Jornal Estado de Minas

Temer diz que 'popularidade é uma jaula' e impede governante de realizar 'atos indispensáveis'


Brasília – A reforma da Previdência não chegou a ser aprovada. Mas o balanço político de 2017 do governo federal é altamente positivo, avaliou nessa sexta-feira o presidente da República, Michel Temer. Em café da manhã com jornalistas, no Palácio da Alvorada, o peemedebista enfatizou todas as conquistas no ano e respondeu solicitamente a questionamentos feitos por meio de sorteio.

Otimista, assegurou que continuará trabalhando para aprovar a proposta que atualizará o sistema previdenciário.

Sem citar nomes, Temer não perdeu a oportunidade de criticar o empresário Joesley Batista, sócio da JBS, e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Não deixou de agradecer o apoio dado pelo Congresso Nacional, a quem julga que deixou de ser uma espécie de “apêndice” do Executivo.

O diálogo mantido com o Congresso, para Temer, foi fundamental para aprovar as várias medidas e reformas encaminhadas pelo governo, como a reforma trabalhista, a reforma do ensino médio, o Novo Fies, o reajuste e melhoria do Bolsa-Família, entre outras. E todas essas ações foram adotadas, de acordo com ele, sem incorrer ao populismo.

Para Temer, o populismo é uma “jaula” que impede o representante público de praticar “certos atos indispensáveis” por questões eleitorais, como eventuais reeleições. As eleições de 2018, por sinal, foi um tema debatido pelo peemedebista.

Não garantiu que será candidato à reeleição, mas também não bateu o martelo em relação ao sucessor, despistando se o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será o representante do governo.

Previdência


“(Em caso de derrota na aprovação da reforma) perde o governo até simbolicamente. Mas, na verdade, o que pode ocorrer é quebrar o controle que, hoje, existe, sob a inflação e juros.
Seria péssimo para a economia, além do descrédito de natureza nacional e internacional. Me recordo que, em 1995 e 1996, teve uma reforma da Previdência proposta pelo governo FHC (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República). Perdeu por um voto. Aí, fez-se uma emenda aglutinativa e o presidente pediu que eu relatasse. Fiz o relatório, que acabou sendo aprovado. E acrescento um dado para os nossos colegas parlamentares, que temem em votar por conta do ano eleitoral. Tinha sido eleito em 1994 com 71 mil votos.
Depois, fui o relator, e fui reeleito com 206 mil votos. As pessoas perceberam que a reforma não era um bicho papão. Foi em benefício do país e não causou prejuízo a ninguém.”

Questão

“Vários partidos já fecharam questão. PMDB, PPS, PTB, PSDB, fecharam questão. Eu penso que, até o momento da votação, outros partidos fecharão questão. Agora, não me parece que isso seja um fator envolvendo eventuais candidaturas.”

Populismo

“Apresentei e fiz tudo o que o Brasil precisa. A popularidade é uma jaula. Quando procura o populismo, você se enjaula.

Porque você quer se reeleger, ou algo dessa natureza, e fica com medo de praticar certos atos indispensáveis para o Brasil. E, com isso, vejam o que aconteceu com a inflação e com os juros. Vejam o que aconteceu com todos os índices estritamente favoráveis neste um ano e meio de governo. Não adotamos medidas populistas. Não temos a preocupação com isso. Medida populista, repito sempre, é aquela que pratica hoje, é aplaudido amanhã, e é criticado severamente depois de amanhã. Nós praticamos, quem sabe, medidas populares. São aquelas que praticam hoje, com certa pressão, mas que são aplaudidas e reconhecidas lá na frente. É isso que temos feito ao longo do período.”

