. Mas, se o centro não se definir e ocorrer um hoje possível, mas pouco provável a longo prazo, segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o partido poderá reeditar a parceria com os petistas, desconsiderando as acusações mútuas de golpismo. (PTL)

 

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