Brasília, 03 - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, informou que respondeu a demanda da Comissão de Ética da Presidência assim que foi notificado nesta quarta-feira, 3, à tarde e que está tranquilo em relação as suas declarações. "Já assinei a resposta. Em três linhas. Eu informo que não condicionei", afirmou, ressaltando que grifou a palavra "não". "Você acha que eu tenho tempo para perder para ficar respondendo?, concluiu.
Na semana passada, Marun divulgou nota, numa espécie de "tréplica" aos governadores que reagiram à sua recente declaração de que o governo pressiona gestores estaduais e municipais a trabalharem a favor da aprovação da Reforma da Previdência, em troca da liberação de recursos em financiamentos de bancos públicos, como a Caixa.
"A reação daqueles que querem continuar omitindo a participação do governo federal nas ações resultantes de financiamentos obtidos junto aos bancos públicos só se justifica pela intenção de buscar resultados eleitorais exclusivamente para si", escreveu o ministro. "Estes defendem a equivocada tese de que quem recebe financiamentos pratica ações de governo e que quem os concede, não".
Depois das declarações de Marun, sete dos nove governadores do Nordeste enviaram carta aberta ao presidente Michel Temer protestando contra a fala do ministro. No documento, os governadores prometem acionar política e judicialmente os agentes públicos envolvidos, caso a "ameaça" de Marun se confirme.
Marun reiterou que não condicionou apoio a financiamentos e que "inclusive já lancei um desafio público: provem que eu tenha dito isso, não posso perder esse tempo".
Questionado se não ficaria constrangido caso a Comissão lhe dê algum tipo de advertência pela declaração, o ministro afirmou que não. "Com todo o respeito, acredito que a comissão vai atuar no sentido do devido processo legal, vai aguardar que quem acusa prove que eu fiz esse condicionamento. Se, isso ficar provado, que não vai ficar provado, eu entendo que não vai haver nenhuma advertência", disse.
Representação
Na terça, o presidente do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, protocolou uma representação na Comissão de Ética Pública da Presidência da República contra o secretário de Governo pela suposta tentativa do ministro de coagir governadores e parlamentares, com a possível retenção de recursos da Caixa, a apoiar a Reforma da Previdência.
Na avaliação da associação, que reúne categorias como auditores fiscais e analistas do Banco Central, o comportamento do ministro é inaceitável. "Ficamos estarrecidos com as palavras do ministro Marun, que sem nenhuma cerimônia falou em usar recursos de financiamento da CEF para aliciar deputados para votarem a favor da reforma da Previdência. Isso é inconcebível", disse Marques.
Nesta quarta, o presidente da Comissão, Mauro Menezes, assinou eletronicamente a intimação para que o ministro respondesse às acusações num prazo de 10 dias.
(Carla Araújo e Isadora Peron)