O federalismo republicano, no Brasil, tem uma triste história. Foi (e é) uma arma das oligarquias estaduais para controlar o poder em benefício próprio. Para isso precisam calar os opositores e contar com a boa vontade do poder central. Os mandões locais, na feliz expressão de Euclides da Cunha, não aceitam críticas. Têm ódio da liberdade de imprensa. Fazem de tudo para que o artigo 220 da Constituição não vigore. Pressionam os jornalistas. Chegam a pedir a demissão daqueles que não se dobram à sua despótica vontade.
O poder local tem uma longa história. No primeiro quartel do século 19, uma questão política dividiu os líderes independentistas: a forma de organização do futuro Estado. Com a transferência da corte portuguesa, em 1808, a importância da centralização do poder no Rio de Janeiro cresceu ainda mais.
No Brasil, onde, diferentemente da América espanhola, vai ser adotada a monarquia, havia uma séria divergência: centralismo ou federalismo?. No centro da polêmica estavam os Estados Unidos da América, que, por meio da Constituição de 1787, consagraram o regime federalista. Explicava-se tal organização tendo em vista as particularidades em relação às possessões espanhola, portuguesa, francesa e holandesa no continente americano: as 13 colônias tiveram relativa autonomia e o autogoverno foi uma característica do processo colonial. Assim, o federalismo foi produto de um desenvolvimento histórico sem paralelo no continente americano.
Na América Latina, o federalismo foi um instrumento das elites provinciais para manter o poder local, garantindo privilégios de toda ordem.
No Brasil, o federalismo esteve presente nas lutas da independência, especialmente em Pernambuco. Lá, em 1817 e 1824, os federalistas chegaram até a rebelião armada contra as imposições arbitrárias vindas do poder central, no Rio de Janeiro. Diferentemente da América espanhola, os federalistas pernambucanos apontavam a necessidade imperiosa da adoção da autonomia provincial como instrumento para a organização democrática do Estado brasileiro. Foram derrotados, mas a ideia federalista permaneceu em algumas das rebeliões ocorridas no período regencial.
Com a consolidação do Império, o federalismo perdeu espaço político. Reapareceu nos anos 1870 ,através do movimento republicano, especialmente em São Paulo, mas com novo sentido. Com a proclamação da República, em 1889, foi adotado como a forma organizativa do novo Estado. Isso explica, ao menos em parte, como se consolidou o regime quando havia um pequeno número de republicanos. Ou seja, à adesão à República foi por puro oportunismo: os oligarcas desejavam ter poder local, ter as mãos livres, não ficar dependentes do centro, do Rio de Janeiro, como determinado pela Constituição de 1824.
De 1891 até hoje, passamos por sete constituições – desde que consideremos a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, como uma Constituição.
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