Popularidade


“A questão da corrupção, etc, prejudicou muito o governo. E prejudica muito a popularidade.
Uma pesquisa revela que as pessoas têm vergonha de dizer, embora aprovem o governo, que aprovam o que o presidente faz, têm um certo pudor. Mas poxa, pensam “governo corrupto, todos são corruptos”, então cai a popularidade. Fruto do quê? Fruto de uma irresponsabilidade de setores privados e um setor pelo menos público. Isso prejudicou muito o país. Vocês sabem que estava tudo ajustado para aprovar a Previdência e, não foi em face daqueles fatos. Mas a pesquisa não levou em conta os benefícios que o governo traz. As pessoas ficaram naturalmente inibidas com a grande campanha “todos são corruptos, etc”. E se baseiam não no que fizemos, mas no que os detratores disseram, e foram obrigados a desdizer. Mas o desdizer às vezes não tem muita significância do que dizem.”

Reconhecimento

“Mas veja que curioso, nossa popularidade aumentou 100%. Foi de 3% para 6%.
Mas aumentar isso não é fácil (risos). Agora, estamos em dezembro. Imaginem quando chegar em março e abril. Eu penso que seja o Meirelles (possível candidato do governo à Presidência), ou quem for, nós, em março, abril, maio, junho, julho, agosto, o governo estará sendo reconhecido pelo desmascaramento dos que se mascararam para aludir e portanto, eu acho que nós teremos muitos eleitores nas eleições.”

Eleições

“O que eu acho que pode ocorrer no Brasil é que haverá candidatos mais externados e um candidato de centro. Não centro no sentido de esquerda ou direita, mas centro. O que as pessoas querem é uma política de resultados. E quando se fala em política de resultados, o que querem é alguém moderado, que saiba compor as várias correntes políticas do país. Alguém que não seja guiado por um certo mal-estar. O que o povo vai procurar é isso. vai acompanhar e vai dizer: ‘esse sujeito aí eu vejo na televisão’. E aí eu digo: o horário da televisão vai ser importante.  O povo, o eleitor, vai olhar e vai dizer: ‘acredito neste’. Os que se externarem acredito que terão dificuldades. Eu, naturalmente, até prefiro que seja alguém comprometido com a política de resultados. Mas vamos ver quais serão os candidatos em abril, maio. Vamos esperar.”

Candidatura

“Eu sou candidato a fazer um bom governo. Nada mais do que isso.”

Lula

“Não me atreveria a dar uma solução (sobre Lula ser candidato por meio de uma eventual liminar em caso de condenação em segunda instância), digamos, de natureza jurisdicional. Isso está sendo debatido no Supremo (Tribunal Federal, o STF), e vai ser debatido em dado momento. O que posso responder é que, aquele que for contra as reformas, primeiro penso que não terá apoio do eleitorado. Segundo, não terá apoio do governo. Se está se opondo ao que o governo fez, como que o governo vai apoiar? Não tem condições para apoiar isso. Acho, até, que é o único candidato que já se opôs às reformas.”

Petrobras

“(Antes de assumirmos o governo) a Petrobras era uma palavra condenada, digamos assim. Era um vocábulo desprezado. Hoje, não. As ações cresceram e tudo isso foi feito com apoio do Congresso Nacional, dialogando. Temos que acabar com essa história de centralização absoluta.”

Centralização

“Conseguimos inaugurar uma fórmula muito positiva de governo, que foi a atuação conjunta do Executivo e do Legislativo. Não me canso de dizer isso. Vocês sabem, fui três vezes presidente da Câmara. O Legislativo sempre foi tido no nosso sistema uma espécie de apêndice do Executivo. Eu quebrei essa fórmula. Voltei a sustentar que o Legislativo era um parceiro do Executivo, que governa junta. E não digo isso por conta própria ou simplesmente porque penso dessa maneira, mas porque a Constituição assim determina.”

Virtude

“A virtude do nosso governo foi mostrar que, realmente, nós combatemos essa cultura centralizadora que temos. E por isso, desde o primeiro momento, quando assumi, disse que temos que prestar atenção ao princípio da separação de poderes e ao princípio federativo. Tivemos ao longo do tempo uma separação de poderes capenga e um federalismo independente capenga. Então, o que fizemos ao longo deste período: em primeiro lugar, volto a dizer que fizemos uma combinação com o poder Legislativo. A palavra é diálogo. Precisa dialogar com o Congresso. Dialogar com a sociedade. Especialmente não ter nenhuma restrição a quem se opõe a você.”

 

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