Rio, 04 - O ortopedista e ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes, preso da Operação Lava Jato na Cadeia Pública de Benfica, declarou à polícia que não detectou as lesões em um pé relatadas por Anthony Garotinho após suposta agressão dentro do presídio. Em depoimento nesta segunda-feira, 4, o médico disse que o ex-governador apresentava somente uma lesão no joelho direito, e que esta não poderia ser compatível com um porrete ou taco de beisebol - instrumento que Garotinho diz ter sido usado por seu agressor.
Côrtes o atendeu no dia 24 de novembro, logo após o ex-governador denunciar aos funcionários da cadeia que tivera sua cela invadida. "Sérgio Côrtes disse que fez um exame apurado de todo o corpo e não detectou outra lesão que não a do joelho direito. Ele fez um laudo, Garotinho leu e assinou. Ele não se queixou de lesão no pé. Estamos analisando para que não reste qualquer dúvida", afirmou o delegado Carlos César Santos, da 21ª Delegacia de Polícia Civil do Rio, em Bonsucesso.
Cinco presos ouvidos nesta segunda-feira disseram não terem ouvido nada de suas celas, mas quatro ressalvaram que haviam tomado medicamento para dormir e um que usava protetor auricular. De acordo com Garotinho, um homem branco de estatura média entrou na cela de madrugada e o atingiu no joelho e no pé direitos. O homem ainda teria dito que ele "falava demais" e que só não iria matá-lo para não implicar os presos da Lava Jato que estão na mesma cadeia.
Nas fotografias tiradas pela polícia, o joelho e o pé direitos do político estão com manchas roxas.
"A transferência do presídio de Benfica foi solicitada pelos advogados e pela família de Garotinho. A intenção foi garantir a integridade física de Garotinho, o que foi acolhido no pedido do Ministério Público estadual. Vale lembrar que o ex-governador foi ameaçado inúmeras vezes por autoridades atualmente presas em Benfica."
Privilégios na cadeia
Também em Benfica, o Ministério Público ouve o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e outros presos da Lava Jato sobre a doação de equipamentos para a instalação de uma sala de TV no presídio. A aquisição foi cancelada pela Seap depois que o caso foi divulgado, em novembro.
A compra dos equipamentos - aparelhos de TV, DVD e home theater - teria sido feita em dinheiro vivo por ordem de Wilson Carlos, que foi secretário de Governo de Cabral e também está em Benfica. Ele iria "operar a sala" em troca de remição de pena (a cada três dias de trabalho, a pena diminuiria em um dia).
(Roberta Pennafort).