Rio, 07 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou nesta quinta-feira, 7, em ato em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que não é contra a Operação Lava Jato - da qual é réu -, mas sim crítico das delações premiadas.
"Não pensem que sou contra a Lava Jato. Prender ladrão é uma necessidade nesse País. Eles prenderam alguns e soltaram alguns. Todo cara que faz delação é porque roubou. Faz para devolver ao Ministério Público apenas uma pequena parcela do roubo e viver rindo às custas do que roubou", disse, referindo-se a ex-executivos da Transpetro e da Petrobras. "Vamos ver como estão vivendo o Sérgio Machado, o Paulo Roberto Costa?"
Ele disse também que armar a população e reforçar o poderio bélico das polícias não vão reduzir a violência - alusão indireta ao deputado Jair Bolsonaro (PSC), virtual candidato à Presidência da República em 2018 que aparece em segundo lugar nas pesquisas de opinião.
"A solução desse País não é arma, é trabalho, salário, educação. Se um menino de 17 ou 18 anos tiver escola e trabalho e puder comprar um celular, um tênis, uma camiseta da hora, ele não vai roubar", pontuou, em discurso de 25 minutos para centenas de pessoas.
Lula disse que não é candidato oficialmente, mas afirmou que vai ganhar se concorrer ao Planalto. "Eu não precisava fazer o que estou fazendo.
Ao falar do Rio de Janeiro, que vive crise fiscal, com atraso salariais de servidores, há dois anos, desafiou: "Só existe uma possibilidade para o Rio, é ter um presidente comprometido com o Rio. É por essas razões que resolvi voltar."
O palanque de Lula foi montado na Praça do Relógio, no centro na cidade, uma área de comércio popular. A praça começou a encher por volta das 11 horas e Lula falou ao público a partir das 14h40, duas horas depois do horário inicialmente anunciado.
O aposentado Francisco Caetano, de 66 anos, esperou mais de três horas sob mormaço forte. "Como não vou esperar pelo único presidente que governou para os pobres? Por que a Lavo Jato quer prender o Lula e o (presidente Michel) Temer fica solto?", disse. O músico Alex Tavares, de 33 anos, acha que o povo irá para as ruas numa eventual ordem de prisão. "Lula protegeu o povo, o povo protege Lula", justificou.
Antes de Lula chegar, algumas pessoas passaram pela área junto ao palco e gritaram "safado", "ladrão" e "corrupto", mas eram minoria.
O ex-presidente está em caravana pelo Espírito Santo e o Rio desde segunda-feira. Conclui a viagem na sexta-feira, na capital do Estado. Ele fez outras caravanas em 2017, no Nordeste e em Minas Gerais.
O processo a que Lula responde no caso do triplex no Guarujá (SP) está no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) e o julgamento deverá sair antes do início da campanha presidencial, possivelmente ainda no primeiro semestre de 2018. Se o TRF-4 confirmar a decisão da primeira instância, ele será barrado pela Lei da Ficha Limpa - ficará inelegível por sete anos.
Líder de todas as pesquisas de intenção de voto para presidente, Lula foi condenado em julho pelo juiz federal Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. O juiz entendeu que ele recebeu o triplex como propina da construtora OAS em troca de contratos da empresa com a Petrobras.
(Roberta Pennafort).