O governador Fernando Pimentel (PT) afirmou nesta quarta-feira, durante solenidade de entrega do relatório final da Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg), que, graças à luta dos que combateram a ditadura que os que, atualmente pedem a volta do regime, podem dar sua opinião sem serem presos.
“Que sorte têm hoje os autoritários que nós tenhamos lutado pela democracia e que agora eles possam bradar pela ditadura sem risco de serem presos ou desaparecidos”, afirmou. Pela manhã, o documento foi apresentado durante audiência pública na Assembleia.
O relatório final da Covemg, que tem 1,781 páginas, fruto do trabalho de mais de 100 pesquisadores, foi entregue ao governador em cerimônia no Palácio da Liberdade. Em seu discurso, o governador lembrou ainda que o endereço foi usado pelos que cometeram as arbitrariedades e ataques aos direitos humanos durante o período.
“Estamos no mesmo palácio que abrigou os golpistas. Daqui saiu o golpe. E agora este palácio recebe os resistentes. Quis a história que fosse eu o governador. Faço desagravo a todos que sofreram, alguns pagaram com a vida, principalmente neste momento sombrio.”, afirmou.
A cerimônia teve início com a música “O Bêbado e a Equilibrista”, considerada uma espécie de hino dos anistiados, composta por Aldir Blanc e João Bosco. Quem puxou o coro foi Emely Salazar, conselheira da comissão da verdade, psicóloga, torturada no período compreendido entre 1971 e 1974.
O coordenador da comissão, Robson Sávio Souza, afirmou que o documento traz recomendações. “Relatório elaborou recomendações aos três poderes de Minas Gerais. A implementação dessas recomendações será sinal de respeito aos mineiros representados pela comissão da verdade”, disse ele.
Sávio aproveitou ainda para relembrar a recente operação da Polícia Federal que levou para depor o reitor e ex-reitores da UFMG, sob suspeita de irregularidades na construção do Memorial da Democracia. “Ataque a UFMG, às artes, a cultura são demonstração hoje que o autoritarismo se arvora contra a democracia. “, criticou Robson Sávio, considerando importante a luta para rememorar as mortes e luta contra o período da ditadura militar.
No relatório, feito em quatro anos por mais de 100 pesquisadores, a Covemg conclui, entre outras coisas, que o Estado deve ser responsabilizado pela omissão ou conivência em casos de tortura, morte e desaparecimento. Segundo o coordenador da comissão, o grupo mineiro apontou tentáculos da ditadura nos três poderes de Minas Gerais e no setor privado.