A Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covem) apresentou, na manhã desta quarta-feira (13), o relatório das investigações sobre as violações de direitos humanos no período da ditadura militar no estado. Um dos pontos destacados no documento foi a conclusão de que o ex-presidente Juscelino Kubitscheck provavelmente foi assassinado.
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Mortes de JK, João Goulart e Carlos Lacerda inspiram livroJustiça nega exumação de restos mortais do motorista de JKJustiça mineira nega solicitação para nova exumação dos restos mortais de motorista de JKComissão da Verdade de São Paulo quer contestar versão de morte de JK na JustiçaRelatório sobre morte de JK incomoda e provoca reação120 anos do mineiro que fez história no BrasilGraças aos que lutaram que autoritários podem ter democracia, diz Pimentel ao receber relatório da Comissão da VerdadeNo novo relatório, a comissão mineira (Covemg) diz que é “plausível, provável e possível que as mortes (de JK e seu motorista Geraldo Ribeiro) tenham ocorrido devido a um atentado político”. Juscelino morreu quando viajava do Rio de Janeiro para São Paulo em um opala conduzido pelo motorista Geraldo Ribeiro. Próximo a Resende, o carro cruzou o canteiro central em direção à pista oposta e bateu em uma carreta. A versão oficial é que um ônibus teria batido no opala e provocado o acidente. O motorista foi absolvido.
Para chegar à conclusão, o grupo analisou as pesquisas das comissões nacionais e estaduais da verdade que já concluíram os trabalhos. A Covemg aponta contradições como o fato de não ter sido feita uma perícia na pista e o fato de não terem sido feitos exames toxicológicos no motorista de JK. Outro ponto apontado são fotos diferentes do opala constatadas nos laudos periciais.
O coordenador da subcomissão que analisou o caso, Carlos Melgaço Valadares, diz ainda que uma perícia feita 20 anos depois pela Delegacia de Resende concluiu que não houve sabotagem, porém a chapa do carro analisado não era a do veículo de JK. Para o pesquisador, JK teria sido morto por sua oposição à ditadura e por defender as eleições diretas.
No relatório de 1.781 páginas, feito em quatro anos por mais de 100 pesquisadores, a Covemg também conclui que o Estado deve ser responsabilizado pela omissão ou conivência em casos de tortura, morte e desaparecimento. Segundo o coordenador da comissão, Robson Sávio Souza, o grupo mineiro apontou tentáculos da ditadura nos três poderes de Minas Gerais e no setor privado.
De acordo com o relatório, associações e empresas de áreas como mineração, siderurgia e reflorestamento eram aliados de primeira hora do regime. “Você tinha uma rede que tinha políticos, empresários e outros agentes do estado que se aproveitaram desse período para promover violação dos diretos humanos no estado. A ditadura era um corpo muito mais amplo do que conhecemos”, disse.
Entre os braços estatais, a comissão apontou a Ruralminas que “atuou pela legitimação de terras griladas em detrimento dos posseiros”. Por isso, uma das recomendações do grupo é que a Assembleia faça uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a instituição.
Sávio destacou ainda que, entre os trabalhadores rurais, o número de mortos, apontado pela comissão mineira, é maior dos que já haviam sido divulgados. De 78 assassinados, o documento passa a 109.
A Covemg expediu uma série de recomendações para os três poderes do estado para evitar que práticas consideradas como “resquício da ditadura” continuem a ocorrer em Minas. “Muitas das práticas que ocorriam no período ditatorial, como tortura e violação sistemática dos direitos humanos continuam ocorrendo. Então, o relatório recomenda uma série de questões que podem mitigar essas práticas e trabalhar com a prevenção delas”, afirmou o coordenador.