Uma cena impensável até outro dia, e para perplexidade geral, marca o país na proximidade das festas de mais uma passagem de ano. Políticos, ex-ministros, empreiteiros, doleiros, gestores públicos, ex-dirigentes da Petrobras, todos fisgados pela Lava-Jato, continuam atrás das grades.
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Ministro da Justiça diz que indulto natalino é impessoal e não prejudica a Lava-jatoIndulto de Natal assinado por Temer foi posição política, diz Torquato JardimIntegram esse rol o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB); dois ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Alves, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima – os três também peemedebistas; o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine; o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto; o ex-ministro petista Antonio Palocci; ex-diretores e gerentes da estatal petrolífera, como Jorge Zelada e Renato Duque; o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS; ex-deputados, como André Vargas (ex-PT-PR), ex-senadores, como Gim Argello (PTB-DF). E por aí vai. A lista é extensa.
Na sexta-feira passada Paulo Maluf (PPS-SP) reforçou o time. Emblemático nome da política, condenado a 7 anos, 9 meses e 10 dias por lavagem de dinheiro que teria desviado dos cofres públicos quando exerceu o mandato de prefeito de São Paulo, ele acaba de entrar na Papuda, onde já estão o ex-senador Luiz Estevão, quase 30 anos de pena por desvios de dinheiro das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, e o ex-ministro Geddel, o homem do famoso bunker de R$ 51 milhões em dinheiro vivo.
Capturado em abril de 2015, Vaccari Neto vai passar o seu terceiro Natal atrás das grades, no Complexo Médico Penal de Pinhais, arredores de Curitiba, base e origem da Lava-Jato. Outros estão recolhidos há menos tempo, caso de Palocci, preso em setembro de 2016, na Omertà.
Um mês depois, passou a fazer companhia ao grupo Eduardo Cunha. Mais um mês adiante, novembro de 2016, foi a vez de Sérgio Cabral, que governou o Rio por oito anos sucessivos e agora já acumula penas de 87 anos de cadeia – a ele impostas pelos juízes federais Sérgio Moro e Marcelo Bretas. Assim, Cunha e Cabral – o primeiro na cadeia de Curitiba, o outro no Rio – experimentam o segundo Natal confinados.
Na Custódia da Polícia Federal em São Paulo estão os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS/J&F.
Muitos já passaram por lá, mas, graças a decisões judiciais – a maioria pelas mãos do ministro Gilmar Mendes, do Supremo –, conseguiram sair da prisão ou pegaram regime domiciliar. É o caso dos ex-governadores Garotinho e Rosinha, do ‘Rei do Ônibus’ Jacob Barata Filho, do ex-bilionário Eike Batista, e da mulher de Sérgio Cabral, Adriana.
No último dia 19, o empreiteiro Marcelo Odebrecht – depois de quase mil dias recolhido – deixou o Complexo de Pinhais. Preso em 19 de junho de 2015, ele passou dois réveillons atrás das grades. Agora, vai ficar em casa os próximos dois anos e meio, com tornozeleira eletrônica. Faz parte do acordo de delação premiada que fez.
Assim como Palocci e Léo Pinheiro, Odebrecht confessou ter cometido crimes.
Indulto
Um dia depois da publicação do decreto que aliviou as regras para o perdão da pena de condenados por crimes cometidos sem violência ou ameaça, como corrupção e lavagem de dinheiro, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse que a decisão do presidente Michel Temer é impessoal e não prejudica a Lava-Jato. A fala é em resposta ao coordenador da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, que afirmou que a medida “é um feirão de Natal para corruptos”. O decreto reduz para um quinto o tempo de cumprimento da pena para que o preso possa receber o benefício, independentemente do tamanho dela. Em 2016, somente os sentenciados a no máximo 12 anos e que já tivessem cumprido um quarto da pena, foram beneficiados.
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