O presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB-RJ), admitiu em depoimento à Polícia Federal ter vendido gado para uma empresa controlada pela Carioca Engenharia. Uma executiva da construtora afirmou, no ano passado, que a transação foi realizada para maquiar suposto pagamento de caixa 2 ao peemedebista no total de R$ 1 milhão.
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Picciani recebeu R$ 49 milhões de empresários de ônibus, diz denúncia do MPFPicciani recebeu R$ 11 milhões da Odebrecht, aponta denúnciaMinistério Publico denuncia Picciani, Melo e Albertassi por corrupçãoO Ministério Público Federal (MPF) denunciou Picciani e seu colegas de partido Paulo Melo e Edson Albertassi, também deputados da Alerj, e outros 16 investigados no início deste mês por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Picciani nega que tenha feito caixa 2 com superfaturamento de gado. Ele e os outros dois deputados chegaram a ser presos, mas foram soltos após a Alerj votar pela libertação dos parlamentares - em seguida, foram presos novamente por decisão do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2).
No acordo de leniência fechado com o MPF em 2016, a matemática Tania Maria Silva Fontenelle, que foi diretora financeira da Carioca Engenharia, disse ter comprado "vacas superfaturadas" da empresa da família de Picciani. Na versão dela, o caixa 2 foi gerado por meio da compra de animais. "(As vacas) foram efetivamente entregues, porém parte do valor pago foi devolvida em espécie à Carioca Engenharia", afirmou ela à época.
No depoimento de Picciani, a PF questionou o parlamentar sobre a venda de cabeças de gado para a Zi Blue em meados de 2012 e em 2013. Segundo o peemedebista, Ricardo Pernambuco, um dos controladores da Carioca, "tem muito conhecimento (50 anos) na área de criação de nelores".
Segundo o relatório do depoimento, Picciani admitiu "ter havido duas aquisições, nos anos de 2012/2013, pela empresa Zi Blue, de 160 cabeças de gado da empresa Agrobilara".
"Pela experiência, Ricardo escolheu boas matrizes genéticas; que após a escolha, foi fixado o valor da negociação, sendo paga em 10 parcelas a aquisição realizada em 2012, e a de 2013, também sendo paga em 10 parcelas", disse Picciani.
Vacas
Segundo o Ministério Público Federal, as operações de compra e venda de 160 vacas, efetuadas entre a Agrobilara e a Zi Blue, entre 2012 e 2013, tiveram pagamentos efetuados no período de 25 de maio de 2012 a 6 de janeiro de 2014, no montante de R$ 3,5 milhões. Os procuradores afirmam que o negócio gerou a devolução em espécie de R$ 1 milhão para a Carioca.
Picciani descreveu à Polícia Federal as atividades da Agrobilara. O peemedebista afirmou que se trata de uma empresa de participações que "tem como atividade principal, a agropecuária, mas também arrenda imóveis para o plantio de soja e cana, bem como participa de outras empresas como cotistas ou acionistas".
Segundo Picciani, a Agrobilara possui fazendas e imóveis. Uma das fazenda fica no município de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso, e está arrendada para plantio de soja. Outras duas fazendas e uma chácara são em Uberaba, em Minas, onde está o criatório e os animais. A empresa, ainda de acordo com o parlamentar, em uma pequena propriedade na cidade de Veríssimo, em Minas, e uma fazenda pequena, na cidade de Rio das Flores, no Rio. Todos esses imóveis estão em nome da pessoa jurídica Agrobilara, disse Picciani.
O presidente licenciado da Alerj disse à PF que sua fonte de renda é composta por seu salário como deputado estadual, uma aposentadoria, além de pró-labore e distribuição dos lucros da Agrobilara.
À PF, o deputado relatou ter negociado gado com o ex-presidente do Tribunal de Contas do Rio Jonas Lopes. Picciani disse que "entabulou negócio entre Jonas Lopes e a Agrobilara".
Em delação premiada, Lopes disse que ajustou com Picciani o subfaturamento da operação para comprar gado. A PF o questionou se teria negociado com Jonas Lopes a devolução de parte do valor do negócio em uma transação que envolveu dinheiro em espécie.
O deputado afirmou que "não houve qualquer devolução de valores envolvendo Jonas Lopes e a Agrobilara". Picciani disse ainda que "nunca" recebeu doação de campanha ou vantagens por parte dos empresários do ramo de transporte..