Rio, 07 - O presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), teria recebido R$ 49 milhões de propina de empresários de ônibus do Rio, segundo denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) na noite dessa quarta-feira, 6. Segundo o MPF, os empresários de ônibus José Carlos Lavouras e Jacob Barata Filho - o "Rei do Ônibus" -, o ex-presidente da Fetranspor Lélis Teixeira e o presidente do Setrerj (Sindicato de Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro), Marcelo Traça, foram responsáveis pelos pagamentos ao deputado.
Conforme o MPF, "os quatro denunciados não só se comprometeram com os pagamentos, como também criaram todo um esquema paralelo para viabilizar a corrupção sistêmica dos principais agentes políticos do Estado, por conseguinte se beneficiaram com os atos de ofício praticados por esses agentes corruptores".
Ao todo, vinte e seis empresas de ônibus "contribuíram" com R$ 250 milhões para a "caixinha" da propina a políticos. As informações estão em um pen drive entregue por delatores ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O valor foi aportado pelas empresas apenas no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2016.
Elas foram rastreadas por meio das delações do doleiro Álvaro Novis e do operador Edimar Dantas. Ouvido pela Procuradoria-Geral da República, Novis disse que sabia que os pagamentos feitos pela Fetranspor (entidade que congrega dez sindicatos de empresas de ônibus responsáveis por transporte urbano) eram realizados para garantir benefícios relacionados a linhas de ônibus e tarifas.
O delator afirmou que as empresas de ônibus entregavam o dinheiro em espécie em transportadoras de valores, em contas onde eram depositados os recursos arrecadados com passagens. As contas eram usadas para poder movimentar os valores das empresas de ônibus e para fazer os pagamentos aos beneficiários finais.
Defesas
A defesa do empresário José Carlos Lavouras divulgou breve nota em que repudia as acusações com base em afirmações de delatores.
"Delações visam a dar prêmios a criminosos confessos, que ficam impunes. Por isso, delatores reiteradamente faltam com a verdade e induzem autoridades em erro. Por este motivo, tantas delações estão se revelando inconsistentes", diz o texto.
A defesa de Jacob Barata Filho afirmou, também por nota, que "não há qualquer evidência de distribuição ou recebimento de dinheiro ilícito em prol de qualquer agente público por parte do empresário".
A reportagem está tentando ouvir os demais acusados.
(Constança Rezende)