Brasília, 03 - O presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no processo do mensalão, disse que a escolha de sua filha, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), como nova ministra do Trabalho representa um resgate de sua família. O presidente da República, Michel Temer, confirmou a deputada como nova ministra.
Jefferson disse que Temer sugeriu a deputada "da cabeça dele", durante uma conversa em que pensavam coletivamente em quadros do PTB para o cargo. A nomeação deve ser publicada nesta quinta-feira, 3, no Diário Oficial da União. A posse, segundo Jefferson, deve ocorrer na semana que vem, na terça ou quarta-feira. Ela já havia sido sugerida para ocupar o Ministério da Cultura, mas a nomeação não vingou.
Jefferson chorou ao falar com jornalistas na portaria do Palácio do Jaburu, em Brasília. Ele deixava o encontro que selou a nomeação de sua filha como ministra. "É o orgulho, a surpresa, a emoção que me dá. É o resgate, sabe? É um resgate. (O mensalão) já passou. Fico satisfeito", disse Jefferson. "O presidente aceitou. Eu não indiquei. O nome dela surgiu. Não foi uma indicação. Estávamos conversando eu, o presidente Temer e o ministro Padilha, e surgiu o nome da Cristiane Brasil. Nós fizemos uma ligação para o líder Jovair (Arantes), que anuiu a indicação do nome dela e disse que ela tem a confiança da bancada."
O ex-deputado afirmou ter telefonado durante o encontro com Temer para contar à filha da nomeação. Ela não sabia até o momento que seria ministra. Segundo Jefferson, Cristiane Brasil abriu mão de concorrer à reeleição na Câmara dos Deputados, uma das condições impostas pelo Planalto na reforma ministerial. "Ela não concorrerá à reeleição. Ela ficará até o final", disse o presidente do PTB.
O presidente do PTB disse que foi ao Planalto discutir outros três nomes alternativos ao deputado Pedro Fernandes (PTB-MA). A indicação dele foi barrada por Temer, segundo os petebistas, por um veto do ex-presidente José Sarney (PMDB), adversário político de Fernandes e do governador maranhense, Flávio Dino (PCdoB), de quem o filho do deputado é secretário.
"Falamos da situação do deputado Pedro (Fernandes), foi uma coisa chata, mas eu entendi. O deputado Pedro não quis passar por um beija-mão com o presidente Sarney, tudo bem. Aí voltamos a falar no ministro Ronaldo Nogueira, que saiu. O presidente entendeu que ele já tinha cumprido a agenda. Falamos em outros dois companheiros do partido, aí roda para lá e roda pra cá, falei de um nome que surgiu por ação do ministro da Saúde (Ricardo Barros) me dando um nome hoje. Falou 'porque você não pensa num companheiro nossa aqui do Paraná'. E falou 'Roberto, e a Cristiane? Por que não a Cristiane?'. Aí foi da cabeça do presidente. 'Ela é uma menina experimentada, foi secretária municipal em vários governos na cidade do Rio de Janeiro'. Falei 'presidente, aí o senhor me surpreende. Eu vou ter que consultar'. Liguei para ela e ela disse 'pai, eu aceito'", relatou Jefferson.
O ex-deputado afirmou que Pedro Fernandes não tem ressentimentos com o Palácio por causa do veto e vai apoiar a reforma da Previdência. "Essas coisas ficam no passado. Já falei com o deputado Pedro Fernandes não tem ressentimento. Ele vota conosco na reforma da Previdência e outras necessárias à reforma do Estado, a tributária... Não há problema", assegurou Jefferson. "Não há conflito no PTB e que a bancada é média (16 deputados), mas aguerrida e unida." Jefferson elogiou Fernandes e afirmou que o nome dele surgiu durante almoço com o líder Jovair Arantes (PTB-GO) e o ex-ministro demissionário Ronaldo Nogueira (PTB-RS). "Na hora que vem o nome a gente não pensa em desdobramentos com o presidente Sarney. "Pedro não era candidato, é um homem experiente, passou pela vida publica sem sequela e sem nenhuma cicatriz. Nós não pensamos em Sarney. Essa hipótese não veio à cabeça, essas coisas não são programadas assim. É um embaraço."
Roberto Jefferson confirmou que vai se candidatar a deputado federal pelo PTB em São Paulo, segundo ele, a única maneira de fazer o partido "ser grande". "Tenho certeza que eu cumpri o que devia (pena do mensalão), tanto que me apresento a eles de cabeça erguida, olhando o eleitor dentro dos olhos e de cabeça erguida."
Ele negou que o presidente Michel Temer tenha comentado sobre uma reforma ministerial mais ampla antecipada. O petebista também relatou que Temer, que enfrenta complicações de saúde, está com a voz "abafada, surdinada" e magro. "Ele está bem voz surdinada, voz abafada como se tivesse uma surdina na trompa do trompete. Mas está com ótima aparência, está mais magro. Achei o presidente mais magro, mas corado. Não é brincadeira três cirurgias em 40 dias. Já não é mais um menino. Não posso dizer que ele seja um homem de idade provecta, mas já não é mais um menino. Eu que fiz 14 cirurgias sei o que é isso."
(Felipe Frazão)